São Paulo, quarta-feira, 06 de março de 2002

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JANIO DE FREITAS

Prova de gentileza

Dizem que os jornalistas são prepotentes, precipitados e impiedosos, para dizer o menos, mas ninguém atenta para o esforço da classe em antecipar-se com certos cuidados e gentilezas. Um exemplo, nesse sentido, que não mereceria passar mal percebido, está bem à vista de todos.
Já as primeiras notícias sobre a operação da Polícia Federal em São Luís acompanhavam-se da informação de que Jorge Murad é sócio minoritário da Lunus Serviços e Participações Ltda., não chegando a ter 20% do capital. Roseana Sarney, sim, figura nos registros de 99 como possuidora de 82,5% do capital, então equivalentes a R$ 2,415 milhões contra R$ 505,62 mil de Murad, agora detentora de 88% segundo teria dito, anteontem, em Brasília. Por um ou por outro percentual, ela detém cerca de cinco vezes o que a ele cabe na empresa.
Desde aquelas primeiras notícias, porém, a operação da Polícia Federal foi na "empresa de Jorge Murad". As suspeitas falsas e as verdadeiras de negócios ilícitos da empresa foram todas dirigidas a Murad em pessoa.
Calma, nada de imaginar que o desvio da informação seja por gentileza com a candidata-governadora Roseana Sarney. É gentileza imensa, sem dúvida, mas em outra direção: "Polícia Federal faz busca em empresa de Roseana" e todas as formulações que assim situassem a propriedade predominante seriam muito inconvenientes para o governo. A dimensão política-eleitoral da operação se projetaria de imediato, impondo-se a qualquer consideração sobre legitimidade ou ilegitimidade da ordem e da execução da busca policial.
Com ou sem o seu nome diretamente relacionado ao da empresa, Roseana Sarney foi atingida pelos mesmos ônus, que talvez estejam só no começo. Para o governo e os governistas, o uso do nome de Murad pela mídia fez e faz muita diferença.

A fórmula
Na Câmara, o governismo do PFL está muito mais atingido do que no Senado. Conta com a ala pernambucana e com parte da ala baiana. A divisão não impediu, porém, que o presidente da Câmara, Aécio Neves, e o líder governista Arnaldo Madeira sofressem uma derrota imposta pelo líder do PFL, Inocêncio Oliveira, e desistissem de submeter a nova CPMF à votação.
"Antes da reunião dos pefelistas na quinta-feira, nada será votado" -foi a palavra de ordem que Inocêncio conseguiu impor na Câmara. E o êxito de sua indignação com o governo lançou preocupações no comando pefelista e no governo, pela evidência de que não será fácil, ou não tanto quanto era esperado, encontrar uma fórmula capaz de compor, amanhã, as tendências pró e contra sair do governo. O PFL tem uma cartola fértil em fórmulas mágicas e da qual os coelhos saem com a forma de concessões bem recompensadas, mas desta vez a coisa está mais interessante: é uma reunião de partido que pode ter muita influência na definição da disputa sucessória.


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