São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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INVESTIGAÇÃO

Autor de denúncias contra autoridades no Espírito Santo se recusa a detalhar investigações

Delegado volta a acusar membros de CPI

PATRÍCIA ANDRADE
enviada especial a Vitória

O delegado Francisco Vicente Badenes Júnior, autor de um relatório sobre crime organizado no Espírito Santo, depôs, pela segunda vez, na CPI que apura a ação de grupos de extermínio e novamente se recusou a dar mais detalhes a respeito de suas investigações.
No relatório elaborado por Badenes constam vários organogramas com nomes de pessoas supostamente vinculadas ao crime organizado no Estado. O ministro da Defesa, Élcio Álvares (PFL), aparece em dois desses gráficos.
O argumento para se manter calado foi o de que integrantes da CPI têm ligações com a Scuderie Detetive Le Cocq, sucedânea do esquadrão da morte capixaba. Badenes já havia dito que os deputados Gilson Lopes (PFL) e Gilson Gomes (PPS) tinham sido membros da entidade.
Ontem, ele colocou sob suspeição a atuação do próprio presidente da comissão, Enivaldo dos Anjos (PDT), e do deputado Luiz Pereira Nascimento (PFL). Segundo Badenes, Anjos é amigo do prefeito de Cariacica, Dejair Cabo Camata, outro acusado de ligação com grupos de extermínio.
Já em relação a Nascimento, o delegado disse que ele é apontado como suspeito de ser o mandante de diversos assassinatos e de ter "estreita vinculação com a Scuderie Detetive Le Cocq".
"Eu não sou amigo do cabo Camata, apenas o conheço, porque ele é uma figura pública", disse o presidente da comissão.
O delegado foi ao depoimento armado com uma pistola de calibre 40 (de uso restrito da polícia) e de um revólver 38. Ele afirmou ter autorização da Secretaria de Segurança Pública para usar armas e disse que estava com revólveres por "temer represálias" por parte de integrantes da CPI.
Diante disso, Anjos pediu para que seguranças da Casa fizessem uma revista em todos os presentes. Ninguém portava armas.
Nas poucas ocasiões em que respondeu às perguntas dos deputados, Badenes limitou-se a afirmar que suas conclusões sobre a atuação dos grupos de extermínio estavam no relatório sobre a morte do advogado Carlos Batista de Freitas, assassinado em 1992. Quando questionado sobre os organogramas e sobre o possível envolvimento de Álvares e do presidente da Assembléia, Carlos Gratz, no crime organizado, o delegado disse apenas que costuma "fazer diagramas de correlações".
"A minha conclusão está subscrita nos autos do inquérito sobre a morte de Carlos Batista. Pedi a prisão de uma dezena de pessoas. Os organogramas estão lá, descritos no relatório. Agora, as conclusões que estão tirando é da responsabilidade de quem está divulgando esse relatório", afirmou.
O presidente da CPI ficou em cima do muro em relação à possibilidade de convocar Álvares e Gratz para depor. "Se o plenário decidir, qualquer pessoa pode prestar esclarecimentos, até mesmo o presidente da República."
O relatório que Badenes enviou à CPI é uma peça de quase 300 páginas. No final, o delegado sugere o indiciamento de 14 pessoas que estariam envolvidas em crimes que têm relação entre si. Além de Álvares e Gratz, aparecem nos gráficos nomes como o do ex-governador do Espírito Santo Albuíno Azeredo, do prefeito Cabo Camata e do desembargador Correia Lima.
Ele não pediu o indiciamento de nenhuma dessas pessoas.


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