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JANIO DE FREITAS
Prova de gentileza
Dizem que os jornalistas são
prepotentes, precipitados e
impiedosos, para dizer o menos,
mas ninguém atenta para o esforço da classe em antecipar-se
com certos cuidados e gentilezas.
Um exemplo, nesse sentido, que
não mereceria passar mal percebido, está bem à vista de todos.
Já as primeiras notícias sobre a
operação da Polícia Federal em
São Luís acompanhavam-se da
informação de que Jorge Murad
é sócio minoritário da Lunus
Serviços e Participações Ltda.,
não chegando a ter 20% do capital. Roseana Sarney, sim, figura
nos registros de 99 como possuidora de 82,5% do capital, então
equivalentes a R$ 2,415 milhões
contra R$ 505,62 mil de Murad,
agora detentora de 88% segundo
teria dito, anteontem, em Brasília. Por um ou por outro percentual, ela detém cerca de cinco vezes o que a ele cabe na empresa.
Desde aquelas primeiras notícias, porém, a operação da Polícia Federal foi na "empresa de
Jorge Murad". As suspeitas falsas
e as verdadeiras de negócios ilícitos da empresa foram todas dirigidas a Murad em pessoa.
Calma, nada de imaginar que
o desvio da informação seja por
gentileza com a candidata-governadora Roseana Sarney. É
gentileza imensa, sem dúvida,
mas em outra direção: "Polícia
Federal faz busca em empresa de
Roseana" e todas as formulações
que assim situassem a propriedade predominante seriam muito inconvenientes para o governo. A dimensão política-eleitoral
da operação se projetaria de
imediato, impondo-se a qualquer consideração sobre legitimidade ou ilegitimidade da ordem e da execução da busca policial.
Com ou sem o seu nome diretamente relacionado ao da empresa, Roseana Sarney foi atingida
pelos mesmos ônus, que talvez
estejam só no começo. Para o governo e os governistas, o uso do
nome de Murad pela mídia fez e
faz muita diferença.
A fórmula
Na Câmara, o governismo do
PFL está muito mais atingido do
que no Senado. Conta com a ala
pernambucana e com parte da
ala baiana. A divisão não impediu, porém, que o presidente da
Câmara, Aécio Neves, e o líder
governista Arnaldo Madeira sofressem uma derrota imposta pelo líder do PFL, Inocêncio Oliveira, e desistissem de submeter a
nova CPMF à votação.
"Antes da reunião dos pefelistas na quinta-feira, nada será
votado" -foi a palavra de ordem que Inocêncio conseguiu
impor na Câmara. E o êxito de
sua indignação com o governo
lançou preocupações no comando pefelista e no governo, pela
evidência de que não será fácil,
ou não tanto quanto era esperado, encontrar uma fórmula capaz de compor, amanhã, as tendências pró e contra sair do governo. O PFL tem uma cartola
fértil em fórmulas mágicas e da
qual os coelhos saem com a forma de concessões bem recompensadas, mas desta vez a coisa
está mais interessante: é uma
reunião de partido que pode ter
muita influência na definição da
disputa sucessória.
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