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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/MUDANÇA DE REGRAS
Alterações propostas pelo Senado precisam ser aprovadas pela Câmara até o fim de setembro para poderem ser implantadas nas eleições de 2006
Reforma eleitoral corre contra o tempo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sempre ressuscitada em momentos de crise, a reforma político-eleitoral deve ficar restrita ao
fim da chamada verticalização
-ou nem isso. Os outros itens
em debate não devem ser aprovados por absoluta falta de tempo
do plenário da Câmara, onde tramitam as propostas.
Para entrar em vigor na eleição
de 1º de outubro de 2006, é necessário que as novas regras sejam
aprovadas até 30 de setembro
-um ano antes do pleito. Trata-se de uma exigência estabelecida
pela Constituição.
Já o fim da verticalização -regra que exige a coerência entre as
alianças para presidente e para
governadores de Estado- é uma
proposta de emenda constitucional. Pode ser aprovada a qualquer
tempo, entrando em vigor imediatamente. Mesmo assim, não há
previsão de data para a votação.
Se nada for votado, o Brasil terá
em 2006 sua primeira eleição presidencial pós-ditadura militar
(1964-1985) com a mesma legislação do pleito anterior. Em 1989,
1994, 1998 e 2002 as regras sempre
foram diferentes.
Este mês de setembro será mais
curto que o usual em matéria de
votações. Não haverá sessão deliberativa na Câmara na Semana da
Pátria (de hoje até sexta-feira).
Por duas razões: quarta-feira é feriado e o presidente da Câmara,
Severino Cavalcanti (PP-PE), passará alguns dias em Nova York
participando de uma reunião preparatória da Assembléia Geral da
ONU (Organização das Nações
Unidas).
A rigor, o mês de setembro só
começa para os deputados no dia
12. Na prática, mesmo, só no dia
13, uma terça-feira. Ocorre que
nessa semana a Câmara estará tomada pelo processo de cassação
do deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ), que pode ir a plenário
no dia 14.
Além da decisão sobre Roberto
Jefferson, os deputados ficarão à
espera da palavra da Mesa Diretora da Câmara sobre a lista de 18
cassáveis elaborada pelas CPIs
dos Correios e do Mensalão. Em
seguida, os processos serão abertos -ou não- no Conselho de
Ética da Casa.
Mesmo que os deputados consigam se desvencilhar dos assuntos
relacionados à cassação de mandatos, terão de enfrentar outro
problema: as oito medidas provisórias e os três projetos com urgência constitucional que estão
trancando a pauta.
Só depois de votar as MPs e os
projetos urgentes é que os deputados poderão apreciar uma
eventual reforma político-eleitoral. É impossível prever se a pauta
será destrancada. Há temas polêmicos em debate, como a MP do
Bem (sobre redução de impostos)
e a medida que cria a chamada
"Super-Receita" (integrando vários organismos de fiscalização).
Proposta do Senado
Se os deputados conseguirem
transpor esses obstáculos a tempo
de votar alguma coisa até do dia
30, é certo que entraria na pauta o
projeto aprovado pelo Senado em
agosto. Trata-se de um conjunto
de medidas cujo objetivo é reduzir os custos das campanhas eleitorais e tornar menos provável o
uso de caixa dois.
Entre outros itens, a chamada
minirreforma eleitoral determina
várias proibições. Ficam vedados,
por exemplo, showmícios e distribuição de qualquer tipo de brinde
aos eleitores (como camisetas, bonés e broches). Também estariam
extintas as cenas externas nos
programas eleitorais. O candidato
ficaria obrigado a aparecer apenas
com um fundo neutro e o símbolo
de seu partido.
A minirreforma do Senado tem
algumas medidas ainda mais polêmicas. Proíbe a publicação de
resultados de pesquisas eleitorais
nos 15 dias anteriores ao pleito. A
campanha fica reduzida de 90
dias para 60 dias. O horário eleitoral em rádio e TV cai de 45 dias
para 35 dias.
Apresentada como uma redução drástica de custos, essa minirreforma tem grande aceitação entre os congressistas porque beneficia a quem já está com mandato.
A campanha mais curta torna
mais difícil para políticos novatos,
desconhecidos do grande público, conseguirem uma brecha para
se eleger.
A proposta do Senado está na
Câmara e precisa primeiro ser
aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o que pode acontecer apenas na segunda
quinzena deste mês. Só então poderia ser encaminhada ao plenário para votação.
Por conter apenas itens acessórios -nenhum mexendo no projeto de reeleição dos atuais congressistas-, a minirreforma do
Senado é vista pela maioria como
uma forma de "dar uma satisfação à sociedade", nas palavras do
presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), um dos
18 citados no relatório das CPIs.
Seria uma forma eficaz de o
Congresso dizer que aprovou alguma alteração na legislação eleitoral por causa da crise política
causada pelo escândalo do "mensalão". Mesmo que o resultado seja pequeno, os efeitos da mudança sobre a opinião pública só serão conhecidos depois da eleição
do ano que vem.
(FERNANDO RODRIGUES)
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