São Paulo, quarta-feira, 05 de setembro de 2007

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Lacerda diz que sofreu pressões de políticos para nomear na PF

Folha apurou que o ex-deputado José Janene (PP) foi quem pressionou para indicar o nome do diretor da polícia no Paraná; ele não respondeu à acusação

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sabatina no Senado para assumir a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o ex-diretor da PF Paulo Lacerda disse ontem que sofreu pressão para afilhados políticos de parlamentares na instituição.
"Tive pressões políticas, sim, inclusive de parlamentares, alguns dos quais foram investigados e que hoje estão sendo processados", respondeu Lacerda, diante do questionamento do senador Marcelo Crivela (PR-RJ), sobre como evitaria indicações políticas para a Abin.
Em entrevista, Lacerda disse que a pressão partira de "um parlamentar do Paraná" e que ele nunca aceitou este tipo de atitude. A Folha apurou que se trata do deputado aposentado José Janene (PP), que tentou indicar o superintendente regional da PF naquele Estado. Janene não respondeu a recados da Folha na caixa postal do celular nem com a assessoria de imprensa do PP em Brasília.
Lacerda disse ter recebido "carta branca" de Lula e do general Jorge Félix, ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ao qual a Abin é subordinada.
Em sua apresentação aos senadores, que aprovaram por 15 votos a favor e 2 contra a sua indicação, o delegado disse que sua prioridade é promover a reestruturação da agência.
Questionado sobre como vai conter eventuais excessos da Abin, principalmente na prática de supostos grampos ilegais, Lacerda respondeu: "Sou um legalista. Se existe esse propalado uso de escutas clandestinas -e eu acho que não tem-, vão ter problemas".
Ainda ao falar sobre escutas, Lacerda comentou reportagem da revista "Veja", há duas semanas, na qual cinco ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) suspeitavam terem sido alvo de grampos ilegais feitos pela "banda podre" da PF. "A matéria foi leviana. Fez uma colcha de retalhos, mas não esclareceu", disse.
Segundo Lacerda, a "Veja" foi informada de que as suspeitas do ministro Marco Aurélio Mello eram infundadas, pois a PF, com base em investigação, concluíra que ele não fora alvo de grampo. "A revista teve essa informação e colocou em duas linhas. Se houvesse dignidade do repórter e dos dirigentes do veículo, não teria saído daquela maneira." A editora Abril não comentou as declarações.
Outro tema recorrente na sabatina foram as críticas contra suposta superexposição da PF em operações.
Ao assumir o comando da instituição, anteontem, o novo diretor-geral do órgão, delegado Luiz Fernando Corrêa, disse que "o destaque da atuação da PF não deve ser uma imagem, mas o conteúdo da prova e da prisão. É mais do que ver uma pessoa sendo jogada dentro de um camburão".
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que sabatinou Lacerda, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) criticou Corrêa: "O que o novo diretor-geral da PF quis dizer com isso? Que houve vedetismo? Prefiro conviver com exageros cometidos pela PF do que com o silêncio provocado pelo cerceamento da liberdade de imprensa".
Já o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) criticou a exposição da intimidade das pessoas. Ainda assim defendeu que a Abin possa usar, se aprovado pelo Congresso, escutas em casos de ameaça de ataques terroristas ou de sabotagem.
A indicação ainda passará pelo plenário do Senado. Na comissão, o sabatinado foi elogiado. O mais contundente foi o senador Mão Santa (PMDB-PI): "Deus colocou Moisés, Davi e agora colocou o senhor [Lacerda] na Abin".


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