São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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OPERAÇÃO GAFANHOTO

Policiais não apresentam credenciais e voltam ao Brasil sem documentos, o que deve atrasar apuração

PF investiga remessas ilegais para a Suíça

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal começou a investigar remessas de dinheiro do chamado esquema dos gafanhotos -uma fraude na folha salarial de Roraima- para a Suíça. Segundo as investigações, entre os suspeitos de envio ilegal de verbas públicas para o exterior está o governador do Estado, Flamarion Portela (licenciado do PT).
Dois policiais enviados à suíça no dia 22, porém, voltaram sem documentos e causaram um incidente diplomático por não apresentarem as credenciais adequadas à Justiça suíça.
Ontem, o embaixador suíço em Brasília, Jürg Leutert, conversou com o diretor-geral, Paulo Lacerda, sobre o episódio. Ouviu que houve uma falha interna da PF, que será corrigida. A autorização para os policiais deixarem o país foi dada pelo diretor-executivo Zulmar Pimentel, que ocupava o cargo de Lacerda interinamente.
Não bastasse o incidente diplomático, a PF não conseguiu as informações que desejava, o que deve atrasar as investigações. Segundo a Folha apurou, Lacerda pediu ajuda ao Ministério da Justiça, que possui um setor específico para repatriação de dinheiro ilegal, o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional).
O departamento já possui experiência de negociação com os suíços. O diretor do DRCI, Antenor Madruga, conversa freqüentemente com as autoridades daquele país sobre contas de outros suspeitos de lavagem de dinheiro, como o ex-prefeito Paulo Maluf, de São Paulo, que nega ter recursos ilícitos no exterior.
Portela diz que não possui envolvimento no esquema, e seu secretário-adjunto de Comunicação, Péricles Verçosa Perruci, afirmou que Flamarion está sofrendo perseguição de "alguns agentes federais".
O chamado esquema dos gafanhotos teria consumido R$ 230 milhões do Tesouro de Roraima em quatro anos, segundo as investigações. Ao todo, 30 autoridades do Estado teriam se beneficiado da fraude, que envolvia o uso de cerca de 5.000 laranjas.
Segundo o processo que corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça), no qual Flamarion foi denunciado, a fraude consistia na inclusão de nomes de servidores fantasmas na folha salarial. Como o pagamento do funcionalismo era feito por uma empresa privada, o controle era dificultado.

Dificuldade
As remessas para o exterior foram identificadas pelo Ministério Público Federal de Roraima, que continua apurando o caso. A maior dificuldade é ligar os suspeitos da fraude aos autores das remessas, em sua maioria nomes de laranjas.


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