São Paulo, quarta-feira, 06 de março de 2002

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NO AR

Comprar briga

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Aira divina com que Roseana Sarney foi retratada na Globo, anteontem, prosseguia ontem. Mas Roseana já dividia lugar com a relutância costumeira do PFL. Ouvido na rede, a certa altura:
- Os ministros do partido podem até sair, mas...
Saem dos ministérios, antes do previsto, mas mantêm os outros cargos. Saem dos ministérios, mas seguem votando com o governo. Ou não.
O PFL rachou, com governistas como Roberto Brant dizendo que a legenda seguiria votando com FHC. Com Jorge Bornhausen dizendo que, para decidir se deixa a base, o partido deverá ouvir todos os parlamentares -aqueles que detêm cargos de segundo escalão para baixo.
Na ponta oposta, ACM ressurgiu para ofender FHC e se postar ao lado do peemedebista José Sarney na exigência de que o PFL deixe o governo. Com eles, um também redivivo Inocêncio Oliveira barrou as votações.
Um PFL rachado como nunca se viu. Parecido com o PMDB.
 
Nem o Jornal Nacional tem como se furtar à marcha de cobertura de um escândalo.
O telejornal cobriu longamente a investigação de Roseana e Jorge Murad. E deu um verdadeiro discurso do procurador Pedro Taques. Trechos:
- Nós, do Ministério Público Federal, não temos culpa se muitos daqueles investigados figuram em cédulas eleitorais... Os juízes são juízes dignos, honestos, juízes corajosos, que estão simplesmente cumprindo a leir, doa a quem doer.
E assim foi para o espaço, ao menos no JN, a acusação de operação armada. Resta o vazamento para a mídia, para Roseana se agarrar no ataque ao governo. Mas é pouco.
 
Olhando de longe o estrago no PFL, José Serra estreou comerciais e abriu caminho para o programa que inicia hoje a massificação de seu nome.
Na mais chamativa das inserções, o ator global Raul Cortez disse que Serra faz o "impossível" virar "possível":
- Impossível. José Serra já provou que essa palavra não existe. Ele comprou uma briga contra os grandes laboratórios de remédios e ganhou. Comprou uma briga com a indústria de cigarros e também ganhou.
Foi eficiente. Mas deixou uma mensagem subliminar, talvez uma confirmação, de que Serra só faz comprar briga.
 
Nem Roseana nem Serra. Quem deu um salto em sua campanha, ontem no JN e nos demais, foi Geraldo Alckmin, que apareceu para colher votos após a batalha contra o PCC.



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