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PERFIL
Governadora foi camelô e empregada doméstica
DA SUCURSAL DO RIO
Já é chavão afirmar que Benedita da Silva tem uma trajetória única na política brasileira. Mas de
que outra maneira descrever uma
pessoa que nasceu numa favela,
trabalhou como camelô e empregada doméstica e, aos 60 anos,
conseguiu chegar a governadora
de um dos mais importantes Estados da federação?
A vida de Benedita pode ser dividida em duas etapas -a da extrema pobreza da infância e juventude e a da ascensão política, a
partir de 1982. Ascensão marcada
pelo seu slogan -"mulher, negra
e favelada"-, mas também por
denúncias de nepotismo.
Filha de lavadeira e de pedreiro,
Benedita teve 14 irmãos. Nascida
na favela da Praia do Pinto, que
hoje não existe mais, começou a
trabalhar aos 7 anos, vendendo limão na rua. A miséria era tanta
que Benedita, aos 8 anos, nem tinha calcinha para usar. Para ir à
escola, pegava um pedaço de saco
plástico e amarrava na cintura,
por baixo da saia.
O primeiro dos seus três casamentos, aos 16 anos, não melhorou sua condição econômica. Teve quatro filhos, mas dois morreram pouco depois do nascimento.
Um deles foi enterrado como indigente por falta de dinheiro para
custear o funeral.
Líder comunitária
A reviravolta teve início quando, já morando no morro do Chapéu Mangueira, em Copacabana,
começou a atuar como líder comunitária da favela. Presidiu a
Associação das Mulheres do Chapéu Mangueira e trabalhou no
Departamento Feminino da Federação das Associações de Favelas do Rio. Também concluiu o
supletivo e obteve diploma universitário em estudos sociais e
serviço social.
Graças à sua militância, Benedita conseguiu se eleger vereadora
em 1982, ser eleita duas vezes deputada federal e chegar ao Senado, em 1994 -sempre pelo PT.
Em 1992, ela disputou o segundo turno para a Prefeitura do Rio
contra Cesar Maia, então no
PMDB. Um dos motivos de sua
derrota foi a descoberta de que,
quando vereadora, Benedita havia contratado seus dois filhos e
uma enteada como funcionários
da Câmara. Para ser contratado, o
filho Pedro Paulo apresentou um
diploma falso. Benedita diz que
desconhecia o fato.
Já como senadora, sofreu novo
desgaste quando foi divulgado
que seu apartamento funcional
em Brasília estava passando por
um reforma, paga pelo erário, que
incluía a instalação de uma banheira de hidromassagem.
Em 1998, ela foi uma das mais
ardorosas defensoras da aliança
com Anthony Garotinho para o
governo do Rio. Virou sua vice.
Ambos tinham em comum o fato
de serem evangélicos. Benedita se
converteu aos 26 anos e, assim como Garotinho, é criticada por
misturar religião com política.
O divórcio político aconteceu
em 2000. O PT, que já havia sido
chamado de o "partido da boquinha" por Garotinho, decidiu sair
do governo. Desde então, como
acontece em grande parte das separações litigiosas, o passatempo
de ambos é falar mal do outro.
(GABRIELA WOLTHERS)
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