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QUESTÃO AGRÁRIA
Movimento avalia possibilidade de suspender plano para realização de uma série de invasões em janeiro
MST impõe condição para dar trégua a Lula
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARUARU
O MST confirmou ontem, em
Caruaru (PE), a existência de um
plano para a realização de uma série de invasões de terra no país em
janeiro de 2003, mas admitiu a
possibilidade de conceder uma
trégua ao presidente eleito, Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), para
que ele possa apresentar a sua política agrícola.
Segundo o líder estadual e integrante da direção nacional do
movimento, Jaime Amorim, a
trégua, se aprovada pela entidade,
poderá durar até abril, quando o
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) espera
que as linhas gerais das políticas
governamentais já estejam traçadas e em andamento.
A proposta de suspender as invasões, porém, encontra resistências internas e é uma das mais polêmicas em pauta na reunião dos
líderes nacionais do movimento,
iniciada ontem em Caruaru.
No encontro, que termina amanhã, o MST pretende avaliar a
eleição de Lula e definir o comportamento da entidade em relação ao novo governo.
"Foi um sonho que ajudamos a
construir", disse Amorim, que assumiu a função de porta-voz dos
líderes sem-terra presentes, -entre eles João Pedro Stedile, Gilmar
Mauro e João Paulo.
"O MST tem responsabilidade
histórica por esse momento e não
vamos ficar fora dele", afirmou.
"Participamos efetivamente da
campanha de Lula, ajudamos a
elegê-lo, mas agora cada um tem a
sua tarefa", declarou.
Amorim disse que o movimento já decidiu classificar como
"prioridade zero" o assentamento
"imediato" das 100 mil famílias
que estariam acampadas em todo
o país. O MST estima que existam
4,8 milhões de sem-terra.
Também está definido que a entidade reivindicará a revogação
da lei que suspende por dois anos
o processo de reforma agrária nas
terras invadidas. "Será impossível
desapropriar se essa decisão for
mantida", declarou Amorim.
"Todo esse engodo repressivo
tem que ser suprimido."
Para o MST, a nova política de
divisão de terras deve ser direcionada para o "fim do coronelismo
e do latifúndio". "Por 500 anos, os
latifundiários mandaram neste
país. Esse é um momento de corte
importante na nossa história, que
muitos dos que votaram em Lula,
inclusive nós, sonham."
Amorim disse que o movimento não deseja ocupar cargos no
governo. Mas, admite que gostaria de ser ouvido no processo de
escolha dos administradores dos
principais órgãos ligados à política agrícola e reforma agrária.
"Nossa proposta é que o novo
modelo de política agrícola seja
voltado para o abastecimento interno -e não para a exportação
como é hoje-, para o fortalecimento do pequeno agricultor e
contra o êxodo rural", declarou.
Sobre a intenção do PT de manter o acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) e as
conversações para o ingresso do
Brasil na Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Amorim
afirmou que o MST continuará
sendo contra as decisões.
"Vamos continuar dizendo que
o Brasil só é viável se não pagar a
dívida externa. Não é porque o
Lula venceu que vamos mudar
nossa posição. Vamos respeitar o
PT, que precisa ter autonomia para governar, mas teremos também nossa autonomia para contestar." Ele disse que o movimento espera, no mínimo, que o governo negocie com soberania em
relação à Alca. Amorim não comentou o projeto do programa
contra a fome do futuro governo.
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