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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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CELSO PINTO

Iedi sugere a Lula plano emergencial

O Iedi, instituto de pesquisas mantido pelos principais grupos industriais do país, sugeriu ao presidente Lula, há três semanas, que lance um programa emergencial de investimentos industriais. Seria algo da ordem de US$ 10 bilhões, concentrados nos setores que estão próximos do limite de sua capacidade produtiva.
Um estudo do Iedi montou cinco cenários para 28 setores industriais. Nos três primeiros, supôs crescimento das exportações em níveis idênticos aos de 2001/2002 e, respectivamente, crescimento zero, de 2% e de 4% na demanda interna. No cenário quatro supôs crescimento de 5% nas exportações e 4% na demanda interna e no cinco 10% nas exportações e 2% na demanda interna.
Os resultados são "muito preocupantes", avalia o presidente do Iedi, Ivoncy Ioschpe. Em qualquer cenário, mesmo com demanda interna estagnada, cinco setores chegariam a 95% ou mais da capacidade: papel e gráfica, siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos, outros produtos metalúrgicos e borracha. Na maioria dos cenários, vários outros setores chegariam próximos ou superariam 90%: têxtil, elementos químicos e petroquímicos, refino de petróleo e indústria petroquímica, químicos diversos, minerais não-metálicos e refino de óleos vegetais e gordura para alimentos.
A conclusão é que o país enfrenta um gargalo grave e generalizado na indústria de bens intermediários e de base. É algo que pode comprometer não só o atendimento da demanda interna, pressionando a inflação, mas também a expansão desejada das exportações. Em cenários com maior crescimento de exportação, o problema chegaria também a setores de consumo. Um dos poucos setores com bastante capacidade ociosa, por exemplo, é o automobilístico, mas ele seria afetado pela falta de produtos intermediários.
Em vários setores, são investimentos que levam de dois a três anos para amadurecer. Portanto, diz Ioschpe, seria preciso articular um programa emergencial já. Vários meses seriam necessários para organizar o programa. Os desembolsos não coincidiriam, necessariamente, com o quadro atual de dificuldades econômicas.
Um grupo de líderes do Iedi, como Ioschpe e Paulo Cunha, do Grupo Ultra, entregou uma carta com essa e várias outras sugestões a Lula. O presidente, segundo Ioschpe, reagiu muito bem às sugestões. Ioschpe discutiu também a idéia com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do BNDES, Carlos Lessa.
Ioschpe acha que o governo deveria coordenar as ações. Algo no estilo do gabinete de metas do ex-presidente JK e dos conselhos de desenvolvimento do ex-presidente Geisel. Dada a escassez de recursos externos, a maior parte do financiamento teria que vir do BNDES. Ele acha que as fundações de seguridade poderiam ajudar, adquirindo papéis de longo prazo do BNDES, com remuneração adequada.
Ele incluiu nas sugestões, também, um incentivo fiscal que não traria problemas junto à Organização Mundial de Comércio. Seria o governo permitir às empresas que investissem nestes programas usar créditos fiscais acumulados por prejuízos passados. Hoje esses créditos só podem ser usados muito gradualmente. Ioschpe defende que esse incentivo seja também oferecido às multinacionais que se dispusessem a ampliar seu saldo comercial. Seria uma forma de empurrar essas empresas a usar mais o Brasil como base exportadora.
Na carta que entregaram ao presidente, os empresários do Iedi, além do apoio à indústria, fazem quatro outras sugestões de política econômica: 1) manter o câmbio flutuante, mas evitar uma valorização excessiva do real; 2) desonerar completamente as exportações; 3) apoio à Alca, desde que implique em expansão das exportações, e negociações bilaterais com China, Índia, Indonésia e Rússia; e 4) incentivo fiscal à repatriação de capitais (calcula-se em US$ 80 bilhões o capital que saiu do Brasil; na Itália, foi possível atrair de volta 40% do capital).
A carta faz menção, ainda, a oito "obstáculos internos": 1) evitar a reindexação, inclusive nas tarifas; 2) reduzir a dívida indexada ao dólar; 3) ter como objetivo chegar a juros reais comparáveis ao de países concorrentes; 4) desenvolver o mercado de capitais; 5) estimular a tecnologia nacional; 6) nova lei de falências, que permita salvar a empresa e o emprego, não, necessariamente, o acionista; 7) incorporar os trabalhadores informais; e 8) combater a sonegação.
É talvez a mais articulada ofensiva, até agora, do setor industrial em busca de espaço no governo PT. Se será bem-sucedida, só os próximos meses dirão.

E-mail: CelPinto@uol.com.br


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