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Banqueiro vê risco de aumento de tributação
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, 48, considera positiva a aprovação da reforma tributária em primeiro turno na Câmara dos Deputados, mas disse que
ela precisa de aperfeiçoamentos.
Segundo ele, "a reforma abre um
espaço significativo para aumento de tributação através de medida provisória". Para Setubal, o
Congresso agora deveria criar formas de limitar esses aumentos.
Folha - O que o senhor achou da
reforma?
Roberto Setubal - Em primeiro
lugar, acho positivo ter sido aprovada a reforma tributária. Acho
relevante também a competência
demonstrada pelo governo na articulação política do Congresso e
na capacidade de negociação para
a aprovação de duas reformas tão
importantes: a previdenciária e a
tributária. Algumas coisas, no entanto, terão de ser aperfeiçoadas
na reforma tributária.
Folha - O que precisa ser aperfeiçoado?
Setubal - A reforma abre um espaço significativo para aumento
de tributação através de medida
provisória. Eu não sei até que
ponto a Câmara aprovou a reforma consciente do potencial de aumento de tributação que existe no
projeto. Um exemplo gritante foi
a Cide, que era uma contribuição
para combustível e que, com a reforma, pode ser estendida a todos
os bens e serviços. Isso deveria ser
mais ponderado. O Congresso
deve limitar esses aumentos.
Folha - Como limitar?
Setubal - Uma sugestão seria
obrigar que qualquer decisão sobre a criação de novos impostos
fosse feita por lei complementar e
não por medida provisória. Outra
idéia é adotar limites de alíquotas
sobre alguns desses impostos, como foi feito nos casos do imposto
sobre herança, limitado a 15%, e
do ICMS, limitado a 25%. De uma
forma geral, acho positiva a reforma. O caminho é correto. As ressalvas que faço são com o objetivo
de seu aperfeiçoamento. Há muitos aspectos positivos, como a redução dos impostos em cascata.
Folha - O senhor crê que o governo aumentará a carga tributária?
Setubal - O Palocci, hoje [ontem] mesmo, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, reafirmou a intenção do governo de reduzir a
carga tributária a médio e longo
prazos. A reforma não irá contra
o que o governo pretende fazer.
Folha - Os bancos foram prejudicados com a obrigação que consta
da reforma de cobrança da alíquota máxima para as instituições financeiras da contribuição sobre o
lucro líquido?
Setubal - Não sei se isso deveria
constar da Constituição. Uma lei
normal poderia muito bem definir a alíquota da contribuição.
Não precisa estar na Constituição.
Foi um exagero.
Folha - O mercado reagiu bem à
aprovação da reforma?
Setubal - O mercado financeiro
viu muito bem a aprovação da reforma. A continuar nesse ritmo, o
país vai superar vários problemas
que levamos discutindo nos últimos dez anos.
Folha - O senhor acha que o governo Fernando Henrique Cardoso
levou muito tempo discutindo as
reformas?
Setubal - Acho que o país, agora,
está mais amadurecido para fazer
as reformas. Quando se propuseram pela primeira vez as reformas
previdenciária e tributária, há 10
anos, talvez não estivéssemos ainda amadurecidos o suficiente.
Nestes anos, aprendeu-se muito.
Estamos todos muito mais amadurecidos. A discussão ficou mais
racional e menos emocional.
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