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PT defende que estatal assuma prejuízo cambial
ÉRICA FRAGA
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Caso vença as eleições presidenciais, o PT (Partido dos Trabalhadores) deverá usar as empresas
estatais como instrumento de política econômica.
Em entrevista à Folha, Guido
Mantega, um dos principais assessores econômicos do PT, diz
que está em estudo, por exemplo,
a possibilidade de que a Eletrobrás absorva parte dos custos que
tem com a alta do dólar, evitando
assim o repasse da pressão cambial para as tarifas de energia elétrica. Medida parecida poderia ser
tomada em relação à Petrobras.
"Pretendemos renegociar a forma como são reajustados os preços administrados para controlar
a inflação. Não haverá quebra
unilateral de contrato", diz Mantega.
Ele ressalvou falar em caráter
pessoal, mas medida parecida foi
sugerida de passagem por Luiz
Inácio Lula da Silva no debate da
Rede Globo, anteontem.
Hoje, os contratos feitos com
empresas energéticas privadas
prevêem indexação ao dólar -se
a moeda norte-americana sobe, a
tarifa sobe também. A idéia seria
"expurgar" a variação cambial
dos contratos.
Segundo Mantega, a medida
abriria espaço para que as empresas distribuidoras de energia tivessem acesso a preços mais baixos e aceitassem negociar a troca
do índice inflacionário que usam
para corrigir o preço final ao consumidor. Hoje, o índice usado é o
IGP-M, medido pela Fundação
Getúlio Vargas, que sofre bastante
as consequências da alta do dólar,
devido à sua composição.
"A idéia é negociar a troca desse
deflator por outro que sofra menos com a alta do dólar", afirma
Mantega.
Polêmica
O problema dessa proposta, segundo economistas, é que a absorção de prejuízos com a alta do
dólar pelas estatais traria um aumento de gastos por parte do governo. Isso prejudicaria o ajuste
fiscal em curso.
A meta de superávit primário
(resultado das receitas menos as
despesas do governo, sem incluir
os gastos com juros) acordada
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para 2003 é de 3,75%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Mantega rebate essa crítica dizendo que o ajuste fiscal não seria
afetado porque o prejuízo das
empresas estatais pode ser evitado por meio da contratação de
operações de proteção cambial-
o chamado "hedge":
"Agora, estou cobra em mercado financeiro. A Eletrobrás pode
assumir os prejuízos com a alta do
dólar e repassar para os preços
apenas os custos que teria para fazer uma operação de "hedge",
que são mais baixos", afirma o assessor do PT.
Segundo Mantega, o controle de
preços administrados permitiria
uma redução da taxa de inflação
e, consequentemente, da taxa de
juros. "Hoje, os preços administrados são responsáveis por algo
entre 2,5% a 3% de inflação. Isso
dificulta a queda dos juros", afirma.
Revisão de metas
Na opinião do assessor do PT isso criará as condições para que a
economia brasileira volte a crescer. Para o próximo ano, espera
expansão do PIB (Produto Interno Bruto) entre 3% e 3,5%.
Mais crescimento econômico,
segundo Mantega, garantirá uma
maior arrecadação do governo e
uma melhora da situação das
contas públicas.
Por isso, o economista acredita
que já, no fim do ano que vem,
um eventual governo petista já terá condições de renegociar a meta
de superávit primário de 3,75%
do PIB acordada com o FMI para
2004 e 2005.
"Nosso objetivo é sentar e renegociar uma redução dessa meta
no fim do ano que vem", afirma
Mantega.
De acordo com o assessor petista, a questão da renegociação dos
contratos estará no topo da lista
de prioridades de Lula. "Imagino
que isso seja assunto já para o
eventual período de transição."
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