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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS
Para comissão, consultoria mediou propina da GTech para grupo de Waldomiro; empresas negam
CPI investiga empresa que recebeu R$ 5 mi da GTech
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
A CPI dos Bingos vasculha a
movimentação financeira da MM
Consultoria Jurídica, empresa de
Belo Horizonte que recebeu
R$ 5,09 milhões da multinacional
GTech entre dezembro de 2002 e
junho de 2003.
A suspeita da CPI é que a MM
tenha sido usada como laranja pela GTech para pagamento de propina ao chamado "grupo do Rio",
supostamente comandado por
Waldomiro Diniz, ex-assessor do
deputado José Dirceu (PT-SP) na
Casa Civil até fevereiro de 2004.
Segundo a CPI, a propina teria
garantido a renovação do contrato de R$ 650 milhões da GTech
com a Caixa Econômica Federal
em abril de 2003. A multinacional,
que opera as loterias da Caixa, nega. Afirma que apenas pagou por
serviços de advocacia, versão repetida pela MM.
O presidente da CPI, senador
Efraim Morais (PFL-PB), disse
que a MM Consultoria é uma "laranja vip". O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que a
análise das contas da MM é prioridade para esclarecer se houve
pagamento de propina. Efraim
acrescenta que a empresa "não tinha nome" para ser contratada
por uma multinacional.
Por enquanto, a CPI identificou
três pessoas que fizeram ao menos 150 saques em 2003, descontando no banco cheques emitidos
pela MM em valores variando de
R$ 5.000 a R$ 100 mil.
Assessor da Secom (Secretaria
de Comunicação de Governo) de
outubro de 2003 a 15 de junho
deste ano, o advogado Marcelo
Coelho de Aguiar, tem oficialmente 30% da MM. O sócio majoritário é o também advogado
Walter Santos Neto. Aguiar afirma que desde 1997 está afastado
da empresa sem receber dinheiro.
Dizendo-se isento de Imposto
de Renda em declarações relativas
a 2001 e 2002, o outro sócio, Santos Neto informou à Receita Federal que recebeu R$ 10,6 milhões de
lucro e dividendos da MM em
2003 e 2004. Mas, na conta bancária do advogado, segundo a CPI,
foram movimentados nesse período apenas R$ 3,5 milhões.
Em depoimento à CPI, Santos
Neto não soube explicar onde
gastou o dinheiro que não entrou
em sua conta no banco, ou seja,
cerca de R$ 7 milhões. A CPI quer
saber o destino dessa quantia.
Outro personagem da investigação, o advogado Rogério Buratti diz que a GTech ofereceu a ele
propina, de até R$ 16 milhões, a
ser repassada ao PT em troca de
vantagens na renovação do contrato com a Caixa. Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão
Preto entre 1993 e 1994, quando o
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) era o prefeito.
Ele diz que a GTech queria a ajuda de Palocci, mas o ministro recusou qualquer interferência.
Em depoimento à Polícia Civil
no mês passado, Buratti disse que
o contato entre ele e Palocci era o
então consultor da Presidência da
Caixa Econômica Ralf Barquete
dos Santos (morto em junho de
2004). Barquete foi secretário de
Fazenda na segunda gestão de Palocci em Ribeirão, de 2001 a 2002.
Buratti suspeita que, como o
contrato foi renovado mesmo
sem apoio do ministro, a GTech
tenha obtido resultado favorável
com o chamado "grupo do Rio",
de Waldomiro Diniz.
A diretoria da GTech nega as
negociações, mas confirma que
Waldomiro procurou a empresa
tentando uma interferência no
negócio com a Caixa no início de
2003. Na ocasião, Waldomiro foi
apresentado pelo empresário
Carlinhos Cachoeira, do ramo de
jogos. Em fevereiro de 2004, Waldomiro deixou a Casa Civil quando foi divulgada uma fita de vídeo
em que aparecia tentando extorquir Cachoeira em 2002, ano em
que Waldomiro era presidente da
Loterj (Loteria do Estado do Rio).
Ainda segundo Buratti, Waldomiro captou no Rio dinheiro dos
bingos para a campanha de Lula
em 2002 em troca da regularização do jogo. Buratti disse, na CPI
dos Bingos, ter ouvido de Barquete que empresas de jogos doaram
R$ 2 milhões para a campanha.
Em mensagem de Lula ao Congresso em 2003, o governo manifestava a intenção de regulamentar as casas de bingo. A proposta
naufragou após a divulgação do
vídeo envolvendo Waldomiro.
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