São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economistas divergem sobre era FHC

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma combinação entre embate de idéias e troca de farpas ocupou, ontem à noite, o centro das atenções do seminário promovido pelo Idesp. Os protagonistas da cena foram os economistas Edmar Bacha, um dos idealizadores do Plano Real e que foi presidente do BNDES durante o governo FHC, e Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV-SP e crítico contundente da política econômica dos últimos anos.
Batista Jr. e Bacha dividiram com os economistas Eduardo Giannetti da Fonseca e Márcio Pochmann um painel cujo tema era "Estabilização e reformulação do modelo econômico".
Em sua exposição, o professor da FGV-SP criticou o modelo de liberalização da economia, a sobrevalorização do real, entre 1994 e 1999, e a dependência do capital internacional que, segundo ele, foram marcas da era FHC.
Batista Jr. disse que um desafio que o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentará é o "risco de continuísmo excessivo". Sintetizou como "esforços que visam a congelar as práticas dos anos 90" a orientação econômica que o PT herdará do último acordo do país com o FMI. E criticou a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Bacha, hoje consultor-sênior do banco BBA, era debatedor da exposição de Batista Jr. e não deixou por menos. Começou afirmando que não imaginaria que Lula sofreria oposição da própria esquerda. Ele se referia ao comentário de Batista Jr. a respeito do acordo com o FMI, que recebeu apoio do PT.
Ironizou o professor da FGV-SP dizendo que, se ele era contra o acordo com o Fundo, deveria ser a favor da moratória, já que o país depende dos recursos do FMI para fechar as contas em 2003.
Disse que Batista Jr. defendia o isolacionismo, pois era contra a Alca. E concluiu defendendo a idéia de que o Brasil precisa aumentar "sua capacidade de se integrar produtiva e financeiramente nas correntes de comércio e finanças internacionais".
Batista Jr. pediu direito à réplica e acusou Bacha de ter feito uma caricatura do que ele havia dito.
O embate foi acompanhado com atenção pela platéia. O banqueiro Pedro Moreira Salles, do Unibanco, ao deixar o seminário, disse concordar mais com as idéias de Bacha: "Acho que o Brasil tem de apostar no caminho da competitividade".
De forma geral, no entanto, nas palestras da noite, predominou o tom de crítica à política econômica da era FHC. O economista Eduardo Giannetti da Fonseca, por exemplo, disse que o governo FHC deixou a desejar no que se refere ao crescimento econômico e à geração de emprego.


Texto Anterior: Pesquisa: Estudo identifica "consenso novo" entre as elites do país
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.