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OPERAÇÃO SOCIAL
Lena Lavinas, porém, crítica restrição à compra de alimentos
Economista da OIT elogia
concepção do Fome Zero
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O programa Fome Zero é o primeiro passo do país para, pela primeira vez, ter de fato uma política
social de segurança alimentar.
Além desse projeto, será necessário adotar outros programas de
distribuição de renda, a exemplo
dos que existem em outros países
como os Estados Unidos.
A afirmação é da economista
Lena Lavinas, 49, que trabalha há
três anos no departamento de políticas sociais da OIT (Organização Internacional do Trabalho)
em Genebra (Suíça). Ela também
é professora adjunta da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro) e trabalhou sete anos como pesquisadora na diretoria de
políticas sociais do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada). Leia abaixo a entrevista concedida por Lena Lavinas à Folha:
Folha - Como a sra. analisa o Fome Zero?
Lena Lavinas - Pela primeira vez,
o governo brasileiro dispõe de
uma política de segurança alimentar que trata, de forma integrada e coerente, da questão alimentar e nutricional no país,
abordando o lado da oferta, da
demanda e aspectos de saúde pública e cidadania. Mais do que a
novidade da proposta, o governo
mostra-se comprometido com
um enfoque distinto na formulação das políticas públicas. O Brasil
nunca teve, até hoje, uma política
de segurança alimentar, constituída por distintos programas,
voltados para aspectos estruturais
e imediatos da questão.
Folha - O programa Fome Zero
não corre o risco de se tornar mais
um programa assistencialista?
Lavinas - O programa está sendo
visto neste momento apenas através do seu aspecto emergencial,
quando é muito mais do que isso.
Pouca atenção tem sido dada à dimensão regulatória do programa,
embora a proposta do governo
seja bastante clara quanto aos
seus possíveis impactos. E, nesse
sentido, mais do que um programa Fome Zero, trata-se de um
programa de segurança alimentar, que, no médio e no longo prazos, tende a beneficiar a todos os
segmentos da população, contribuindo para uma redução dos
preços dos alimentos e para garantia da sua qualidade através de
um controle sanitário sistemático, entre outras vantagens.
Folha - Mas ele também é um programa assistencial.
Lavinas - Sem dúvida. Todo programa compensatório é, por definição, um programa assistencial.
Isso, em si, não é um problema. O
grau de exclusão social no Brasil é
tamanho que, em lugar de desvalorizar as políticas assistenciais, o
que cabe fazer é, ao contrário, dispor de políticas compensatórias
eficazes, que atenuem a fragilidade e o grau de insegurança dos
mais pobres no curto prazo, contribuindo para reduzir a pobreza
no médio e longo prazos. Evidentemente, tais programas e políticas devem integrar-se a um sistema de proteção social universal,
redistributivo, progressivo e sustentado. Esse sistema encontra-se, ainda, inacabado no país.
Folha - O que a sra. acha da idéia
dos cartões magnéticos restritos à
alimentação?
Lavinas - Na verdade, a adoção
de cartões magnéticos para transferir benefícios monetários não é
nova. O problema reside na vinculação do benefício à compra exclusiva de alimentos, que mostra
que o governo seguiu o modelo
do programa americano de Food
Stamps. O programa americano
não funciona sozinho. Ele existe
ao mesmo tempo que outros programas de distribuição de renda
extremamente importantes. Não
há como escapar da política de redistribuição de renda em dinheiro, focalizada naqueles que sofrem de déficits agudos de renda.
Folha - A distribuição de dinheiro, portanto, é a melhor opção?
Lavinas - Garantir uma renda
mínima, desvinculada de qualquer obrigatoriedade e condicionalidade, é absolutamente indispensável. Todos os programas assistenciais dos países membros da
União Européia se fazem na forma de transferências de renda
monetária, como o auxílio-moradia (renda vinculada ao pagamento do aluguel), o auxílio-desemprego, entre outros. A todos
esses benefícios, não propriamente vinculados, porém voltados para atender uma carência específica, agregou-se mais um na década
de 90: a renda mínima.
Folha - Não seria ideal unificar todos os programas sociais do Brasil?
Lavinas - Acredito que a coordenação das políticas sociais faz parte das metas do governo. Isso fica
claro, desde já, na maneira pela
qual inúmeros ministérios estão
atuando coordenadamente por
ocasião do lançamento do programa no Piauí. O que deve ficar
claro é que uma política de renda
mínima é indispensável e insubstituível, mas que sozinha também
não resolveria o problema da miséria e da exclusão.
Folha - Qual a sua avaliação dos
programas sociais do governo FHC?
Por que não deram certo?
Lavinas - O governo FHC , na
verdade, assistiu a um aumento
significativo do grau de acessibilidade alimentar entre os mais pobres, com o fim da inflação. Esse é,
sem dúvida, o grande ensinamento da década de 90. Entretanto,
muitos programas que promoviam maior acessibilidade alimentar perderam eficiência e tornaram-se obsoletos. O governo
FHC não se preocupou diretamente com a questão da segurança alimentar. Isso dito, onde havia
seca, enchentes, elas atenderam às
suas especificações emergenciais.
Folha - Como medir a eficácia do
programa Fome Zero?
Lavinas - Isso vai depender dos
seus objetivos. Para cada objetivo,
há que se elaborar uma metodologia específica e um sistema de
monitoramento.
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