São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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"É uma barbaridade", afirma desembargador sobre a oferta

do enviado especial

"É uma barbaridade", reagiu o desembargador Moacir Guimarães, vice-presidente da comissão que cuida de adoções no Paraná, ao saber que a Limiar oferecia crianças pela Internet.
A oferta de crianças, seja pela Internet ou em vídeo, é ilegal porque cabe ao Judiciário escolher os pais, segundo Mendonça. A legislação visa atender o interesse da criança -não o dos pais. "Nossas crianças não podem ficar expostas como num supermercado", diz. "Não são mercadoria."

Folha - O sr. conhece a Limiar?
Moacir Guimarães -
A Limiar tem prestado bons serviços ao programa de adoção do Paraná.

Folha - Por quê?
Guimarães -
Porque eles trabalham do nosso jeito de trabalhar. A Comissão Estadual Judiciária de Adoção prioriza a adoção nacional. Não tendo casal nacional para adotar aquela criança, a gente prefere que, em vez de ela ficar ajuizada, dar para um casal internacional. Primeiro tenta-se colocar a criança no seio da própria família. Não conseguindo, tenta-se colocar num casal nacional. Em terceiro lugar, colocamos a criança para adoção internacional. A Limiar apresenta casais que servem para cuidar dessas crianças.

Folha - O sr. já viu a página da Limiar na Internet?
Guimarães -
Não.

Folha - O sr. acha legal oferecer crianças pela Internet?
Guimarães -
Não e não. Nossas crianças não podem ficar expostas como num supermercado. Inclusive, os pais jamais escolhem uma criança. Nós é que escolhemos o casal para as crianças.

Folha - O sr. sabia que a Limiar oferece crianças pela Internet?
Guimarães -
Não sabia. Garanto ao sr. que nenhuma criança paranaense está sendo oferecida pela Limiar. O sr. tem conhecimento de alguma criança do Paraná?

Folha - Salvo engano, são todas do Paraná.
Guimarães -
Uhnnn...

Folha - Há duas formas de oferta: em textos pela Internet e, numa segunda etapa, em fita de vídeo. Estou com uma fita de vídeo em que a Limiar oferece 76 crianças do Paraná.
Guimarães -
Nenhuma entidade pode escolher e oferecer crianças. As crianças não são mercadorias. Jamais um casal, nacional ou estrangeiro, escolheu crianças.

Folha - O sr. considera ético uma entidade pedir uma doação de US$ 5.500 para intermediar uma adoção?
Guimarães -
Não, porque a adoção é absolutamente gratuita. O casal não paga nada.

Folha - Os US$ 5.500 aparecem como doação, mas descobrimos que a doação é compulsória.
Guimarães -
Isso é totalmente contrário aos nossos princípios. Nós fazemos adoção não para atender o casal, mas para atender nossa criança.

Folha - A oferta e o vídeo seriam ilegais?
Guimarães -
Isso contraria a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Folha - Uma criança é oferecida da seguinte forma: "É como o Mandela aos 12 anos".
Guimarães -
É uma barbaridade. A imagem que a gente tinha da Limiar era muito boa. Jamais o juizado de menores soube que havia oferta de um rol de crianças.



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