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Choque de credibilidade com Serra
GESNER OLIVEIRA
José Serra é, de longe, o melhor
candidato para presidir o país na
atual situação de incerteza interna
e externa. O preço do dólar e o
prêmio de risco estão muito além
daquilo que justificariam os indicadores econômicos. Isso se deve
a uma razão simples: a dúvida
quanto às políticas do futuro presidente em relação à estabilidade
da economia.
A vitória de José Serra representará o compromisso efetivo com
os três pilares indispensáveis para
o Brasil rechaçar o passado de pacotes e hiperinflação: a austeridade nas contas públicas, a determinação de manter as metas de inflação e um regime de câmbio flutuante sem artificialismos.
As demais candidaturas não
reúnem um mínimo de credibilidade diante desses compromissos. Ou porque ainda objetam um ou mais dos pilares da política de
estabilidade; ou porque foram recém convertidas a ela e, na melhor
das hipóteses, precisarão de tempo para demonstrar coerência
com a retórica de campanha, bem
como proficiência na gestão da
máquina pública federal. Um
tempo caro demais em termos de
produção e emprego. Um tempo
de que o país não dispõe.
A vantagem da candidatura Serra não se restringe, contudo, ao
curtíssimo prazo e à possibilidade
de estourar a bolha especulativa
dos últimos meses mediante um
choque de credibilidade.
José Serra tem um plano detalhado e consistente de como romper com o círculo vicioso de prêmio de risco elevado, juros altos e
consequente inibição do investimento produtivo e do emprego.
Quatro elementos articulados
devem transformar o atual círculo
vicioso em um círculo virtuoso de
crescimento sustentado: a promoção sistemática das exportações e a substituição competitiva
de importações, a reforma tributária, a melhoria da infra-estrutura e a criação de instrumentos de
financiamento de longo prazo.
Em contraste, as demais candidaturas, nas melhores vertentes,
contêm críticas ao modelo genericamente rotulado de neoliberal,
mas são parcimoniosas nas propostas concretas para o futuro.
Por fim, a situação internacional não recomenda experimentação. Não bastasse a tensão no Oriente Médio, o Brasil está prestes a ingressar em uma das mais
difíceis e complexas negociações
da história do comércio mundial,
envolvendo negociações simultâneas nos âmbitos da OMC (Organização Mundial do Comércio), do acordo Mercosul/União Européia, da Área de Livre Comércio
das Américas (Alca), da reestruturação do Mercosul e, por último
e não menos importante, de urgentes acordos bilaterais com países como a África do Sul, a China e
a Rússia. José Serra protagonizou
uma das ações de maior êxito na
OMC na questão das patentes durante sua gestão no Ministério da
Saúde. Em contraste, os demais
candidatos têm escassa experiência internacional.
O eleitor exercerá em breve uma
escolha democrática decisiva para
os rumos do desenvolvimento
brasileiro. O voto em José Serra
representa o aprofundamento da
mudança, a superação do populismo e do corporativismo do passado e a possibilidade de crescimento sustentado com diminuição das desigualdades regionais e
sociais. Não é por outra razão sua
vitória nas urnas há de atenuar as
atuais pressões especulativas.
Gesner Oliveira, coordenador do programa econômico de José Serra, é doutor em economia pela Universidade da
Califórnia (Berkeley), professor da FGV-Eaesp e ex-presidente do Cade.
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