São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CPI DOS BINGOS

Para comissão, consultoria mediou propina da GTech para grupo de Waldomiro; empresas negam

CPI investiga empresa que recebeu R$ 5 mi da GTech

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

A CPI dos Bingos vasculha a movimentação financeira da MM Consultoria Jurídica, empresa de Belo Horizonte que recebeu R$ 5,09 milhões da multinacional GTech entre dezembro de 2002 e junho de 2003.
A suspeita da CPI é que a MM tenha sido usada como laranja pela GTech para pagamento de propina ao chamado "grupo do Rio", supostamente comandado por Waldomiro Diniz, ex-assessor do deputado José Dirceu (PT-SP) na Casa Civil até fevereiro de 2004.
Segundo a CPI, a propina teria garantido a renovação do contrato de R$ 650 milhões da GTech com a Caixa Econômica Federal em abril de 2003. A multinacional, que opera as loterias da Caixa, nega. Afirma que apenas pagou por serviços de advocacia, versão repetida pela MM.
O presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que a MM Consultoria é uma "laranja vip". O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que a análise das contas da MM é prioridade para esclarecer se houve pagamento de propina. Efraim acrescenta que a empresa "não tinha nome" para ser contratada por uma multinacional.
Por enquanto, a CPI identificou três pessoas que fizeram ao menos 150 saques em 2003, descontando no banco cheques emitidos pela MM em valores variando de R$ 5.000 a R$ 100 mil.
Assessor da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo) de outubro de 2003 a 15 de junho deste ano, o advogado Marcelo Coelho de Aguiar, tem oficialmente 30% da MM. O sócio majoritário é o também advogado Walter Santos Neto. Aguiar afirma que desde 1997 está afastado da empresa sem receber dinheiro.
Dizendo-se isento de Imposto de Renda em declarações relativas a 2001 e 2002, o outro sócio, Santos Neto informou à Receita Federal que recebeu R$ 10,6 milhões de lucro e dividendos da MM em 2003 e 2004. Mas, na conta bancária do advogado, segundo a CPI, foram movimentados nesse período apenas R$ 3,5 milhões.
Em depoimento à CPI, Santos Neto não soube explicar onde gastou o dinheiro que não entrou em sua conta no banco, ou seja, cerca de R$ 7 milhões. A CPI quer saber o destino dessa quantia.
Outro personagem da investigação, o advogado Rogério Buratti diz que a GTech ofereceu a ele propina, de até R$ 16 milhões, a ser repassada ao PT em troca de vantagens na renovação do contrato com a Caixa. Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto entre 1993 e 1994, quando o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) era o prefeito.
Ele diz que a GTech queria a ajuda de Palocci, mas o ministro recusou qualquer interferência.
Em depoimento à Polícia Civil no mês passado, Buratti disse que o contato entre ele e Palocci era o então consultor da Presidência da Caixa Econômica Ralf Barquete dos Santos (morto em junho de 2004). Barquete foi secretário de Fazenda na segunda gestão de Palocci em Ribeirão, de 2001 a 2002.
Buratti suspeita que, como o contrato foi renovado mesmo sem apoio do ministro, a GTech tenha obtido resultado favorável com o chamado "grupo do Rio", de Waldomiro Diniz.
A diretoria da GTech nega as negociações, mas confirma que Waldomiro procurou a empresa tentando uma interferência no negócio com a Caixa no início de 2003. Na ocasião, Waldomiro foi apresentado pelo empresário Carlinhos Cachoeira, do ramo de jogos. Em fevereiro de 2004, Waldomiro deixou a Casa Civil quando foi divulgada uma fita de vídeo em que aparecia tentando extorquir Cachoeira em 2002, ano em que Waldomiro era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio).
Ainda segundo Buratti, Waldomiro captou no Rio dinheiro dos bingos para a campanha de Lula em 2002 em troca da regularização do jogo. Buratti disse, na CPI dos Bingos, ter ouvido de Barquete que empresas de jogos doaram R$ 2 milhões para a campanha. Em mensagem de Lula ao Congresso em 2003, o governo manifestava a intenção de regulamentar as casas de bingo. A proposta naufragou após a divulgação do vídeo envolvendo Waldomiro.


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