São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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SÃO PAULO

Argumento é ouvido por Genoino

Empresários temem excesso de poder do PT

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dianteira de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial, o crescimento de José Genoino na disputa de São Paulo e o mandato de Marta Suplicy na prefeitura paulistana acenderam um sinal amarelo no empresariado: o PT tem a possibilidade de assumir três dos seis maiores Orçamentos da República.
Foi esse argumento que diferentes empresários utilizaram em conversas com o próprio Genoino e com o candidato ao Senado Aloizio Mercadante (PT-SP) para negar apoio, inclusive financeiro, para a campanha petista ao governo de São Paulo. Lanterninha entre os mais competitivos do início da campanha, ele disputa o segundo lugar com o pepebista Paulo Maluf.
Segundo Genoino, um dos empresários lhe mostrou três dedos da mão e disse: "Não tenho nada contra você, mas dar os três maiores Orçamentos da República para o PT é demais".
Ainda na versão do candidato petista, esse mesmo empresário acrescentou: "Já ajudamos a eleger a Marta, que é uma das nossas, estamos digerindo bem a campanha do Lula, que amadureceu muito, mas daí a dar também o governo de São Paulo para os petistas já é demais".
Mercadante confirma a conversa, avança que foi com um empresário "de comunicação" e diz que não foi a única, mas um resumo de manifestações ouvidas ao longo da campanha paulista, sobretudo quando Genoino passou a ameaçar ir ao segundo turno contra o hoje favorito governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.
Uma correção, porém, precisa ser feita na frase do empresário que conversou com os petistas e que nem Genoino, nem Mercadante quiseram nomear. A Prefeitura de São Paulo já não é mais o terceiro Orçamento da República. É o sexto, depois da União e dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nesta ordem.
Para 2003, a receita primária (de impostos e contribuições) prevista para a União é de R$ 327,9 bilhões. A do Estado de São Paulo, de R$ 54,4 bilhões. E a da prefeitura paulista, de R$ 10,1 bilhões.
Para os empresários, que se acostumaram a ver o PT como o "inimigo político número 1", aceitar e, em alguns casos, apoiar o partido já é uma enorme concessão. Mas concentrar essa dinheirama toda nas mãos dos velhos adversários é um pouco demais.

"Vantagens"
Mercadante, porém, aponta vantagens se os três dos Orçamentos mais exuberantes do país fossem para administrações de um mesmo partido: "Isso significa um potencial de parceria muito grande entre as três esferas da Federação, e essa parceria é justamente o que está faltando hoje na vida pública".
O candidato ao Senado imagina que essa parceria entre União, Estado e município criaria um "esforço articulado" em áreas fundamentais, como combate à violência, educação e obras de infra-estrutura.
Na opinião de Mercadante, quando cada uma dessas esferas é comandada por um partido diferente, o que há é um conflito de competência, uma duplicação de esforços e de recursos e uma disputa pelos bônus políticos.
Uma outra questão, porém, é a da concentração de interesses e programas em São Paulo, em detrimento do resto do país. Essa já é uma reclamação atual, com o PSDB instalado no Palácio do Planalto e no governo paulista.
Mercadante responde: "Fomos oposição durante anos e anos. Fomos discriminados na pele e não vamos repetir esse mesmo erro. Vamos fazer uma mudança de padrão de gestão que não favoreça apenas aliados, mas as populações locais". A visão do PT, diz ele, "é nacional".



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