São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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PESQUISA

Diagnóstico de 500 entrevistados é mais convergente do que era em 1989

Estudo identifica "consenso novo" entre as elites do país

LIA HAMA
DA REDAÇÃO

Existe hoje um consenso muito maior entre as elites brasileiras sobre as questões que envolvem o desenvolvimento do país do que havia no final dos anos 80. Se em 1989 havia uma forte polarização em torno de temas como privatização, em 2002 há um diagnóstico comum entre os membros das elites, que vêem de forma positiva as reformas feitas pelo governo Fernando Henrique Cardoso e que apontam a desigualdade social como o principal desafio a ser enfrentado pelo próximo governo.
A análise é do cientista político Bolívar Lamounier, 59, do Idesp (Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo). Junto com o também cientista político Amaury de Souza, ele acaba de concluir um estudo baseado em entrevistas com 500 lideranças de diversos segmentos: pequenas, médias e grandes empresas; sindicatos; Congresso Nacional; Executivo federal; Judiciário e Ministério Público; imprensa; lideranças religiosas e dirigentes de ONGs; e intelectuais.
"O Brasil tem mais consenso do que as pessoas imaginam", afirma Lamounier. "Em 1989 uma eleição como a do PT era impensável. Há uma corrente subterrânea ao processo eleitoral deste ano que é esse consenso entre as elites", diz o cientista político, que apresentou os resultados da pesquisa ontem no hotel Renaissance, em SP.
O estudo é uma repetição de outra pesquisa semelhante feita por Lamounier em 1989, que teve entre seus entrevistados o presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o candidato tucano derrotado à Presidência, José Serra.
Foram consideradas de elite "as pessoas que intervêm no processo decisório nacional, seja como protagonistas diretos, seja como formadores de opinião, seja como articuladores de demandas e pressões suscetíveis de exercer impacto significativo na formação da política pública".
Segundo Lamounier, há hoje uma percepção comum de que a questão social é o maior problema do país. "Existe uma concordância absoluta na nossa elite sobre a tragédia social no país", diz.
As políticas de combate à pobreza e à desigualdade foram justamente um dos pontos menos bem avaliados do governo FHC, ao lado das políticas energética e industrial. À questão "Como o sr. avalia o desempenho do governo FHC no combate à pobreza e à desigualdade", apenas 18% responderam que o governo teve "algum", "muito" ou "completo" sucesso. As reformas de FHC, entretanto, tiveram aprovação alta. Os itens mais bem avaliados foram: prestígio internacional, estabilização da economia e relações com o Congresso. O governo foi tido como "ótimo ou bom" por 48%, como "regular" por 32% e como "ruim ou péssimo" por 19%.


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