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INVESTIGAÇÃO
Relatório da PF traz indícios de que US$ 4 mi em depósitos em contas-fantasmas tenham sido usados na eleição de 90
Verba teria financiado campanha de ACM
DA ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR
O relatório da Polícia Federal
sobre as contas-fantasmas no Citibank e no Banco Econômico,
em Salvador, que deu origem à
ação judicial, apontou indícios de
que o dinheiro (cerca de US$ 4
milhões em depósitos) teria sido
usado no financiamento da campanha de Antonio Carlos Magalhães (PFL) para o governo do Estado da Bahia, em 1990.
O delegado Roberto Chagas
Monteiro, autor do relatório, citou quatro indícios nesse sentido:
a participação de funcionários da
TV Bahia (da família do senador
pefelista) na abertura das contas;
a coincidência entre o período de
vida da conta (julho de 90 a janeiro de 91) e a campanha eleitoral; o
alto valor dos depósitos, condizente com a dimensão da campanha e o depoimento do empreiteiro Thales Sarmento, dono da
construtora Sérvia, da Bahia, que
admitiu ter contribuído para
campanhas eleitorais de candidatos do Nordeste.
Elemento-chave
Sarmento foi elemento-chave
para a investigação.
Ele estava sob a mira da PF por
ter aberto duas contas-fantasmas
no Banco Mercantil da Bahia e repassado dinheiro para Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, por intermédio
delas.
A conta do Citibank só foi descoberta porque também recebeu
dinheiro de Sarmento.
Ele afirmou em depoimento à
PF que ajudou candidatos diversos na Bahia, Sergipe e outros Estados do Nordeste onde sua empresa atuava, mas não citou nome
dos políticos beneficiados.
Mais indícios
Na ocasião do inquérito, outras
empresas e pessoas que também
tiveram cheques depositados na
conta-fantasma do Citibank forneceram ao delegado Roberto
Monteiro mais indícios de que o
dinheiro teria sido usado na campanha do então candidato pefelista ao governo da Bahia, Antonio
Carlos Magalhães.
O médico José Leopoldo Valverde foi um deles. Questionado
por que fez depósitos em favor de
Hugo Tavares Freire Filho (o fantasma da conta do Citibank), respondeu que o dinheiro era doação para campanhas eleitorais no
Estado da Bahia e que havia assinado o cheque sem preencher o
espaço destinado à identificação
do destinatário.
Segundo Valverde, foram ""contribuições quase simbólicas, com
intuito de atender amigos".
O médico também não identificou os beneficiários de suas doações.
A empresa de ônibus (interestadual) Viação Novo Horizonte deu
uma justificativa surpreendente
para o depósito.
Disse que o cheque, encontrado
na conta do fantasma, era pagamento ao ex-deputado federal Sebastião Ferreira da Silva, de Barreiras (BA), que seria intermediário da empresa junto ao DNER
(Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) para a obtenção de linhas rodoviárias.
O ex-deputado morreu em acidente de avião em 92.
Odebrecht
A Construtora Norberto Odebrecht teve dor de cabeça com
seus cheques, que, segundo o delegado, foram a grande fonte de
alimentação da conta.
Além dos CR$ 20 milhões (cerca
de US$ 300 mil) que depositou na
conta na TV Bahia no dia em que
a conta de Hugo foi aberta no Citibank, a construtora emitiu cheques em favor da InterTV que, em
seguida, apareceram na conta do
fantasma.
O delegado não aceitou as explicações dadas pela TV Bahia para o
cheque que recebeu da Odebrecht
e indiciou o diretor da emissora,
Isaac Edington, responsável pela
informação, por falso testemunho.
Foram igualmente rejeitadas as
explicações para os cheques emitidos em favor da InterTV. Dois
diretores da empreiteira -Paul
Elie Altit (financeiro) e Carlos Jorge Azevedo (planejamento)-
admitiram que a empresa não
possuía comprovantes de serviços prestados pela InterTV e que,
por isto, desistiu de lançar os gastos como despesas no Imposto de
Renda.
Desinformados
Outro depositante na conta, a
empresa Modelo Corretora de Seguros, disse que emitira o cheque
em favor da Viação Novo Horizonte e que desconhecia o destino
final dado ao dinheiro.
A empreiteira Encosa Engenharia e Comércio Salvador disse que
seu cheque se destinava a pagamento de despesas de obras no
município de Aiquara (BA) e que
não tinha "a mínima idéia" de como ele fora parar na conta do fantasma Hugo.
Outra empreiteira, a Ergon Engenharia (já desativada), disse
que seu cheque havia sido emitido para pagamento à J. G. Empreiteira, Comércio, Indústria e
Aluguel de Máquinas, de Feira de
Santana (BA).
""Foram inúteis os esforços para
localizar a empresa J. G. Empreiteira, Comércio, Industria e Aluguel de Máquinas", escreveu o delegado em seu relatório, deixando
a entender que ela não existia.
Explicação prosaica
Surgiram explicações ainda
mais prosaicas. O proprietário da
empresa Cimentex Comércio de
Materiais de Construção e Cereais
Ltda., Rubem Cerqueira Teixeira,
que teve um cheque depositado
na conta de Hugo, disse que o
mesmo havia sido trocado, mediante ágio, durante o Plano Collor, na agência do Banco Mercantil de São de Paulo em Feira de
Santana.
(ELVIRA LOBATO)
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