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ANÁLISE
Plano de 1961 queria barrar avanço cubano
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois acontecimentos entrariam em 1961 por portas diferentes na história das relações
entre os Estados Unidos e a
América Latina.
Em abril daquele ano, fracassava o desembarque militar na
Baía dos Porcos, em verdade
uma invasão de Cuba determinada pelo presidente John
Kennedy (1961-1963) para depor o regime de Fidel Castro,
instituído em 1959 e que já havia dado a guinada comunista.
Quatro meses depois, numa
conferência interministerial
em Punta del Este, no Uruguai,
os Estados Unidos lançavam a
Aliança para o Progresso, um
plano muito abrangente que
pretendia financiar o desenvolvimento e reformas para impedir que o exemplo cubano se
alastrasse pelo continente.
A idéia de que a América Latina era essencial para a segurança americana tomou singularmente forma em maio de
1858. Mensagem do presidente
brasileiro, Juscelino Kubitschek, ao dos Estados Unidos,
Dwight Einsenhower, embutia
uma idéia simples: se vocês não
financiarem programas que
nos tirem da miséria, a esquerda revolucionária o fará, com a
ajuda da União Soviética.
A Operação Pan-Americana,
então criada, teve resultados
pífios. O mais perene foi a criação do Banco Interamericano
de Desenvolvimento, para financiar projetos locais.
A Aliança para o Progresso
era ambiciosa. Queria acabar
com o analfabetismo até 1970,
fazer a reforma agrária, distribuir renda, evitar a inflação e
promover a industrialização.
Mas acabou enterrada por
uma série de razões. A começar
pela Guerra Fria. Kennedy
queria excluir do projeto as ditaduras militares, que seus sucessores, Johnson e Nixon,
passaram a estimular como
bons aliados anticastristas.
Em Washington, o Congresso deliberou que empresas
abertas no quadro da aliança só
poderiam exportar 20% de sua
produção para os EUA.
E não se chegou a um quarto
dos recursos que se cogitava
mobilizar -US$ 80 bilhões, em
dez anos, dos quais os EUA garantiriam US$ 20 bilhões.
Além disso, os lobbies agrícolas americanos empurraram
para a aliança o excedente de
sua produção.
Foram construídas algumas
escolas e alguns hospitais. E a
falta de cerimônias do comitê
de gestão da aliança, que funcionava dentro da OEA (Organização dos Estados Americanos), criou cizânias políticas.
No Brasil durante o governo
João Goulart, por exemplo, o
ministro Celso Furtado queria
financiamento em infra-estrutura. Mas o programa tinha um
enfoque bem mais assistencialista. Leonel Brizola, então deputado federal, demonizava a
Aliança para o Progresso e a via
como um aríete dos interesses
intervencionistas americanos.
Veio o golpe de 1964, e a
Aliança para o Progresso emprestou, já em abril, US$ 4 milhões ao regime militar.
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