São Paulo, domingo, 06 de janeiro de 2008

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JANIO DE FREITAS

De Lula lá a lelé


"Nunca antes neste país" vi, nos governos civis, semelhante predomínio da insinceridade e sua desfaçatez


AINDA BEM que foi o próprio Lula quem emitiu, para todos os interessados, esta frase de ares definitivos: "Não há nenhuma razão para que alguém faça uma loucura de aumentar a carga tributária". Ainda bem, sim, porque tudo parece amalucado no lançamento do pacote que vinga a derrota de Lula no seu empenho pela CPMF (outra sentença lulista: "Ninguém pode governar sem a CPMF").
No exagero com que decretou como mentiras as afirmações de que não haveria aumento de impostos nem pacotes ("Acabou o tempo dos pacotes"/ "Tenho ojeriza a pacote"), a forra governamental impõe, à população em geral, aumento de imposto que pode chegar a duas, três, quatro ou mais vezes o que era a CPMF. É que os preços não abatem a CPMF neles embutida há anos e lhes acrescentam os aumentos de impostos. Mas, se é assim para a população em geral, o peso punitivo dos aumentos se agrava da classe média para baixo e, com especial pontaria, nas classes mais baixas: são as que dependem das compras a crédito para melhorar o seu padrão de vida.
Na véspera do Natal, dizia Lula, em autolouvação a propósito desses consumidores dependentes do crediário: "Quem está indo a um lugar em que se vende muito percebe que o povo está comprando, está indo às compras. Significa o quê? Significa que essas pessoas estão tendo ascensão em sua vida social, as pessoas estão fazendo parte do mercado, as pessoas estão virando consumidores". Pois foi principalmente a esses, enfim "fazendo parte do mercado" e "virando consumidores", que, uma semana depois, o pacote do Ano Bom presidencial vem refrear na sua "ascensão", com os impostos lançados sobre a modalidade de compra que podem usar. Para dizer o mínimo, essa incidência do imposto é de um reacionarismo revoltante.
Estamos forçados a reconhecer que tamanha falta de senso, na massa de contradições apenas exemplificada aqui, é amalucada o bastante para confirmar a "loucura" que o próprio Lula diagnosticou, por antecipação, em "alguém que faça aumentar a carga tributária". Ele.
Tudo isso é à parte, claro, do que o pacote e o aumento de impostos, negados com tanta ênfase por Lula, representam do ponto de vista ético. Nesse aspecto, ninguém pode dizer que fossem surpreendentes. Por mim, é suficiente um registro: se me desculpam o recurso ao que se tornou um bordão, "nunca antes neste país" vi, nos governos civis, semelhante predomínio da insinceridade e sua desfaçatez.

Nova leva
A inscrição recordista de novos filiados aos 29 partidos -815 mil em 2007- é um mau prenúncio para nossas cidades já tão vitimadas por suas Câmaras de Vereadores. Se houver as exceções de praxe, o que só o tempo dirá, ainda assim o que explica a corrida aos poucos partidos e tantos pseudopartidos é o oportunismo em busca desta boca riquíssima: tornar-se político profissional nas eleições municipais deste ano. Não são, no geral, militantes motivados por idéias e programas, ou não se filiariam só com a antecedência exigida para candidatar-se.
E assim, na completa frouxidão do sistema partidário e eleitoral, se vão fazendo os quadros políticos para legislar e governar o país.


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