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DIPLOMACIA
Recado foi transmitido no dia da posse de Lula
Brasil diz aos EUA que teme efeitos de guerras no Iraque e na Venezuela
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Autoridades do novo governo
brasileiro transmitiram a interlocutores norte-americanos o temor de que duas guerras simultâneas (um ataque norte-americano ao Iraque e uma guerra civil na
Venezuela) joguem o preço do
petróleo nas alturas e torpedeiem
qualquer hipótese de reativação
da economia brasileira neste ano.
As conversas envolveram, do lado dos Estados Unidos, John
Maisto, encarregado de América
Latina na Casa Branca, o responsável pelo comércio exterior, Robert Zoellick, e a embaixadora no
Brasil, Donna Hrinak, tudo durante e pouco depois das cerimônias de posse de Luiz Inácio Lula
da Silva.
A menção às duas guerras foi a
maneira de demonstrar que o governo Lula discorda frontalmente
da posição dos Estados Unidos na
crise da Venezuela, caracterizada
pela defesa da realização de eleições o mais cedo possível.
Como eleições antecipadas violariam a Constituição, o governo
brasileiro (o atual como o anterior) recusa-se a aceitá-las, assim
como o faz o presidente Hugo
Chávez, da Venezuela.
A única hipótese de antecipar a
eleição seria a aprovação de
emenda constitucional, mas o
processo é tão tortuoso que jogaria o pleito para meados do ano.
Como já está previsto, na Constituição venezuelana, o chamado
plebiscito revogatório, para agosto, a hipótese eleitoral fica prejudicada.
A Coordenação Democrática
(CD), organização que reúne os
principais partidos, entidades e
movimentos de oposição da Venezuela, promove uma greve geral desde o dia 2 de dezembro. A
CD pede a renúncia de Chávez,
cujo mandato vai até 2007.
Interesses econômicos
O argumento das duas guerras
foi utilizado para dizer que para o
Brasil uma solução política e negociada na Venezuela não é apenas uma questão de defender
princípios, como a vigência das
instituições democráticas, mas
também defender interesses econômicos vitais.
As autoridades brasileiras usaram, junto aos norte-americanos,
o argumento que o presidente Lula já havia exposto até antes da
posse: eleição na Venezuela não
resolve nada, se não for acompanhada de um acordo político entre governo e oposição que estabeleça o respeito às regras do jogo.
Em caso contrário, o lado perdedor iria para a "insurgência",
conforme a expressão ouvida pela
Folha no Palácio do Planalto, o
que, por sua vez, caracterizaria a
situação de guerra civil.
O próprio Lula tratou de aconselhar Chávez, no café da manhã
de anteontem, para que negociasse com a oposição. O presidente
brasileiro reiterou seu apoio ao
governo legítimo da Venezuela,
mas disse que era importante negociar uma saída para a crise.
O governo Lula está dando a sua
contribuição, ao tentar formar o
chamado "grupo de Amigos" da
Venezuela, para ajudar na missão
de conciliação que o secretário-geral da OEA (Organização dos
Estados Americanos), César Gaviria, está tentando desempenhar,
até agora inutilmente.
França, Espanha e Portugal já
foram contatados, além de países
latino-americanos. Até a ONU está disposta a envolver-se, como
deixou claro o responsável por
Direitos Humanos da organização, o embaixador brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que também
compareceu às cerimônias de troca de governo no Brasil.
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