São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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Compra de rádio complica situação de Renan

Senador é suspeito de pagar com dinheiro vivo empresas em nome de laranjas avaliadas em R$ 2,5 milhões, diz revista "Veja'

Assessor do presidente do Senado teria sido emissário de pagamentos feitos em reais e dólares; defesa não comentou as denúncias

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A denúncia de que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) seria o dono oculto de duas rádios em Alagoas que teriam sido pagas em dinheiro vivo deverá gerar mais um foco de investigação no Congresso Nacional e tende a complicar ainda mais a situação do presidente do Senado.
A informação de que Renan usou dinheiro vivo, parte em dólar, para comprar as rádios foi publicada na edição deste final de semana da revista "Veja". Conforme a Folha já havia divulgado em junho, o primo de Renan Tito Uchôa e um assessor direto do senador, Carlos Ricardo Nascimento Santa Ritta, aparecem como dirigentes e sócios de duas rádios que pertenceriam de fato a Renan, avaliadas em R$ 2,5 milhões. O senador não declarou as rádios em seu Imposto de Renda.
Ontem, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), afirmou que investigará o caso a partir da próxima terça-feira e classificou as denúncias como "gravíssimas".
Um dos relatores do processo contra Renan no Conselho de Ética, o senador Renato Casagrande (PSB-ES), afirmou que as denúncias devem ser agregadas às investigações já em curso.
O argumento é de que o caso envolve o patrimônio e movimentação financeira de Renan, objetos de análise da Polícia Federal.
"É mais um tijolo na concepção da ética do senador Renan Calheiros", disse outra relatora processo no conselho, Marisa Serrano (PSDB-MS).
Autor da representação contra Renan, o PSOL anunciou que também pedirá a inclusão das denúncias no processo.
"O Conselho de Ética tem autonomia para aditar os fatos novos às investigações", disse o líder do partido na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ).
De acordo com a revista, um dos emissários que teriam sido usados pelo senador para transportar o dinheiro é Everaldo França Ferro, assessor parlamentar de Renan.
Ferro já foi flagrado pela PF em conversas com o empresário Zuleido Veras, o dono da construtora Gautama acusado de chefiar quadrilha que fraudava licitações.
Renan comprou dele um Mitsubishi -Ferro teve 19 carros registrados em seu nome nos últimos sete anos.

Negócio
A empreitada de Renan nas comunicações, segundo a "Veja", teria começado em 1998 numa parceria com o empreiteiro João Lyra, na compra do grupo O Jornal, que detinha uma concessão de rádio.
Com o negócio fechado em R$ 2,6 milhões (R$ 1,3 milhão para cada um), Lyra teria emprestado R$ 700 mil a Renan, que não tinha todo a soma na ocasião. Os pagamentos a Lyra teriam sido feitos em dinheiro, às vezes em dólar, e entregues por Ferro.
Os R$ 650 mil restantes teriam sido pagos em 1999 por Tito Uchôa. Em 2005, Renan e Lyra teriam decidido desfazer a sociedade, ficando o usineiro com o jornal e Renan com as concessionárias de rádio.
Na semana retrasada, Renan viajou para Maceió para defender-se das acusações de que teria contas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior. Deu cinco entrevistas num único dia, todas a veículos controlados no papel por seus parentes ou aliados.
As denúncias trazidas pela revista somam-se a outras duas reveladas pela Folha nesta semana. Uma delas, de que teria grilado terras em Murici (AL), gerou representação apresentada pelo PSOL ao Conselho de Ética do Senado.
A outra é de que o frigorífico Mafrial, apontado como intermediário de venda de gado de suas fazendas para empresas fantasmas, não tem autorização para negociar carne.
O advogado de Renan, Eduardo Ferrão, disse apenas que não havia falado com o senador até o fechamento desta edição. Por meio de sua assessoria, João Lyra disse que não iria se manifestar sobre o caso. A reportagem não conseguiu localizar Ferro, Santa Ritta nem Uchôa. (SILVIO NAVARRO E LEONARDO SOUZA)

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