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Sarney pressiona Temer por apoio do PMDB ao PT
RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou ontem ao presidente
do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que, "por uma questão
de prudência", o partido deve
Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
apontando as dificuldades que o
novo governo vai enfrentar.
Argumentando que o próximo
presidente do Congresso precisa
"estar sintonizado" com o futuro
governo, Sarney avisou que não
desistirá da disputa pela presidência do Senado e que estaria disposto a concorrer na bancada.
O senador afirmou ainda que
somente uma convenção nacional do partido tem soberania para
decidir o posicionamento em relação ao futuro governo. Sarney
apóia a convocação da convenção
-por um terço dos convencionais- se a Executiva não o fizer.
"O país atravessa um momento
excepcional de sua política. É preciso prudência e espírito público.
Neste momento, para o bem do
país, nós devemos estar unidos
para apoiar o presidente Lula, que
terá grandes dificuldades", disse.
Por outro lado, na tentativa de
ampliar a base de sustentação política de Lula no Congresso, o PT
decidiu propor um entendimento
"institucional" ao PMDB.
A proposta deve ser formalizada hoje em conversa marcada entre Temer e o presidente do PT,
José Dirceu, às 11h30.
Por "acordo institucional" entenda-se a negociação direta entre
os dois partidos, o que interessa
aos atuais dirigentes do PMDB,
mas não a Sarney. Na semana
passada, Temer já havia conversado com todos os cinco governadores da sigla. À exceção de Roberto Requião (PR), todos concordaram em assumir com o PT
compromisso com a governabilidade, mas sem participar "por enquanto" do governo.
O "acordo institucional" começaria pela eleição das presidências
da Câmara e do Senado. Por terem as maiores bancadas, a tradição no Legislativo aponta para o
PT na presidência da Câmara e o
PMDB na do Senado.
O PT tem interesse na solução
"institucional". Mas, se apoiar um
nome do PMDB que não seja referendado pela bancada, pode sofrer retaliação na Câmara. É o que
o PMDB tem ameaçado fazer.
A conversa entre Sarney e Temer ocorreu ontem à noite, no gabinete do senador. A expectativa
do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) -que também pretende concorrer à presidência do Senado-, era que Temer deixasse claro que caberia à
bancada do PMDB a decisão.
"Sarney prestou um grande serviço ao país, mas precisa ser escolhido pela bancada", disse Renan
à tarde. Mas Sarney foi contundente com Temer. "Não deve
ocupar a presidência do Senado
uma pessoa deliberadamente
contrária ao governo", disse.
O senador lembrou que a cúpula do PMDB foi derrotada na eleição presidencial. O partido ficou
dividido entre Lula e o candidato
derrotado a presidente, José Serra
(PSDB), mas, segundo ele, "mais
da metade" preferiu o petista. O
partido se coligou ao PSDB.
Por isso, defende que "somente
um órgão tem soberania" para
decidir a postura em relação ao
novo governo: a convenção nacional. Caso contrário, diz, ficará
clara a "divisão" do partido.
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