São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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Sarney pressiona Temer por apoio do PMDB ao PT

RAQUEL ULHÔA
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador José Sarney (PMDB-AP) afirmou ontem ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que, "por uma questão de prudência", o partido deve Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontando as dificuldades que o novo governo vai enfrentar.
Argumentando que o próximo presidente do Congresso precisa "estar sintonizado" com o futuro governo, Sarney avisou que não desistirá da disputa pela presidência do Senado e que estaria disposto a concorrer na bancada.
O senador afirmou ainda que somente uma convenção nacional do partido tem soberania para decidir o posicionamento em relação ao futuro governo. Sarney apóia a convocação da convenção -por um terço dos convencionais- se a Executiva não o fizer.
"O país atravessa um momento excepcional de sua política. É preciso prudência e espírito público. Neste momento, para o bem do país, nós devemos estar unidos para apoiar o presidente Lula, que terá grandes dificuldades", disse.
Por outro lado, na tentativa de ampliar a base de sustentação política de Lula no Congresso, o PT decidiu propor um entendimento "institucional" ao PMDB.
A proposta deve ser formalizada hoje em conversa marcada entre Temer e o presidente do PT, José Dirceu, às 11h30.
Por "acordo institucional" entenda-se a negociação direta entre os dois partidos, o que interessa aos atuais dirigentes do PMDB, mas não a Sarney. Na semana passada, Temer já havia conversado com todos os cinco governadores da sigla. À exceção de Roberto Requião (PR), todos concordaram em assumir com o PT compromisso com a governabilidade, mas sem participar "por enquanto" do governo.
O "acordo institucional" começaria pela eleição das presidências da Câmara e do Senado. Por terem as maiores bancadas, a tradição no Legislativo aponta para o PT na presidência da Câmara e o PMDB na do Senado.
O PT tem interesse na solução "institucional". Mas, se apoiar um nome do PMDB que não seja referendado pela bancada, pode sofrer retaliação na Câmara. É o que o PMDB tem ameaçado fazer.
A conversa entre Sarney e Temer ocorreu ontem à noite, no gabinete do senador. A expectativa do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) -que também pretende concorrer à presidência do Senado-, era que Temer deixasse claro que caberia à bancada do PMDB a decisão.
"Sarney prestou um grande serviço ao país, mas precisa ser escolhido pela bancada", disse Renan à tarde. Mas Sarney foi contundente com Temer. "Não deve ocupar a presidência do Senado uma pessoa deliberadamente contrária ao governo", disse.
O senador lembrou que a cúpula do PMDB foi derrotada na eleição presidencial. O partido ficou dividido entre Lula e o candidato derrotado a presidente, José Serra (PSDB), mas, segundo ele, "mais da metade" preferiu o petista. O partido se coligou ao PSDB.
Por isso, defende que "somente um órgão tem soberania" para decidir a postura em relação ao novo governo: a convenção nacional. Caso contrário, diz, ficará clara a "divisão" do partido.


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