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VIA SUSPEITA
Supervisão do lote 4 é a mais cara, embora obra tenha o 2º menor valor inicial; fiscalizadora pertenceu a secretário
Trecho do Rodoanel tem descompasso no valor de fiscalização
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma empresa que pertenceu ao
secretário dos Transportes do Estado de São Paulo, Michael Zeitlin, é a dona do maior contrato de
fiscalização da obra do Rodoanel
-anel viário de 170 km que circundará a cidade de São Paulo,
cortando as principais rodovias
que dão acesso à cidade.
A Ductor Implantação de Projetos S.A., que também foi do governador Mário Covas, morto em
março deste ano, detém contrato
de R$ 6 milhões para supervisionar as obras do lote 4 do trecho
oeste do Rodoanel, primeiro dos
quatro previstos no projeto.
O contrato traz um descompasso: a supervisão do lote 4, a cargo
da Ductor, é a de maior valor entre os seis lotes do trecho, embora
as obras desse lote tenham o segundo menor valor inicial.
As empresas supervisoras são
contratadas para acompanhar a
execução da obra, fazer medições
e fiscalização. Em junho, um duto
da Petrobrás foi furado pela empreiteira Queiroz Galvão, no lote
3, causando polêmica sobre o papel das supervisoras.
A Ductor foi contratada em
1998 pela Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), por meio de
licitação. Michael Zeitlin vendeu
sua participação na empresa antes de assumir a secretaria, em julho de 1997. Manteve, entretanto,
ações da AMZ Administração e
Participações S.A., uma holding
que detinha as ações ordinárias
(com direito a voto) da Ductor.
Durante exposição à Assembléia Legislativa sobre o Rodoanel, na semana passada, deputados do PT apresentaram cópia de
depoimento em que Zeitlin confirma ter mantido participação na
empresa AMZ após assumir o comando da secretaria.
A declaração de Zeitlin foi feita
neste ano em um processo movido contra ele pelo ex-vereador do
PT de Americana (a 128 km de
São Paulo) Pedro Álvaro Salvador, que apurava a participação
da Ductor na construção de casas
populares na cidade.
O lote 4, localizado entre a via
Castelo Branco e o município de
Santana do Parnaíba, ocupa o
quarto lugar em extensão, com
4,9 km. É bem menor que o lote 2,
por exemplo, que possui 9,4 km e
tem supervisão de R$ 3,9 milhões.
Segundo a Dersa, o valor da fiscalização pago à Ductor está diretamente ligado a um túnel de 650
metros existente no lote. Não é a
extensão do túnel que, segundo a
Dersa, justifica o valor pago pela
supervisão -afinal, há outros
dois lotes com túneis, um deles
maior que o do lote 4, e ambos
têm supervisão mais barata.
O valor seria justificado, segundo a Dersa, devido ao tipo de solo
em que o túnel foi construído
-pouco rochoso, o que dificulta
a sustentação da construção.
A explicação é questionável, especialmente se confrontada com
exposição de motivos usada pela
própria Dersa para justificar um
aditivo contratual de 69,9% assinado em agosto. O documento revela que "a complexidade da escavação dos túneis decorrente dos
materiais e das condições no maciço implicaram em intervenções
construtivas com incidência não
prevista". Ou seja: dificuldades
com o túnel da Ductor só foram
detectadas após iniciada a obra.
O contrato com a empreiteira
Ivaí, responsável pela construção
do lote 4, foi assinado em outubro
de 98. Com a Ductor, foi fechado
no mês anterior, bem antes de a
empreiteira iniciar as obras.
O trecho oeste do Rodoanel foi
licitado por R$ 338 milhões, mas
deve custar mais R$ 237 milhões.
O aumento é questionado na Assembléia por superar os 25% permitidos pela lei de licitações.
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