São Paulo, sábado, 06 de abril de 2002

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PERFIL

Governadora foi camelô e empregada doméstica

DA SUCURSAL DO RIO

Já é chavão afirmar que Benedita da Silva tem uma trajetória única na política brasileira. Mas de que outra maneira descrever uma pessoa que nasceu numa favela, trabalhou como camelô e empregada doméstica e, aos 60 anos, conseguiu chegar a governadora de um dos mais importantes Estados da federação?
A vida de Benedita pode ser dividida em duas etapas -a da extrema pobreza da infância e juventude e a da ascensão política, a partir de 1982. Ascensão marcada pelo seu slogan -"mulher, negra e favelada"-, mas também por denúncias de nepotismo.
Filha de lavadeira e de pedreiro, Benedita teve 14 irmãos. Nascida na favela da Praia do Pinto, que hoje não existe mais, começou a trabalhar aos 7 anos, vendendo limão na rua. A miséria era tanta que Benedita, aos 8 anos, nem tinha calcinha para usar. Para ir à escola, pegava um pedaço de saco plástico e amarrava na cintura, por baixo da saia.
O primeiro dos seus três casamentos, aos 16 anos, não melhorou sua condição econômica. Teve quatro filhos, mas dois morreram pouco depois do nascimento. Um deles foi enterrado como indigente por falta de dinheiro para custear o funeral.

Líder comunitária
A reviravolta teve início quando, já morando no morro do Chapéu Mangueira, em Copacabana, começou a atuar como líder comunitária da favela. Presidiu a Associação das Mulheres do Chapéu Mangueira e trabalhou no Departamento Feminino da Federação das Associações de Favelas do Rio. Também concluiu o supletivo e obteve diploma universitário em estudos sociais e serviço social.
Graças à sua militância, Benedita conseguiu se eleger vereadora em 1982, ser eleita duas vezes deputada federal e chegar ao Senado, em 1994 -sempre pelo PT.
Em 1992, ela disputou o segundo turno para a Prefeitura do Rio contra Cesar Maia, então no PMDB. Um dos motivos de sua derrota foi a descoberta de que, quando vereadora, Benedita havia contratado seus dois filhos e uma enteada como funcionários da Câmara. Para ser contratado, o filho Pedro Paulo apresentou um diploma falso. Benedita diz que desconhecia o fato.
Já como senadora, sofreu novo desgaste quando foi divulgado que seu apartamento funcional em Brasília estava passando por um reforma, paga pelo erário, que incluía a instalação de uma banheira de hidromassagem.
Em 1998, ela foi uma das mais ardorosas defensoras da aliança com Anthony Garotinho para o governo do Rio. Virou sua vice. Ambos tinham em comum o fato de serem evangélicos. Benedita se converteu aos 26 anos e, assim como Garotinho, é criticada por misturar religião com política.
O divórcio político aconteceu em 2000. O PT, que já havia sido chamado de o "partido da boquinha" por Garotinho, decidiu sair do governo. Desde então, como acontece em grande parte das separações litigiosas, o passatempo de ambos é falar mal do outro.
(GABRIELA WOLTHERS)


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