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CELSO PINTO
A nuvem escura dos juros
A semana fechou com o câmbio
despencando, os juros em baixa, a
Bolsa em alta e otimismo geral.
Sobrou, contudo, uma nuvem escura no ar: será que a inflação
obrigará o Banco Central a elevar
os juros, na reunião do Comitê de
Política Monetária (Copom), dia
15?
Existe, ainda, uma segunda dúvida. Até que ponto a queda do
câmbio reflete uma melhora real,
ou apenas a ação do BC?
A questão dos juros é, de longe,
a mais complicada. Alguns economistas de peso acham que o BC
não pode hesitar em subir os juros, se os índices de inflação que
serão divulgados nesta semana
continuarem preocupantes. Se o
mercado achar que o BC está sendo leniente, por razões políticas
ou não, ele perderá a credibilidade indispensável no sistema de
metas inflacionárias.
Optar por uma alta dos juros,
contudo, também implica em riscos. Se o aumento for forte, o BC
criará dúvidas sobre o crescimento de 4% no próximo ano, vital
para viabilizar as metas fiscais.
Não há espaço para pacotes fiscais compensatórios. Além disso,
seria politicamente desastroso.
Se o BC subir pouco os juros, como se faz nos países ricos, o mercado pode ficar cético e apostar
em novas altas mais agressivas. O
que pressionaria o BC para sancionar esta expectativa.
O diretor de Política Monetária
do BC, Luiz Fernando Figueiredo,
discorda de que haja esse dilema.
Ele diz que o BC vai seguir dois
princípios: "ser absolutamente
ortodoxo, mas sem considerar o
juro como seu único instrumento". O importante "é ter um diagnóstico muito firme em cada situação e usar o instrumento adequado".
Se há um problema sazonal e
não estrutural no balanço de pagamentos, faz sentido o BC oferecer dólares. Havendo excesso de
demanda, o BC poderia usar um
compulsório não remunerado sobre os depósitos a prazo, elevando
o custo dos empréstimos sem afetar os juros básicos. Ou apertar a
política fiscal.
Os enormes saltos nos juros no
regime de câmbio controlado,
lembra, eram feitos para defender
o câmbio, não para combater a
inflação. Agora, saltos muito menores poderiam levar a resultados
muito melhores. "Não faz sentido
usar bala de canhão para matar
formiga", compara.
De outro lado, ele diz que a inflação preocupa, "mas hoje a incerteza é muito menor, inclusive
em relação à pressão das tarifas".
Alguns preços que subiram muito
(automóveis, carnes e álcool) podem até recuar um pouco. "A inflação não parece ser um processo
generalizado", diz.
Quanto ao recuo do câmbio,
existem algumas indicações positivas por trás. O fluxo de dezembro é pesado (US$ 1,4 bilhão em
bônus vencendo), mas a percepção do mercado, confirmada por
Figueiredo, é que houve muita
antecipação. Quer dizer, muita
gente já pagou em novembro,
com medo de uma pressão continuada no câmbio, o que aliviará
um pouco em dezembro.
Além disso, num momento em
que se previa um mercado externo fechado, com medo do "bug do
milênio", um grande banco prepara uma emissão de US$ 200 milhões para os próximos dias e outros bancos também estudam colocações. Alguns bancos já calculam o fluxo líquido de dezembro
como equilibrado, ou apenas ligeiramente negativo (com a diferença sendo coberta pelas intervenções do BC).
Esperava-se um dezembro
apertado e um janeiro tranquilo.
Na medida em que dezembro
continue a ser tranquilo, é possível que o mercado antecipe janeiro e alivie ainda mais o câmbio. É
cedo, contudo, para comemorar.
Figueiredo diz que "o BC não vai
brincar: vamos agir de forma preventiva, supondo alguma turbulência no fim do ano".
Mesmo que o otimismo continue, a decisão do Copom não será
simples.
Xerife atrasado
O xerife finalmente proibiu o
uso de armas, mas só depois do tiroteio ter feito várias vítimas.
Sexta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou
uma instrução regulando como
se apropriar do benefício fiscal do
ágio da privatização (diferença
entre o valor pago e o valor patrimonial da empresa).
Os controladores da CPFL, da
Electro e da Telesp, entre outros,
forçaram as empresas compradas
a dar ações a eles, dando em troca o benefício fiscal, a um valor
calculado por eles. Quer dizer, o
controlador embolsa as ações, dilui os minoritários e há o risco de
o benefício não ser integralmente
usado, se, por exemplo, não houver lucro.
A Telesp prometeu ressarcir os
minoritários, se isso acontecer,
mas só ao fim de cinco anos. A
instrução da CVM manda o controlador só trocar benefício por
ações a cada ano, na medida em
que ele, de fato, acontecer.
Não é preciso ser adivinho para
prever uma confusão jurídica. A
Telemar, Telesp Celular e Tele
Centro Oeste já haviam anunciado incorporação do ágio nos moldes da Telesp. Vão aceitar as regras da CVM ou brigar na Justiça, alegando que a Lei das S.A.
permite a outra fórmula? Os minoritários das empresas que já
usaram a outra fórmula, por sua
vez, se puderem vão reabrir a
questão.
Tudo isso teria sido evitado se o
xerife, que já sabia do tiroteio, tivesse chegado na hora certa.
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