São Paulo, terça-feira, 06 de março de 2007

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JANIO DE FREITAS

A violência do mapa


Mapa confiável da violência não é um conhecimento que os brasileiros possam esperar para um futuro razoável

O MAPA DA Violência no Brasil, feito sob a chancela da Organização dos Estados Ibero-Americanos com a colaboração do Ministério da Saúde, e os meios de comunicação violentaram a veracidade da estatística criminal, os municípios e a realidade da insegurança pública. Não, porém, ou sobretudo não só, em razão dos motivos da Secretaria de Segurança paulista para a contestação que faz ao Mapa.
Imprensa e TV embarcaram, animadas, na deformação que o estudo adotou e projetou, por presunção, já no seu título: Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros. A estatística e seu noticiário não trataram, como têm dito, da violência. O Mapa ocupou-se, na medida do possível, de mortes violentas, ou do que assim é chamado.
A maior contribuição para a insegurança pública, no entanto, nos centros maiores parece advir, apesar da força traumática de certas mortes provocadas, de outras violências mais disseminadas, no dia-a-dia, contra a população. Assaltos à pessoa, roubos armados de automóveis, assaltos a moradias, seqüestros relâmpagos, arrastões em engarrafamentos, estas, e ainda várias outras, são formas de violência que nos desassossegam a qualquer tempo e em qualquer situação na quase totalidade de nossas cidades médias e grandes. Mas não foram incluídas no Mapa da Violência. Que teve razões de finalidade para não as incluir, não para lhes usar a denominação genérica e farta no título, cuja impropriedade enganosa o noticiário multiplicou.
Mapa confiável da violência não é um conhecimento que os brasileiros possam esperar para futuro razoável. Os levantamentos são traídos por duas forças equivalentes. Ressaltou-se há pouco, por intermédio do caso em que o ministro Guido Mantega foi uma das vítimas, a preferência de muitos assaltados por não registrar o fato, defendendo-se de vinganças possíveis. De assaltos menores, então, nem se fale, tal é a força do conformismo com a inutilidade. De outra parte, contra as estatísticas realistas interferem as próprias polícias, com métodos estatísticos diferentes, descuido e, com freqüência imaginável, omissões deliberadas e adulterações.
A informação fornecida pelos meios de comunicação não é muito melhor, para refletir a realidade. É cada vez mais incompleta, com a engraçada tese de que o leitor de hoje não mais deseja notícias de atualidade, recebidas pela TV e pela internet -tão ou mais incompletas, ligeiras e deformadoras, pelo sensacionalismo barato, do que a imprensa que as admira. Além disso, em grande parte, e sob certas situações no total mesmo, esse noticiário é adaptado a objetivos políticos, ou outros, de muitos jornais e emissoras.
O que sobra de mais confiável, para a percepção de um mapa da violência real, é o sentimento de cada vítima, possível ou consumada, gentilmente proporcionado por cada bandido, efetivo ou imaginado.

Lula
Geddel Vieira Lima como ministro ainda é inacreditável. Geddel Vieira Lima com o rico Ministério da Integração Nacional não comporta adjetivo. Mais uma evidência de que estatísticas da grande violência não são confiáveis.


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