São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

Texto Anterior | Índice

SEM-TERRA

MST recebe incentivo para pressionar FHC

Acampados tentam pressionar governo

MALU GASPAR
ENVIADA ESPECIAL A URUANA DE MINAS

Nos bastidores, o MST está sendo incentivado pelo governo e pela Polícia Militar de Minas Gerais a pressionar o presidente Fernando Henrique Cardoso para obter uma negociação com o grupo acampado em frente à fazenda do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, em Uruana (MG).
Os sem-terra cogitam duas possibilidades: invadir novamente a propriedade ou transferir o acampamento para a fazenda dos filhos de FHC, em Buritis (MG).
"Vocês foram pedir ao anjo e não funcionou. Agora, só resta pedir a Deus", dizia anteontem à noite, cercado de sem-terra, o coronel da PM Ciro de Oliveira Rodrigues, que comanda a operação de proteção à fazenda Renascença, de Flecha de Lima.
Por trás da afirmação, está a compreensão, comum à PM e à liderança do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), de que voltar a invadir a Renascença só trará prejuízo ao governador Itamar Franco, espécie de aliado dos sem-terra no episódio.
A decisão será tomada hoje e depende dos resultados de uma reunião com um técnico do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), enviado de Brasília. Até o final da tarde de ontem, a reunião continuava.
Os cerca de 400 acampados tinham expectativa de que a reunião definisse a implantação de algumas reivindicações, como a ampliação do crédito agrícola. Mas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o técnico apenas explicaria o andamento da pauta acordada no ano passado.
A proposta de partir em direção à fazenda Córrego da Ponte, dos filhos de FHC, foi a mais aplaudida na assembléia de anteontem, logo depois que o Incra anunciou que não se reuniria com o MST.
Parte dos acampados crê que a melhor forma de pressionar o governo seria voltar a ocupar a Renascença, mas a liderança acha que o melhor é pressionar FHC.
Depois de duas semanas, os acampados estão cansados, com pouco dinheiro e um estoque baixo de comida. Isso poderia fortalecer uma decisão de invadir novamente a fazenda do embaixador. Uma caminhada até a fazenda dos filhos de FHC, distante cerca de 160 km, levaria de cinco a oito dias, dizem os sem-terra.
Anteontem, Itamar afirmou que, ao negar uma reunião com os sem-terra, o governo está "querendo um cadáver" em Uruana.
A afirmação foi vista como "muito simpática" pelo coordenador nacional do MST Gilmar Mauro, que admite ser um problema político forçar algum tipo de conflito com a polícia mineira.


Texto Anterior: Câmara: Verba de deputados sobe para R$ 32 mil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.