São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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ANÁLISE

Plano de 1961 queria barrar avanço cubano

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois acontecimentos entrariam em 1961 por portas diferentes na história das relações entre os Estados Unidos e a América Latina.
Em abril daquele ano, fracassava o desembarque militar na Baía dos Porcos, em verdade uma invasão de Cuba determinada pelo presidente John Kennedy (1961-1963) para depor o regime de Fidel Castro, instituído em 1959 e que já havia dado a guinada comunista.
Quatro meses depois, numa conferência interministerial em Punta del Este, no Uruguai, os Estados Unidos lançavam a Aliança para o Progresso, um plano muito abrangente que pretendia financiar o desenvolvimento e reformas para impedir que o exemplo cubano se alastrasse pelo continente.
A idéia de que a América Latina era essencial para a segurança americana tomou singularmente forma em maio de 1858. Mensagem do presidente brasileiro, Juscelino Kubitschek, ao dos Estados Unidos, Dwight Einsenhower, embutia uma idéia simples: se vocês não financiarem programas que nos tirem da miséria, a esquerda revolucionária o fará, com a ajuda da União Soviética.
A Operação Pan-Americana, então criada, teve resultados pífios. O mais perene foi a criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento, para financiar projetos locais.
A Aliança para o Progresso era ambiciosa. Queria acabar com o analfabetismo até 1970, fazer a reforma agrária, distribuir renda, evitar a inflação e promover a industrialização.
Mas acabou enterrada por uma série de razões. A começar pela Guerra Fria. Kennedy queria excluir do projeto as ditaduras militares, que seus sucessores, Johnson e Nixon, passaram a estimular como bons aliados anticastristas.
Em Washington, o Congresso deliberou que empresas abertas no quadro da aliança só poderiam exportar 20% de sua produção para os EUA.
E não se chegou a um quarto dos recursos que se cogitava mobilizar -US$ 80 bilhões, em dez anos, dos quais os EUA garantiriam US$ 20 bilhões.
Além disso, os lobbies agrícolas americanos empurraram para a aliança o excedente de sua produção.
Foram construídas algumas escolas e alguns hospitais. E a falta de cerimônias do comitê de gestão da aliança, que funcionava dentro da OEA (Organização dos Estados Americanos), criou cizânias políticas.
No Brasil durante o governo João Goulart, por exemplo, o ministro Celso Furtado queria financiamento em infra-estrutura. Mas o programa tinha um enfoque bem mais assistencialista. Leonel Brizola, então deputado federal, demonizava a Aliança para o Progresso e a via como um aríete dos interesses intervencionistas americanos.
Veio o golpe de 1964, e a Aliança para o Progresso emprestou, já em abril, US$ 4 milhões ao regime militar.


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