|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRIVATIZAÇÃO
Valor de empréstimo foi informado pelo BNDES, que não sabe qual número exato de beneficiadas
Ex-estatais recebem US$ 4,3 bilhões
da Reportagem Local
O BNDES emprestou pelo menos US$ 4,3 bilhões às estatais depois delas terem sido privatizadas. As operações não foram
anunciadas à imprensa.
O banco não sabe informar com
precisão o número de empresas
privatizadas que foram beneficiadas com empréstimos para investimentos, nem o valor total de financiamentos desse tipo.
O banco informa que as ex-estatais são tratadas como empresas
comuns e que não há estatísticas
sobre esse tipo de empréstimo.
Na sessão de 2 de junho deste
ano, o TCU (Tribunal de Contas
da União) discutiu uma fiscalização no BNDES, feita pelo setor de
auditoria do tribunal no final de
96, que verificou a concessão US$
1,5 bilhão em empréstimos para
estatais privatizadas, entre janeiro
de 92 e dezembro de 96.
De 50 leilões feitos até aquele
ano, "nas formas de venda do
controle de empresas, venda de
participações minoritárias e de
concessões de malhas ferroviárias, 31 entidades (ex-estatais) obtiveram do sistema BNDES, após
o processo de privatização, algum
tipo de colaboração financeira",
segundo relatório do ministro
Walton Alencar Rodrigues.
Dos 31 empréstimos apontados
pelo TCU, a assessoria de imprensa do BNDES só conseguiu localizar 8. Após 96, foram realizados
outros 20 financiamentos, de
acordo com o levantamento apresentado pelo banco.
Todos os empréstimos pós-privatização informados à Folha somam US$ 4,3 bilhões.
Na última segunda-feira, a reportagem alertou o banco de que
o levantamento divulgado omitia
outros empréstimos apontados
pelo TCU. Os assessores disseram
se lembrar de outras omissões e se
comprometeram a divulgar um
outro levantamento até quinta-feira. As informações não foram
entregues à Folha até a conclusão
desta edição.
O banco justifica os empréstimos dizendo que os investimentos são feitos nas ex-estatais pela
iniciativa privada e que o banco
atua apenas como agente de crédito de longo prazo.
Além dos empréstimos pós-privatização, o BNDES também concedeu financiamentos para os leilões de privatização, que somam
US$ 4,5 bilhões.
Legalidade
O último empréstimo desse tipo
-de R$ 360 milhões, concedido à
empresa norte-americana AES
para a compra da energética paulista Tietê- foi considerado ilegal
por uma liminar (decisão provisória) da Justiça Federal de São
Paulo e está suspenso.
Na última quinta-feira, o juiz José Carlos Francisco, da 10ª Vara
da Justiça Federal, deu prazo de
dez dias para a AES devolver o dinheiro ao BNDES, sob pena de ser
obrigada a pagar multa diária de
R$ 1 bilhão, por descumprimento
de ordem judicial.
O advogado Laércio José dos
Santos, que representa o autor
popular da ação contra a AES,
afirma que os financiamentos feitos depois das privatizações são
ilegais se o contrato estabelecer o
valor do investimentos que a empresa compradora deverá fazer na
ex-estatal. "É preciso analisar cada contrato para verificar se o empréstimo é legal ou não."
O advogado Dalmo Dallari,
professor da Faculdade de Direito
da USP, concorda. "Se não houver a necessidade de investimentos estabelecida nos contratos,
não há irregularidade", diz.
O advogado Carlos Ari Sundfeld não vê problemas na concessão de empréstimos depois das
privatizações. "Não existe vinculação entre venda da empresa e financiamento".
(ROBERTO COSSO)
Texto Anterior: Objetivo é ganho social, afirma BNDES Próximo Texto: Para TCU, "moeda podre" é financiada Índice
|