UOL

São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIAGEM AO ORIENTE

Para especialistas, comunicado não é contraponto a americanos, mas há "desequilíbrio" sobre Golã

Posição de Lula "não ajuda", dizem EUA

DE WASHINGTON
DA REPORTAGEM LOCAL]

A posição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à guerra do Iraque "não ajuda" na solução dos atuais problemas do país. Foi o que disse um funcionário do Departamento de Estado dos Estados Unidos que não quis ser identificado.
Durante viagem à Síria, Lula e o ditador sírio Bashar al Assad assinaram um comunicado no qual pediram uma rápida transferência de poder ao povo iraquiano com maior participação da ONU. No texto, a presença de tropas americanas no Iraque foi chamada de "ocupação".
O representante norte-americano afirmou ainda que seria "impossível simplesmente devolver o poder aos iraquianos sem colocar o país sob novos riscos, inclusive de um conflito interno". Ele afirmou também, que os EUA já vêm buscando o apoio da ONU para a solução dos problemas no país.
Para o historiador Luis Felipe de Alencastro, da Universidade de Paris 4 (Sorbonne), na França, o presidente Lula "não cometeu nenhum disparate" ao assinar o comunicado. Segundo Alencastro, todos os pontos polêmicos do texto são frutos de um debate mundial. "O próprio secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, chamou as forças americanas no Iraque de forças de ocupação". O historiador disse ainda que a posição brasileira foi "razoável e faz sentido".
O professor de relações internacionais da Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, Alfredo Valladão, diz ser importante separar os conteúdos do comunicado e do discurso feito por Lula durante um jantar em Damasco. "[No discurso], o desequilíbrio surge com a menção da necessidade de Israel devolver à Síria as colinas do Golã. Mas Golã é a "caixa d'água" de Israel e da Cisjordânia, com as nascentes e a reserva de água doce do lago Tiberíades. Lula não citou a necessidade de a Síria dar garantias sobre os mananciais", explica.
Para Valladão, essa posição é "desequilibrada" e deve ser compensada no futuro para não abrir atritos com Israel e com os conservadores norte-americanos.
Já sobre o documento, que fala do conflito no Iraque, Valladão diz que Lula não se contrapõe a Washington: "O comunicado menciona o princípio de terra pela paz, no conflito entre Israel e palestinos, que os norte-americanos apóiam. Os EUA também concordam com a autonomia iraquiana, com os "passos acelerados" nessa direção e com maior papel à ONU", diz.


Texto Anterior: Análise: Texto conjunto dá novo peso a posição conhecida
Próximo Texto: Lula faz interferência indevida, afirma Sobel
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.