São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Movimento avalia possibilidade de suspender plano para realização de uma série de invasões em janeiro

MST impõe condição para dar trégua a Lula

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARUARU

O MST confirmou ontem, em Caruaru (PE), a existência de um plano para a realização de uma série de invasões de terra no país em janeiro de 2003, mas admitiu a possibilidade de conceder uma trégua ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que ele possa apresentar a sua política agrícola.
Segundo o líder estadual e integrante da direção nacional do movimento, Jaime Amorim, a trégua, se aprovada pela entidade, poderá durar até abril, quando o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) espera que as linhas gerais das políticas governamentais já estejam traçadas e em andamento.
A proposta de suspender as invasões, porém, encontra resistências internas e é uma das mais polêmicas em pauta na reunião dos líderes nacionais do movimento, iniciada ontem em Caruaru.
No encontro, que termina amanhã, o MST pretende avaliar a eleição de Lula e definir o comportamento da entidade em relação ao novo governo.
"Foi um sonho que ajudamos a construir", disse Amorim, que assumiu a função de porta-voz dos líderes sem-terra presentes, -entre eles João Pedro Stedile, Gilmar Mauro e João Paulo.
"O MST tem responsabilidade histórica por esse momento e não vamos ficar fora dele", afirmou. "Participamos efetivamente da campanha de Lula, ajudamos a elegê-lo, mas agora cada um tem a sua tarefa", declarou.
Amorim disse que o movimento já decidiu classificar como "prioridade zero" o assentamento "imediato" das 100 mil famílias que estariam acampadas em todo o país. O MST estima que existam 4,8 milhões de sem-terra.
Também está definido que a entidade reivindicará a revogação da lei que suspende por dois anos o processo de reforma agrária nas terras invadidas. "Será impossível desapropriar se essa decisão for mantida", declarou Amorim. "Todo esse engodo repressivo tem que ser suprimido."
Para o MST, a nova política de divisão de terras deve ser direcionada para o "fim do coronelismo e do latifúndio". "Por 500 anos, os latifundiários mandaram neste país. Esse é um momento de corte importante na nossa história, que muitos dos que votaram em Lula, inclusive nós, sonham."
Amorim disse que o movimento não deseja ocupar cargos no governo. Mas, admite que gostaria de ser ouvido no processo de escolha dos administradores dos principais órgãos ligados à política agrícola e reforma agrária.
"Nossa proposta é que o novo modelo de política agrícola seja voltado para o abastecimento interno -e não para a exportação como é hoje-, para o fortalecimento do pequeno agricultor e contra o êxodo rural", declarou.
Sobre a intenção do PT de manter o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e as conversações para o ingresso do Brasil na Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Amorim afirmou que o MST continuará sendo contra as decisões.
"Vamos continuar dizendo que o Brasil só é viável se não pagar a dívida externa. Não é porque o Lula venceu que vamos mudar nossa posição. Vamos respeitar o PT, que precisa ter autonomia para governar, mas teremos também nossa autonomia para contestar." Ele disse que o movimento espera, no mínimo, que o governo negocie com soberania em relação à Alca. Amorim não comentou o projeto do programa contra a fome do futuro governo.


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