São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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RUMO A 2002

Presidente estimula filiação de ministro da Fazenda para pôr panos quentes na disputa entre tucanos
FHC lança Malan para esfriar Serra e Tasso

KENNEDY ALENCAR
SÍLVIA MUGNATTO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso estimula a filiação do ministro da Fazenda, Pedro Malan, ao PSDB para sinalizar a José Serra, ministro da Saúde, e Tasso Jereissati, governador do Ceará, que quer um esfriamento na disputa entre ambos pela candidatura tucana ao Planalto.
O presidente, mais uma vez, deixa claro com o gesto que pretende ter o controle sobre sua própria sucessão. E mostra que pode ampliar o leque de pré-candidatos, reembaralhando as cartas do jogo ao recolocar Malan na lista de possíveis presidenciáveis.
A Folha apurou que Malan, apesar de evasivo, examina a possibilidade de se filiar ao PSDB. Um auxiliar de FHC prevê uma decisão do ministro até julho. Se quiser concorrer a um cargo público, Malan precisará se filiar a um partido até 5 de outubro deste ano -12 meses antes da eleição.
Ontem, por meio da assessoria, ele repetiu: "Não serei candidato a nada. Não tenho interesse". No entanto, se recusou a falar da possibilidade de filiação. A Folha pediu uma resposta mais conclusiva. O ministro não quis dá-la. Respondeu, pela assessoria, que não falaria do assunto.
O PFL é o segundo na fila. O presidente do partido, Jorge Bornhausen, gostaria de levá-lo para a legenda. A Folha apurou, porém, que auxiliares de Malan avaliam que isso deflagraria uma guerra com os tucanos. Caso se filie, Malan deve optar pelo PSDB.

Serra Serra, cujo projeto presidencial conta hoje com a preferência velada de FHC, é ao mesmo tempo beneficiado e prejudicado pela inclusão de Malan no jogo.
De imediato, um novo nome ajuda a tirá-lo de evidência. Serra é o tucano mais bem posicionado em pesquisas de opinião sobre 2002 (9% e 10% no Datafolha, a depender do cenário), e teme por isso o bombardeio contra si dentro e fora do PSDB.
No futuro, porém, Malan pode se transformar em ameaça real a Serra. O ministro da Fazenda tem a simpatia do empresariado, o financeiro à frente, e seria o candidato que mais se identifica com o presidente. No Planalto, diz-se que, co Malan, seria como se FHC disputasse um terceiro mandato.
O presidente volta a trazer Malan ao palco presidencial na hora em que obtém trégua com a provável morte da CPI da corrupção.
Por meio do porta-voz, Georges Lamazière, FHC afirmou que a eventual filiação de Malan seria algo "ótimo, bom". O porta-voz, porém, disse que FHC "nunca viu o ministro mostrar disposição para a vida partidária".
O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, engrossou o coro de FHC, convidando ontem Malan a entrar no PSDB. "É um excelente nome. Se é por falta de convite, está feito", disse.
"Se o presidente pensa no nome de Malan, é claro que acha que ele pode ser uma opção, seja para uma disputa estadual ou a presidencial", afirmou Pimenta.
O ministro Paulo Renato Souza (Educação) também defendeu a filiação: "Creio que deva se filiar. Será muito bem-vindo no PSDB", disse o ministro.
Na Fazenda, diz-se que o debate sucessório diverte Malan. Ele afirma que as especulações em torno dele chegaram a um ponto em que, se não concorrer, será visto como um derrotado. Um auxiliar brinca que o ministro diz que ainda verá uma reportagem com o título "Derrotado, Malan não consegue se candidatar".


Colaboraram WILLIAM FRANÇA e LEILA SUWWAN, da Sucursal de Brasília


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