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ORÇAMENTO
Governo ameaça bloquear as emendas dos parlamentares
Congresso cria despesas
de R$ 3,8 bi sem receitas
FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília
A lei orçamentária para 2000,
que ainda tramita no Congresso,
está prevendo despesas adicionais (sem receitas) de R$ 3,8 bilhões em relação ao projeto enviado pelo governo.
Esse número, que poderá crescer ainda mais, é reflexo, em grande parte, das emendas apresentadas pelos parlamentares.
Ontem, a Folha revelou que os
deputados que pretendem concorrer nas eleições municipais
deste ano patrocinaram 214
emendas individuais e coletivas
que somam mais de R$ 261 milhões.
O governo está preocupado
com essa alteração no projeto da
lei orçamentária e já considera a
possibilidade de bloquear parte
das despesas adicionadas pelo
Congresso, apurou a Folha.
O acréscimo nas despesas foi
permitido pelo relator-geral do
projeto, deputado Carlos Melles
(PFL-MG), com base em projeções sobre o comportamento das
receitas da União neste ano.
Os consultores da Comissão de
Orçamento calcularam que a
União arrecadará R$ 7 bilhões
além dos R$ 254,9 bilhões previstos originalmente na proposta orçamentária para 2000.
O cálculo foi feito com base na
diferença entre a inflação ocorrida em 1999 e a previsão com a
qual o governo trabalhava em
abril do ano passado, quando estava preparando o Orçamento da
União para este ano.
A lei orçamentária do ano passado previa uma inflação média
de 6,07% para 1999, mas ela chegou a 11,36% (pelo critério de médias do IGP-DI usado historicamente na comissão).
Por causa disso, os técnicos da
comissão que assessoram o relator-geral concluíram que a arrecadação da União neste ano será
mais eficiente do que as estimativas oficiais.
"Os preços dos produtos sobem
com a inflação, e os impostos que
incidem sobre eles arrecadam
mais. O crescimento da economia
provocado pela inflação afeta positivamente a arrecadação dos
impostos, o que fez com que recalculássemos as receitas para
2000", justificou Carlos Melles.
Dos R$ 7 bilhões recalculados,
Melles e sua equipe deduziram as
despesas da União que também
crescerão por causa do aumento
do bolo tributário previsto para
2000 -repasses para Estados e
municípios, transferências constitucionais e despesas da Previdência Social, por exemplo.
O cálculo da comissão ignora,
no entanto, o custo do reajuste do
funcionalismo provocado pela
definição do teto salarial de R$
11,5 mil, na semana passada.
Pressões
Com base nas estimativas de arrecadação, Melles ficou com pouco mais de R$ 3 bilhões e repassou
R$ 2,6 bilhões aos relatores parciais para que atendessem as
emendas dos parlamentares.
Mas a pressão política de deputados e senadores para que suas
emendas fossem acolhidas superou os R$ 2,6 bilhões repassados.
Melles acabou repassando mais
R$ 1,1 bilhão para os relatores parciais da lei orçamentária.
"Só para as emendas individuais, reservamos R$ 880 milhões. Essas emendas são sagradas porque fazem a distribuição
dos recursos da União entre os
municípios", defende o relator-geral do Orçamento de 2000.
Melles possui ainda uma reserva entre R$ 500 milhões e R$ 800
milhões para concluir seu relatório e já adiantou que o dinheiro
será usado para atender novas
despesas reivindicadas por governadores e bancadas estaduais.
Ficção
O líder do governo na Comissão
de Orçamento, deputado Alberto
Goldman (PSDB-SP), disse que o
crescimento das despesas transformará o Orçamento 2000 "em
uma peça de ficção".
De acordo com Goldman, as
despesas estão sendo reajustadas
"artificialmente".
Ele afirmou que o governo será
obrigado a bloquear o gasto previsto pelas emendas, o que acirrará ainda mais o eterno conflito entre União e parlamentares pelos
recursos orçamentários.
O ministro Martus Tavares
(Planejamento, Orçamento e
Gestão) disse que o governo não
aceitará todas as novas despesas
criadas pelo Congresso.
"Vamos aguardar a aprovação
da lei orçamentária e analisar todas as alterações que foram feitas
antes da sanção presidencial",
afirmou o ministro.
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