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CELSO PINTO
Iedi sugere a Lula plano emergencial
O Iedi, instituto de pesquisas
mantido pelos principais
grupos industriais do país, sugeriu ao presidente Lula, há três semanas, que lance um programa emergencial de investimentos industriais. Seria algo da ordem de US$ 10 bilhões, concentrados nos
setores que estão próximos do limite de sua capacidade produtiva.
Um estudo do Iedi montou cinco cenários para 28 setores industriais. Nos três primeiros, supôs crescimento das exportações em
níveis idênticos aos de 2001/2002
e, respectivamente, crescimento
zero, de 2% e de 4% na demanda
interna. No cenário quatro supôs
crescimento de 5% nas exportações e 4% na demanda interna e
no cinco 10% nas exportações e
2% na demanda interna.
Os resultados são "muito preocupantes", avalia o presidente do
Iedi, Ivoncy Ioschpe. Em qualquer
cenário, mesmo com demanda
interna estagnada, cinco setores
chegariam a 95% ou mais da capacidade: papel e gráfica, siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos, outros produtos metalúrgicos e
borracha. Na maioria dos cenários, vários outros setores chegariam próximos ou superariam 90%: têxtil, elementos químicos e
petroquímicos, refino de petróleo
e indústria petroquímica, químicos diversos, minerais não-metálicos e refino de óleos vegetais e
gordura para alimentos.
A conclusão é que o país enfrenta um gargalo grave e generalizado na indústria de bens intermediários e de base. É algo que pode
comprometer não só o atendimento da demanda interna, pressionando a inflação, mas também a expansão desejada das exportações. Em cenários com
maior crescimento de exportação,
o problema chegaria também a
setores de consumo. Um dos poucos setores com bastante capacidade ociosa, por exemplo, é o automobilístico, mas ele seria afetado pela falta de produtos intermediários.
Em vários setores, são investimentos que levam de dois a três
anos para amadurecer. Portanto,
diz Ioschpe, seria preciso articular
um programa emergencial já. Vários meses seriam necessários para organizar o programa. Os desembolsos não coincidiriam, necessariamente, com o quadro
atual de dificuldades econômicas.
Um grupo de líderes do Iedi, como Ioschpe e Paulo Cunha, do
Grupo Ultra, entregou uma carta
com essa e várias outras sugestões
a Lula. O presidente, segundo
Ioschpe, reagiu muito bem às sugestões. Ioschpe discutiu também
a idéia com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do BNDES, Carlos Lessa.
Ioschpe acha que o governo deveria coordenar as ações. Algo no
estilo do gabinete de metas do ex-presidente JK e dos conselhos de
desenvolvimento do ex-presidente Geisel. Dada a escassez de recursos externos, a maior parte do
financiamento teria que vir do
BNDES. Ele acha que as fundações de seguridade poderiam ajudar, adquirindo papéis de longo prazo do BNDES, com remuneração adequada.
Ele incluiu nas sugestões, também, um incentivo fiscal que não
traria problemas junto à Organização Mundial de Comércio. Seria o governo permitir às empresas que investissem nestes programas usar créditos fiscais acumulados por prejuízos passados. Hoje esses créditos só podem ser usados muito gradualmente. Ioschpe
defende que esse incentivo seja
também oferecido às multinacionais que se dispusessem a ampliar
seu saldo comercial. Seria uma
forma de empurrar essas empresas a usar mais o Brasil como base
exportadora.
Na carta que entregaram ao
presidente, os empresários do Iedi, além do apoio à indústria, fazem quatro outras sugestões de
política econômica: 1) manter o
câmbio flutuante, mas evitar
uma valorização excessiva do
real; 2) desonerar completamente
as exportações; 3) apoio à Alca,
desde que implique em expansão
das exportações, e negociações bilaterais com China, Índia, Indonésia e Rússia; e 4) incentivo fiscal
à repatriação de capitais (calcula-se em US$ 80 bilhões o capital
que saiu do Brasil; na Itália, foi
possível atrair de volta 40% do
capital).
A carta faz menção, ainda, a oito "obstáculos internos": 1) evitar
a reindexação, inclusive nas tarifas; 2) reduzir a dívida indexada
ao dólar; 3) ter como objetivo chegar a juros reais comparáveis ao
de países concorrentes; 4) desenvolver o mercado de capitais; 5)
estimular a tecnologia nacional;
6) nova lei de falências, que permita salvar a empresa e o emprego, não, necessariamente, o acionista; 7) incorporar os trabalhadores informais; e 8) combater a
sonegação.
É talvez a mais articulada ofensiva, até agora, do setor industrial
em busca de espaço no governo
PT. Se será bem-sucedida, só os
próximos meses dirão.
E-mail: CelPinto@uol.com.br
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