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Lacerda diz que sofreu pressões de políticos para nomear na PF
Folha apurou que o ex-deputado José Janene (PP) foi quem pressionou para indicar o nome do diretor da polícia no Paraná; ele não respondeu à acusação
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sabatina no Senado para
assumir a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o ex-diretor da PF Paulo Lacerda disse
ontem que sofreu pressão para
afilhados políticos de parlamentares na instituição.
"Tive pressões políticas, sim,
inclusive de parlamentares, alguns dos quais foram investigados e que hoje estão sendo processados", respondeu Lacerda,
diante do questionamento do
senador Marcelo Crivela (PR-RJ), sobre como evitaria indicações políticas para a Abin.
Em entrevista, Lacerda disse
que a pressão partira de "um
parlamentar do Paraná" e que
ele nunca aceitou este tipo de
atitude. A Folha apurou que se
trata do deputado aposentado
José Janene (PP), que tentou
indicar o superintendente regional da PF naquele Estado.
Janene não respondeu a recados da Folha na caixa postal do
celular nem com a assessoria
de imprensa do PP em Brasília.
Lacerda disse ter recebido
"carta branca" de Lula e do general Jorge Félix, ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ao qual
a Abin é subordinada.
Em sua apresentação aos senadores, que aprovaram por 15
votos a favor e 2 contra a sua
indicação, o delegado disse que
sua prioridade é promover a
reestruturação da agência.
Questionado sobre como vai
conter eventuais excessos da
Abin, principalmente na prática de supostos grampos ilegais,
Lacerda respondeu: "Sou um
legalista. Se existe esse propalado uso de escutas clandestinas -e eu acho que não tem-,
vão ter problemas".
Ainda ao falar sobre escutas,
Lacerda comentou reportagem
da revista "Veja", há duas semanas, na qual cinco ministros
do STF (Supremo Tribunal Federal) suspeitavam terem sido
alvo de grampos ilegais feitos
pela "banda podre" da PF. "A
matéria foi leviana. Fez uma
colcha de retalhos, mas não esclareceu", disse.
Segundo Lacerda, a "Veja"
foi informada de que as suspeitas do ministro Marco Aurélio
Mello eram infundadas, pois a
PF, com base em investigação,
concluíra que ele não fora alvo
de grampo. "A revista teve essa
informação e colocou em duas
linhas. Se houvesse dignidade
do repórter e dos dirigentes do
veículo, não teria saído daquela
maneira." A editora Abril não
comentou as declarações.
Outro tema recorrente na sabatina foram as críticas contra
suposta superexposição da PF
em operações.
Ao assumir o comando da
instituição, anteontem, o novo
diretor-geral do órgão, delegado Luiz Fernando Corrêa, disse
que "o destaque da atuação da
PF não deve ser uma imagem,
mas o conteúdo da prova e da
prisão. É mais do que ver uma
pessoa sendo jogada dentro de
um camburão".
Presidente da Comissão de
Relações Exteriores e Defesa
Nacional, que sabatinou Lacerda, o senador Heráclito Fortes
(DEM-PI) criticou Corrêa: "O
que o novo diretor-geral da PF
quis dizer com isso? Que houve
vedetismo? Prefiro conviver
com exageros cometidos pela
PF do que com o silêncio provocado pelo cerceamento da liberdade de imprensa".
Já o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) criticou a exposição da intimidade das pessoas. Ainda assim defendeu
que a Abin possa usar, se aprovado pelo Congresso, escutas
em casos de ameaça de ataques
terroristas ou de sabotagem.
A indicação ainda passará
pelo plenário do Senado. Na
comissão, o sabatinado foi elogiado. O mais contundente foi
o senador Mão Santa (PMDB-PI): "Deus colocou Moisés, Davi e agora colocou o senhor [Lacerda] na Abin".
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