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JANIO DE FREITAS
A derrota silenciada
Sem sutileza a política não é
política. A visão no atacado,
que concluiu com ligeireza, entre
outras conclusões não menos velozes e leves, por uma grande vitória do PT, é questionável sob variados ângulos de apreciação do
resultado e da geografia eleitoral.
Para começar, a referência muito ampla embaralha partido e governo. Faça-o intencionalmente,
como parece, ou não, a indistinção é absurda e imperdoável no
exercício de análises. O interesse
eleitoral do governo petista não
esteve só em candidatos do PT e,
como no caso mais notório de
Fortaleza, até esteve contra a candidatura oficial do PT.
Mais importante ainda, se é
possível admitir que o PT, como
instituição partidária, sob certos
aspectos esteja vitorioso, para o
PT/governo as coisas saíram de
outro modo.
A vitória de José Serra, por
exemplo, foi muito expressiva, já
na diferença em torno de 20%, e
sobretudo por certas circunstâncias próprias da eleição em São
Paulo, capital e Estado. São Paulo
é a casa do PT. Pelo menos dez
dos integrantes do primeiro nível
de governo votam em São Paulo e
quase todos aí fazem sua vida política. Vários deles tiveram participação direta na campanha de
Marta, o próprio Lula cometeu
esse despropósito nada venial, e
muitos deles fizeram campanha
por candidatos petistas pelo Estado afora.
E daí? Daí saíram derrotas a
granel, para todos os gostos e,
mais ainda, desgostos. Inclusive
em territórios de histórico domínio petista. Onde, portanto, o PT/
governo mais tem presença tradicional e mais se empenhou, dispensando-se até de escrúpulos legais, a apreciação dos resultados
só permite uma conclusão, de clareza espantosa: o eleitorado impôs ao governo Lula uma derrota
no primeiro turno. Que o diga
Antonio Palocci, ex-prefeito de
Ribeirão Preto, que nela foi fazer
campanha com o peso de ministro e colheu, com o seu candidato,
uma rejeição humilhante.
Sob o ângulo oposto, o da recusa de colaboração ao candidato, o
governo reforçou seu mau resultado particular, não confundível
com o do seu partido como instituição. Dois casos ilustrativos são
Fortaleza e Salvador.
No jantar de Lula com o senador Antonio Carlos Magalhães, e
uns outros pefelistas que apenas
faziam o cenário tapeador, foi
servida e devorada a cabeça do
candidato petista à prefeitura de
Salvador. Nelson Pellegrino, que
deixara a liderança do PT na Câmara para candidatar-se, nem
mereceu uma resposta de Lula
quando, em conversa pessoal com
testemunhas, pediu-lhe um apoio
explícito, mesmo que não fosse
igual ao dado pouco antes a Marta. Orientada pela Presidência, a
cúpula petista manteve Pellegrino ao relento. Pois bem, os petistas de Salvador reagiram à união
Lula-ACM e só por centímetros
Nelson Pellegrino não entrou no
segundo turno, em que estará o
candidato carlista com a ajuda de
Lula.
José Dirceu e outras eminências
do governo foram a Fortaleza fazer campanha contra a candidata do PT, Luizianne Lins, que é
crítica da política econômica. José
Genoino chegou a lançar suspeitas perversas sobre a candidata
do seu partido. O apoio do governo Lula (e do próprio, inclusive
com vídeos que o TRE até proibiu) a Inácio Arruda, do PC do B,
nem o segundo turno lhe obteve e,
pode-se admitir, tirou-o. Luizianne Lins lá está.
Considerados os resultados de
trás para a frente, o PMDB está
visto como grande derrotado. Pode ser mesmo, mas depende dos
critérios usados. O PMDB conquistou, em números redondos,
cadeiras de vereador em total
mais de duas vezes maior que o
do PT. Quantidade de vereadores
eleitos não é critério para aferição
de desempenho, derrotas e vitórias? Afinal, é consenso que a presença municipal influi nas demais eleições.
Para finalizar, que é tempo:
vencedores e vencidos só estarão
conhecidos, em termos definitivos, depois de apurado o segundo
turno e feitas análises menos ligeirinhas e, como se deu muito
até agora, menos intoxicadas de
governismo.
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