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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS PROVAS
Lula pede que governo conteste rapidamente a acusação de que BB abasteceu "valerioduto"
Oposição volta a defender o impeachment do presidente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Um dia após a afirmação da CPI
dos Correios, de que dinheiro público abasteceu o "valerioduto",
integrantes da oposição abandonaram a cautela e voltaram a defender o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Antes de viajar, o presidente
orientou o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) a deflagrar rapidamente uma operação para rebater a denúncia.
Na tribuna do Senado, o tucano
Álvaro Dias (PR) declarou: "Nada
disso terá conserto enquanto Lula
não for constrangido democraticamente a mudar de comportamento ou, caso se recuse, enquanto não renunciar ou for impedido.
Não se trata de pedir o impeachment num arroubo inconseqüente, trata-se de parar de poupar Lula, não na retórica, e sim com
ações concretas, interpelando-o
formalmente para que dê explicações à nação sobre tudo isso". Para ele, há elementos "mais expressivos" para o impeachment de
Lula do que os que justificaram a
abertura de processo contra o
presidente Fernando Collor.
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, levantou a possibilidade de impeachment ao comentar
a declaração do relator da CPI dos
Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que foram
desviados R$ 10 milhões do Banco
do Brasil para o "mensalão":
"Com essa denúncia, há origem e
destino das verbas que abasteceram o chamado "mensalão". Havendo a comprovação dos fatos,
ante a falta de transparência do
presidente Lula na crise, todo cenário é possível, inclusive o remédio amargo do impeachment".
"Chegou o momento de as pessoas sérias e responsáveis começarem a discutir o afastamento de
Lula", reforçou o presidente do
PPS, deputado Roberto Freire
(PE): "Ficou comprovado agora o
uso abusivo de algo que é um símbolo do país, o Banco do Brasil".
Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), confirmou-se a denúncia do deputado cassado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) de que parte do dinheiro que irrigava o "mensalão" vinha de operações com estatais: "O
presidente Lula vai fugir do assunto como sempre tem feito, dizer que foi traído. São declarações
insuficientes diante da sua responsabilidade como presidente".
Lula também foi alvo do líder
do PFL no Senado, José Agripino
(RN). "O relator encontrou o ovo
da serpente. Vamos ver dessa vez
o que o Lula vai dizer. Será que vai
repetir a entrevista de Paris? Agora é claramente o Poder Executivo, o nosso Banco do Brasil, envolvido no "mensalão'".
Segundo o deputado Ronaldo
Caiado (PFL-GO), o PFL fará reunião na segunda-feira para definir
uma estratégia. "Vou defender o
impeachment, já temos elementos e existe uma cobrança da sociedade. Essa nossa posição de
cautela está pegando mal junto à
população. As provas são claras,
tudo já está documentado", disse.
A oposição já começou a colher
assinaturas para prorrogar a CPI
dos Correios de dezembro para
abril. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) já possui assinaturas
de 175 deputados -quatro a mais
que o necessário. A coleta ainda
não começou no Senado, mas a
situação da oposição é confortável: basta o apoio de 27 senadores,
e PSDB e PFL somam juntos 31.
Reação governista
Lula cobrou ontem da cúpula
do governo pressa no esclarecimento da denúncia de que o BB
teria financiado o caixa dois do
PT. No Planalto, a avaliação era a
de que a CPI se "precipitou".
As conversas sobre o tema começaram pela manhã, na Base
Aérea de Brasília. Com as malas
prontas para Mar del Plata (Argentina), o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) foi
orientado por Lula a permanecer
no Brasil para liderar uma rápida
operação de "esclarecimento" sobre as denúncias. Já pela manhã, a
tese a ser defendida era que não
há como afirmar que dinheiro público alimentou o "mensalão".
À tarde, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT) foi escalado para fazer a defesa do governo. Abicalil
convocou uma coletiva para rebater as declarações de Osmar Serraglio no dia anterior. No final da
tarde, o BB divulgou nota negando ter abastecido o "valerioduto".
Wagner voltou a falar com Lula
no final da tarde, quando o presidente já estava na Argentina. Lula
telefonou para saber se o ministro
já havia conseguido articular uma
ampla defesa do governo.
(FERNANDA KRAKOVICS, ADRIANO CEOLIN, SILVIO NAVARRO E EDUARDO SCOLESE)
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