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SEM-TERRA
MST recebe incentivo para pressionar FHC
Acampados tentam pressionar governo
MALU GASPAR
ENVIADA ESPECIAL A URUANA DE MINAS
Nos bastidores, o MST está sendo incentivado pelo governo e pela Polícia Militar de Minas Gerais
a pressionar o presidente Fernando Henrique Cardoso para obter
uma negociação com o grupo
acampado em frente à fazenda do
embaixador Paulo Tarso Flecha
de Lima, em Uruana (MG).
Os sem-terra cogitam duas possibilidades: invadir novamente a
propriedade ou transferir o acampamento para a fazenda dos filhos
de FHC, em Buritis (MG).
"Vocês foram pedir ao anjo e
não funcionou. Agora, só resta
pedir a Deus", dizia anteontem à
noite, cercado de sem-terra, o coronel da PM Ciro de Oliveira Rodrigues, que comanda a operação
de proteção à fazenda Renascença, de Flecha de Lima.
Por trás da afirmação, está a
compreensão, comum à PM e à liderança do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais sem Terra),
de que voltar a invadir a Renascença só trará prejuízo ao governador Itamar Franco, espécie de
aliado dos sem-terra no episódio.
A decisão será tomada hoje e
depende dos resultados de uma
reunião com um técnico do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), enviado
de Brasília. Até o final da tarde de
ontem, a reunião continuava.
Os cerca de 400 acampados tinham expectativa de que a reunião definisse a implantação de
algumas reivindicações, como a
ampliação do crédito agrícola.
Mas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o técnico
apenas explicaria o andamento da
pauta acordada no ano passado.
A proposta de partir em direção
à fazenda Córrego da Ponte, dos
filhos de FHC, foi a mais aplaudida na assembléia de anteontem,
logo depois que o Incra anunciou
que não se reuniria com o MST.
Parte dos acampados crê que a
melhor forma de pressionar o governo seria voltar a ocupar a Renascença, mas a liderança acha
que o melhor é pressionar FHC.
Depois de duas semanas, os
acampados estão cansados, com
pouco dinheiro e um estoque baixo de comida. Isso poderia fortalecer uma decisão de invadir novamente a fazenda do embaixador. Uma caminhada até a fazenda dos filhos de FHC, distante cerca de 160 km, levaria de cinco a oito dias, dizem os sem-terra.
Anteontem, Itamar afirmou
que, ao negar uma reunião com
os sem-terra, o governo está "querendo um cadáver" em Uruana.
A afirmação foi vista como
"muito simpática" pelo coordenador nacional do MST Gilmar
Mauro, que admite ser um problema político forçar algum tipo
de conflito com a polícia mineira.
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