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Compra de rádio complica situação de Renan
Senador é suspeito de pagar com dinheiro vivo empresas em nome de laranjas avaliadas em R$ 2,5 milhões, diz revista "Veja'
Assessor do presidente do Senado teria sido emissário de pagamentos feitos em reais e dólares; defesa não comentou as denúncias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A denúncia de que o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL)
seria o dono oculto de duas rádios em Alagoas que teriam sido pagas em dinheiro vivo deverá gerar mais um foco de investigação no Congresso Nacional e tende a complicar ainda mais a situação do presidente do Senado.
A informação de que Renan
usou dinheiro vivo, parte em
dólar, para comprar as rádios
foi publicada na edição deste final de semana da revista "Veja". Conforme a Folha já havia
divulgado em junho, o primo
de Renan Tito Uchôa e um assessor direto do senador, Carlos Ricardo Nascimento Santa
Ritta, aparecem como dirigentes e sócios de duas rádios que
pertenceriam de fato a Renan,
avaliadas em R$ 2,5 milhões. O
senador não declarou as rádios
em seu Imposto de Renda.
Ontem, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP),
afirmou que investigará o caso
a partir da próxima terça-feira
e classificou as denúncias como "gravíssimas".
Um dos relatores do processo contra Renan no Conselho
de Ética, o senador Renato Casagrande (PSB-ES), afirmou
que as denúncias devem ser
agregadas às investigações já
em curso.
O argumento é de que o caso
envolve o patrimônio e movimentação financeira de Renan,
objetos de análise da Polícia
Federal.
"É mais um tijolo na concepção da ética do senador Renan
Calheiros", disse outra relatora
processo no conselho, Marisa
Serrano (PSDB-MS).
Autor da representação contra Renan, o PSOL anunciou
que também pedirá a inclusão
das denúncias no processo.
"O Conselho de Ética tem
autonomia para aditar os fatos
novos às investigações", disse o
líder do partido na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ).
De acordo com a revista, um
dos emissários que teriam sido
usados pelo senador para
transportar o dinheiro é Everaldo França Ferro, assessor
parlamentar de Renan.
Ferro já foi flagrado pela PF
em conversas com o empresário Zuleido Veras, o dono da
construtora Gautama acusado
de chefiar quadrilha que fraudava licitações.
Renan comprou dele um
Mitsubishi -Ferro teve 19 carros registrados em seu nome
nos últimos sete anos.
Negócio
A empreitada de Renan nas
comunicações, segundo a "Veja", teria começado em 1998
numa parceria com o empreiteiro João Lyra, na compra do
grupo O Jornal, que detinha
uma concessão de rádio.
Com o negócio fechado em
R$ 2,6 milhões (R$ 1,3 milhão
para cada um), Lyra teria emprestado R$ 700 mil a Renan,
que não tinha todo a soma na
ocasião. Os pagamentos a Lyra
teriam sido feitos em dinheiro,
às vezes em dólar, e entregues
por Ferro.
Os R$ 650 mil restantes teriam sido pagos em 1999 por
Tito Uchôa. Em 2005, Renan e
Lyra teriam decidido desfazer a
sociedade, ficando o usineiro
com o jornal e Renan com as
concessionárias de rádio.
Na semana retrasada, Renan
viajou para Maceió para defender-se das acusações de que teria contas pessoais pagas por
um lobista da construtora
Mendes Júnior. Deu cinco entrevistas num único dia, todas a
veículos controlados no papel
por seus parentes ou aliados.
As denúncias trazidas pela
revista somam-se a outras duas
reveladas pela Folha nesta semana. Uma delas, de que teria
grilado terras em Murici (AL),
gerou representação apresentada pelo PSOL ao Conselho de
Ética do Senado.
A outra é de que o frigorífico
Mafrial, apontado como intermediário de venda de gado de
suas fazendas para empresas
fantasmas, não tem autorização para negociar carne.
O advogado de Renan,
Eduardo Ferrão, disse apenas
que não havia falado com o senador até o fechamento desta
edição. Por meio de sua assessoria, João Lyra disse que não
iria se manifestar sobre o caso.
A reportagem não conseguiu
localizar Ferro, Santa Ritta
nem Uchôa.
(SILVIO NAVARRO E LEONARDO SOUZA)
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