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ENERGIA POLÍTICA
Norte-americanos pressionam por assinatura de novo acordo
EUA pedem "compromisso" ao Brasil e acesso total ao urânio
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Os EUA pediram ontem que o
Brasil "mostre compromisso com
a não-proliferação de armas nucleares" e assine um protocolo
adicional com a AIEA (Agência
Internacional de Energia Atômica), da ONU, o que permitiria
maior acesso às instalações das
plantas comerciais de produção
de urânio enriquecido do Brasil,
na cidade de Resende (RJ).
A intenção de pressionar o Brasil para a assinatura do novo acordo de inspeção foi divulgada por
um funcionário do Departamento de Estado dos EUA que não
quis ser identificado.
O anúncio se segue à publicação
de uma reportagem do jornal
americano "Washington Post",
que noticiou supostas barreiras
impostas pelo governo brasileiro
às inspeções de suas instalações
de enriquecimento de urânio para
uso na produção de energia, e antecede a visita do secretário de
Energia dos EUA, Spencer Abraham, ao Brasil -prevista para a
segunda metade deste mês. Entre
outros assuntos, segundo o funcionário, ele discutirá a adesão do
país às novas regras.
A pressão para a assinatura do
novo acordo poderia incluir sanções comerciais. O funcionário do
Departamento de Estado citou
discurso do presidente dos EUA,
George W. Bush, no qual pede "a
todos os Estados" que assinem o
protocolo de inspeção adicional e
recomenda a fabricantes de produtos ligados à produção nuclear
que condicionem suas exportações à assinatura do acordo pelo
país comprador.
Segundo o "Washington Post",
o Brasil proibiu inspetores da
ONU de examinar a instalação de
enriquecimento de urânio, em
construção em Resende, alegando
a defesa de "segredos industriais".
A proibição teria sido confirmada
por diplomatas e autoridades brasileiras em Viena, sede da AIEA.
A AIEA não quis comentar o caso. A porta-voz da agência, Melissa Fleming, disse que o assunto
está sendo discutido com a missão brasileira em Viena.
A Embaixada do Brasil na Áustria, porém, afirmou que não havia sido procurada pela AIEA. Os
diplomatas brasileiros também
aguardavam instrução de Brasília.
Fiscalização maior
Pelo acordo de não-proliferação
nuclear hoje aceito pelo Brasil, as
inspeções para verificar se uma
instalação como a de Resende estaria produzindo material nuclear
não-autorizado pelos acordos internacionais estão limitadas a
"pontos estratégicos". O novo
protocolo daria aos inspetores
acesso "a todas as partes" da produção de urânio e a "todos os prédios" onde ela ocorre. Exatamente o que estaria em questão em
Resende.
Segundo a AIEA, 82 países já assinaram o novo protocolo. O mais
recente deles foi o México. Mais
de 140 países participam do acordo de salvaguardas e fiscalização
que o Brasil assina.
A Folha apurou que o governo
brasileiro avalia que os EUA querem ter acesso às ultracentrífugas
de enriquecimento de urânio, de
tecnologia brasileira e mais baratas, porque o país poderia produzi-las em escala industrial e exportá-las para outros países -incluindo Estados que fossem considerados "inimigos" ou "perigosos" pelos americanos.
O funcionário do Departamento de Estado disse que os EUA
acreditam que os inspetores "deveriam ter todos os instrumentos
necessários para monitorar" as
instalações brasileiras. E pediam
ainda que "o Brasil e a AIEA trabalhem juntos para assegurar total implementação" das regras
atuais nas instalações brasileiras.
Ele fez questão de ressalvar que
o histórico do Brasil no comprometimento com a não-proliferação de armas nucleares é bom e
que o país "claramente renunciou
a perseguir esforços para a construção de armas nucleares há cerca de 20 anos".
Colaborou RICARDO WESTIN, da Reportagem Local
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