São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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NO AR

Um juiz lá

NELSON DE SÁ
EDITOR DE ILUSTRADA

Em entrevista à Radiobrás, o ex-ministro Rubens Ricúpero argumentou de forma curiosa, em favor da estratégia do governo Lula nas negociações da Alca:
- No Brasil, os críticos esquecem que a idéia de negociar em termos bilaterais, Mercosul com EUA, nasceu dos americanos... Quem acha que não é boa idéia devia ver que ela partiu dos EUA e não de nós.
O ex-ministro, não sem alguma ironia, parece dizer que os críticos brasileiros, no fundo, defendem seja lá o que interessar aos americanos.
Mais ou menos como na controvérsia dos turistas "fichados" no Brasil e nos EUA.
Não faltou quem criticasse a idéia. Por exemplo, o ex-ministro Luiz Felipe Lampréia, na CBN, dizendo que a decisão afugenta turistas.
A Globo, em suas reportagens, tratou de pressionar, dizendo que "no Brasil a identificação é lenta; nos Estados Unidos, leva 30 segundos".
Em resposta à Globo e outras, a Polícia Federal diminuiu as exigências e anunciou que está "fichando" americanos em apenas dois minutos.
A ironia, também aqui, é que as críticas ao juiz brasileiro que deu a ordem de "fichar" se restringem aos próprios brasileiros. Os visitantes americanos reagem com "bom humor", na expressão da Globo.
Na CNN, um repórter relatou de Atlanta, onde se concentrou a nova exigência:
- Outros países planejam algo parecido. Mas a reação imediata tem se focado no Brasil. Um juiz lá ordenou que os americanos sejam fotografados e fichados como aqui.
E, com "bom humor":
- Curiosamente, um dos primeiros vôos a chegar aqui vem do Brasil. Vai ser interessante descobrir o que os passageiros brasileiros e americanos pensam da experiência.
Até na Fox News a reação foi bem-humorada. Um de seus âncoras ultraconservadores se perguntava, a certa altura, se o programa americano e a retaliação iniciada pelo Brasil indicavam queda no turismo no mundo. Mas acrescentava:
- E importa?
Para o âncora, o problema não era o Brasil, mas a França -cujos cidadãos estão isentos de ser "fichados".
 
FHC e Lula, juntos, ao vivo nos canais de notícias e depois nos telejornais todos.
O ex brincou que falaria pouco, pois "o principal orador" era o presidente. Mas não se conteve e observou que havia sido agraciado pela universidade Notre Dame antes de ser presidente. Vaidade, vaidade.


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