São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente do PT admite pela 1ª vez a possibilidade se o partido precisar, mas não descarta ocupar um ministério

Seria uma honra presidir Câmara, diz Dirceu

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente nacional do PT, José Dirceu, admitiu ontem pela primeira vez a possibilidade de vir a presidir a Câmara dos Deputados, dizendo que a tarefa seria uma "honra". Dirceu não descartou, no entanto, a possibilidade de ocupar um cargo no ministério de Luiz Inácio Lula da Silva.
"Se o partido precisar do meu nome e a Câmara entender que eu possa ser o seu presidente, evidentemente é uma honra para qualquer brasileiro presidir a Câmara dos Deputados. É algo em que eu nunca pensei na minha vida", declarou Dirceu, pela manhã, pouco antes do início da reunião da Executiva Nacional petista.
Homem-forte na campanha, Dirceu sempre esteve cotado para assumir uma função importante no gabinete de Lula. Seu nome é citado para Fazenda, Justiça ou Casa Civil.
Após a inesperada performance na eleição legislativa, em que fez 91 deputados federais e se transformou na maior força da Câmara, o PT passou a reivindicar o estratégico posto de presidente da Casa. O partido poderá avaliar que será melhor ter Dirceu nesta função, já que Lula dependerá de colaboração do Legislativo para aprovar medidas nas áreas tributária, previdenciária e trabalhista.
Ontem, Dirceu afirmou que fará o que o presidente eleito achar melhor. "Quem resolve o que eu vou fazer é o Lula. Eu posso ser também um dos membros do governo. Vamos aguardar. Sou um soldado, cumpro tarefas", disse.

Senado
O presidente do PT também defendeu que a presidência do Senado fique com o maior partido -no caso, o PMDB.
"É tradição longa que o maior partido indique o presidente da Câmara e também no Senado. Pelo menos é o que tem democraticamente regido as relações no Congresso Nacional", disse.
Por trás da retórica "tradicionalista", a cúpula petista está mesmo interessada em colaborar com o PMDB para que mantenha a presidência da Casa em troca do apoio ao futuro governo Lula.
Os petistas têm uma preferência por José Sarney (AP), aliado de Lula, para o cargo, cobiçado também por Renan Calheiros (AL). Mas o presidente petista disse que o partido não vai se "imiscuir" em assuntos de outra legenda.
Sobre a hipótese de o partido, no Senado, formar um bloco com legendas de esquerda para ter direito à presidência da Casa, Dirceu foi taxativo.
"É preciso ter cuidado com essas propostas, ainda que possam ser analisadas. Nosso objetivo é formar maioria. Porque, se formos formar bloco, o PMDB, PFL e o PSDB também podem formar."
A hipótese é aventada por alguns senadores petistas, que chegam a sugerir o nome de Eduardo Suplicy (PT) para ocupar a presidência do Senado.
Suplicy, ao tratar ontem do tema, deixou em aberto a possibilidade de constituição no Senado de um bloco de centro-esquerda, junto com PSB, PDT, PPS e PL.
"O Senado e a Câmara têm autonomia. Vou conversar com o presidente Lula e José Dirceu para ver o que é de maior interesse para o partido", afirmou.
Hoje, em Brasília, o presidente do partido participa de uma reunião com bancada de 14 senadores que o PT terá a partir do ano que vem, para discutir a questão.
(FÁBIO ZANINI E PLÍNIO FRAGA)



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