São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2001

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VIA SUSPEITA

Supervisão do lote 4 é a mais cara, embora obra tenha o 2º menor valor inicial; fiscalizadora pertenceu a secretário

Trecho do Rodoanel tem descompasso no valor de fiscalização

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma empresa que pertenceu ao secretário dos Transportes do Estado de São Paulo, Michael Zeitlin, é a dona do maior contrato de fiscalização da obra do Rodoanel -anel viário de 170 km que circundará a cidade de São Paulo, cortando as principais rodovias que dão acesso à cidade.
A Ductor Implantação de Projetos S.A., que também foi do governador Mário Covas, morto em março deste ano, detém contrato de R$ 6 milhões para supervisionar as obras do lote 4 do trecho oeste do Rodoanel, primeiro dos quatro previstos no projeto.
O contrato traz um descompasso: a supervisão do lote 4, a cargo da Ductor, é a de maior valor entre os seis lotes do trecho, embora as obras desse lote tenham o segundo menor valor inicial.
As empresas supervisoras são contratadas para acompanhar a execução da obra, fazer medições e fiscalização. Em junho, um duto da Petrobrás foi furado pela empreiteira Queiroz Galvão, no lote 3, causando polêmica sobre o papel das supervisoras.
A Ductor foi contratada em 1998 pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), por meio de licitação. Michael Zeitlin vendeu sua participação na empresa antes de assumir a secretaria, em julho de 1997. Manteve, entretanto, ações da AMZ Administração e Participações S.A., uma holding que detinha as ações ordinárias (com direito a voto) da Ductor.
Durante exposição à Assembléia Legislativa sobre o Rodoanel, na semana passada, deputados do PT apresentaram cópia de depoimento em que Zeitlin confirma ter mantido participação na empresa AMZ após assumir o comando da secretaria.
A declaração de Zeitlin foi feita neste ano em um processo movido contra ele pelo ex-vereador do PT de Americana (a 128 km de São Paulo) Pedro Álvaro Salvador, que apurava a participação da Ductor na construção de casas populares na cidade.
O lote 4, localizado entre a via Castelo Branco e o município de Santana do Parnaíba, ocupa o quarto lugar em extensão, com 4,9 km. É bem menor que o lote 2, por exemplo, que possui 9,4 km e tem supervisão de R$ 3,9 milhões.
Segundo a Dersa, o valor da fiscalização pago à Ductor está diretamente ligado a um túnel de 650 metros existente no lote. Não é a extensão do túnel que, segundo a Dersa, justifica o valor pago pela supervisão -afinal, há outros dois lotes com túneis, um deles maior que o do lote 4, e ambos têm supervisão mais barata.
O valor seria justificado, segundo a Dersa, devido ao tipo de solo em que o túnel foi construído -pouco rochoso, o que dificulta a sustentação da construção.
A explicação é questionável, especialmente se confrontada com exposição de motivos usada pela própria Dersa para justificar um aditivo contratual de 69,9% assinado em agosto. O documento revela que "a complexidade da escavação dos túneis decorrente dos materiais e das condições no maciço implicaram em intervenções construtivas com incidência não prevista". Ou seja: dificuldades com o túnel da Ductor só foram detectadas após iniciada a obra.
O contrato com a empreiteira Ivaí, responsável pela construção do lote 4, foi assinado em outubro de 98. Com a Ductor, foi fechado no mês anterior, bem antes de a empreiteira iniciar as obras.
O trecho oeste do Rodoanel foi licitado por R$ 338 milhões, mas deve custar mais R$ 237 milhões. O aumento é questionado na Assembléia por superar os 25% permitidos pela lei de licitações.



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