|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Contra Chávez, Bush lança pacote assistencialista
Na véspera da viagem à América Latina, ele anuncia envio de navio-hospital a países
Dizendo palavras em espanhol, americano afirma ser amigo de trabalhadores e dos camponeses e cita Bolívar como exemplo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na investida mais direta contra os recentes avanços de Hugo Chávez na América Latina, o
presidente norte-americano
George W. Bush anunciou um
pacote de iniciativas assistencialistas para a região que lembram algumas ações já implantadas pelo líder venezuelano.
Entre elas está o envio de um
navio-hospital que atenderá
até 85 mil pessoas de baixa renda, treinamento de professores
em regiões pobres, microempréstimos e financiamento de
casa própria, essa com atuação
prevista também para o Brasil.
O pacote marca uma guinada
na retórica da Casa Branca, de
defesa da democracia e do livre
comércio para combate à pobreza e luta por justiça social.
Bush começa na quinta-feira,
em São Paulo, viagem de sete
dias por cinco países da região.
Seu objetivo político é reconquistar terreno num continente que teria relegado a segundo
plano, segundo seus críticos, o
que abriu portas para o crescimento da influência do esquerdista Hugo Chávez e seu discurso antiamericano, movido
por petrodólares e iniciativas
assistencialistas - parecidas
com as anunciadas por Bush.
Ao anunciar as medidas, o
norte-americano afirmou que,
apesar de avanços, "dezenas de
milhões no nosso continente
continuam presos na pobreza".
Com um discurso com escorregadelas populistas, disse ainda:
"Meu recado a esses "trabajadores y campesinos" é: "Você tem
um amigo aqui nos Estados
Unidos da América"."
Dizer "trabalhadores e camponeses" em espanhol foi apenas uma das incursões do republicano ao idioma durante seu
discurso, em evento no Câmara
de Comércio Hispânico, em
Washington, no qual se referiria ainda ao "sueño americano"
(sonho americano) e terminaria com "Que Dios les bendiga"
(que Deus os abençoe).
Simón Bolívar
Era evidente o esforço do
presidente em se reconectar
com o continente e em mandar
recados a Chávez. Numa provocação calculada, o norte-americano "emprestaria" o símbolo
máximo da "revolução" do líder
venezuelano ao citar o general
Simón Bolívar (1783-1830).
"Perto da Casa Branca fica a
estátua do grande libertador,
Simón Bolívar", começou Bush.
"Ele é comparado freqüentemente a George Washington."
Como Washington, disse o presidente, "era um general que lutou pelo direito das pessoas de
escolher seu governo".
Protestante, o norte-americano chegou a chamar em seu
auxílio João Paulo 2º (1920-2005), ciente de que embarca
para uma região em que há
maioria católica.
"Em seus muitos escritos, o
papa João Paulo 2º falou eloqüentemente da criação de sistemas que respeitem a dignidade do trabalho e o direito à livre-iniciativa", discursou. "A
América Latina precisa de capitalismo para o "campesino", um
capitalismo verdadeiro, que
permita que as pessoas que começam com nada cresçam até o
limite que suas habilidades e
seu trabalho duro o levem."
Especula-se que o pacote tenha sido feito a partir de um esboço elaborado por Nicholas
Burns, o número 3 do Departamento de Estado, e Thomas
Shannon, responsável da chancelaria pela América Latina.
Navio-hospital
"Os trabalhadores pobres da
América Latina precisam de
mudança, e os EUA estão comprometidos com essa mudança", disse Bush, depois de falar
que uma em cada quatro pessoas na região vivia com menos
de US$ 2 por dia, crianças não
terminavam os estudos e muitas mães nunca iam ao médico.
Daí o pacote. Entre outras
medidas, Bush anunciou que
mandará o navio-hospital
"USNS Comfort", com objetivo
de tratar de 85 mil pacientes e
fazer até 1,5 mil cirurgias. Enviará equipes médicas militares
e realizará 62 treinamentos em
14 países. Criará um centro de
treinamento de profissionais
de saúde no Panamá que servirá a toda a América Central.
Por fim, anunciou uma nova
parceria para a "juventude latino-americana" que possibilitará o estudo de inglês nos EUA,
um programa de microfinanciamentos tocado pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, e o secretário do Tesouro,
Henry Paulson, e um novo esforço para financiamento de
moradias populares, incluindo
ações em cidades do Brasil.
Bush aproveitou o encontro
para convocar uma "Conferência da Casa Branca sobre o Hemisfério Ocidental", prevista
para os próximos meses, que
reunirá representantes de empresas, ONGs, voluntários e entidades de fundo religioso para
discutir "maneiras efetivas de
ajudar" pessoas necessitadas.
Etanol ausente
Chamou atenção de presentes o fato de que, num discurso
de mais de 40 minutos e 4.900
palavras, o tema dos biocombustíveis não ter sido citado nenhuma vez. Na sexta, junto do
presidente Lula, o norte-americano anunciará um memorando de biocombustíveis, cujo
ponto principal é expandir o
mercado do álcool para toda a
região.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Análise: Plano de 1961 queria barrar avanço cubano Índice
|