São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS

Lula pede que governo conteste rapidamente a acusação de que BB abasteceu "valerioduto"

Oposição volta a defender o impeachment do presidente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA


Um dia após a afirmação da CPI dos Correios, de que dinheiro público abasteceu o "valerioduto", integrantes da oposição abandonaram a cautela e voltaram a defender o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de viajar, o presidente orientou o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) a deflagrar rapidamente uma operação para rebater a denúncia.
Na tribuna do Senado, o tucano Álvaro Dias (PR) declarou: "Nada disso terá conserto enquanto Lula não for constrangido democraticamente a mudar de comportamento ou, caso se recuse, enquanto não renunciar ou for impedido. Não se trata de pedir o impeachment num arroubo inconseqüente, trata-se de parar de poupar Lula, não na retórica, e sim com ações concretas, interpelando-o formalmente para que dê explicações à nação sobre tudo isso". Para ele, há elementos "mais expressivos" para o impeachment de Lula do que os que justificaram a abertura de processo contra o presidente Fernando Collor.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, levantou a possibilidade de impeachment ao comentar a declaração do relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que foram desviados R$ 10 milhões do Banco do Brasil para o "mensalão": "Com essa denúncia, há origem e destino das verbas que abasteceram o chamado "mensalão". Havendo a comprovação dos fatos, ante a falta de transparência do presidente Lula na crise, todo cenário é possível, inclusive o remédio amargo do impeachment".
"Chegou o momento de as pessoas sérias e responsáveis começarem a discutir o afastamento de Lula", reforçou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE): "Ficou comprovado agora o uso abusivo de algo que é um símbolo do país, o Banco do Brasil".
Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), confirmou-se a denúncia do deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que parte do dinheiro que irrigava o "mensalão" vinha de operações com estatais: "O presidente Lula vai fugir do assunto como sempre tem feito, dizer que foi traído. São declarações insuficientes diante da sua responsabilidade como presidente".
Lula também foi alvo do líder do PFL no Senado, José Agripino (RN). "O relator encontrou o ovo da serpente. Vamos ver dessa vez o que o Lula vai dizer. Será que vai repetir a entrevista de Paris? Agora é claramente o Poder Executivo, o nosso Banco do Brasil, envolvido no "mensalão'".
Segundo o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), o PFL fará reunião na segunda-feira para definir uma estratégia. "Vou defender o impeachment, já temos elementos e existe uma cobrança da sociedade. Essa nossa posição de cautela está pegando mal junto à população. As provas são claras, tudo já está documentado", disse.
A oposição já começou a colher assinaturas para prorrogar a CPI dos Correios de dezembro para abril. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) já possui assinaturas de 175 deputados -quatro a mais que o necessário. A coleta ainda não começou no Senado, mas a situação da oposição é confortável: basta o apoio de 27 senadores, e PSDB e PFL somam juntos 31.

Reação governista
Lula cobrou ontem da cúpula do governo pressa no esclarecimento da denúncia de que o BB teria financiado o caixa dois do PT. No Planalto, a avaliação era a de que a CPI se "precipitou".
As conversas sobre o tema começaram pela manhã, na Base Aérea de Brasília. Com as malas prontas para Mar del Plata (Argentina), o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) foi orientado por Lula a permanecer no Brasil para liderar uma rápida operação de "esclarecimento" sobre as denúncias. Já pela manhã, a tese a ser defendida era que não há como afirmar que dinheiro público alimentou o "mensalão".
À tarde, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) foi escalado para fazer a defesa do governo. Abicalil convocou uma coletiva para rebater as declarações de Osmar Serraglio no dia anterior. No final da tarde, o BB divulgou nota negando ter abastecido o "valerioduto".
Wagner voltou a falar com Lula no final da tarde, quando o presidente já estava na Argentina. Lula telefonou para saber se o ministro já havia conseguido articular uma ampla defesa do governo. (FERNANDA KRAKOVICS, ADRIANO CEOLIN, SILVIO NAVARRO E EDUARDO SCOLESE)

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