São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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JANIO DE FREITAS

Notícia breve

Desde que Lula e o PT mostraram-se convertidos ao fernandismo, nada aconteceu na vida política nacional que fosse propriamente inesperável - a menos que se possa dirigir um olhar desinteressado ou sem preconceito para o Rio, cidade e Estado. A tarefa, para o cidadão comum do Rio ou de fora, não é fácil, porque a mídia de outros Estados trata os fatos cariocas/ fluminenses com preconceituosa obsessão pela violência e a local, inclusive ou sobretudo a grande TV, fortalece as visões preconceituosas e tem más relações com o governo fluminense. Fatores que justificam, suponho, uma breve notícia das surpresas no Rio.
Ninguém tinha motivo para esperar que Anthony Garotinho, com o gesto audacioso de assumir a Secretaria de Segurança sob descontrole total da violência, quisesse mais do que um cargo para se manter à tona. Comparados com o governo do seu antecessor Marcello Alencar, seus anos de governador foram bem razoáveis, consideradas a penúria e a quantidade dos demais problemas que encontrou. Mas daí a um crédito de esperança no seu desempenho a distância era grande. A tarefa era muito maior do que o Garotinho conhecido.
As peculiaridades do Rio, com uma grande favela em cada bairro, o luxo e a pobreza desempregada confrontando-se em todos os espaços urbanos, facilitam à marginalidade o assédio violento e o refúgio. O problema daí decorrente é imenso, por sua própria extensão geográfica e demográfica, como pela dimensão absurda das dificuldades de modos e recursos para prevenção/repressão. Daí que a perda de controle tenha se instalado com tanta rapidez, na veloz medida em que a pedagogia da criminalidade difundiu o ensinamento de que havia uma solução, na arma ou no tráfico, para a vida jovem fora do trabalho - por desemprego ou por opção.
Mesmo com a colaboração do governo federal, que foi o grande criador das condições para a desenvoltura da criminalidade urbana, o retrocesso da insegurança generalizada seria difícil; sem a colaboração, que jamais existiu, não passava de hipótese fantasiosa nas boas intenções de uns quantos teóricos. Mas existe hoje uma situação surpreendente.
À parte as estatísticas policiais, que não são confiáveis em lugar algum por culpa tanto das polícias como das vítimas acomodadas ou temerosas, há uma distensão visível, palpável quase, no Rio. O carioca não está mais sujeito a um assalto do que em qualquer outra cidade maior do país. E isso se deve a um esforço gigantesco de policiamento, em quantidade e em intensidade das operações. Com uma preocupação adicional há muito esperada: a limpeza nas polícias civil e militar é diária, e em proporção que impressiona pelo alcance da contaminação policial por todos os tipos de criminalidade.
Nada pode impedir novos assaltos, novos assassinatos, mais ações dos bandos que se acoitam nas favelas e, em resposta à repressão eficiente, dão o salto para um novo estágio da violência: passam eles a iniciativas de ataque à polícia. Má novidade que é um bom sinal. Entre os bons sinais que se vêem nas calçadas, nas ruas, nos rostos menos tensos. Sinais que não aparecem na mídia. O que se explica, em parte, porque o governo fluminense tem o defeito, para os padrões atuais, de não recorrer aos Dudas, Nizans e publicidades multimilionárias.


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