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JANIO DE FREITAS
Notícia breve
Desde que Lula e o PT mostraram-se convertidos ao
fernandismo, nada aconteceu
na vida política nacional que
fosse propriamente inesperável
- a menos que se possa dirigir
um olhar desinteressado ou sem
preconceito para o Rio, cidade e
Estado. A tarefa, para o cidadão
comum do Rio ou de fora, não é
fácil, porque a mídia de outros
Estados trata os fatos cariocas/
fluminenses com preconceituosa obsessão pela violência e a local, inclusive ou sobretudo a
grande TV, fortalece as visões
preconceituosas e tem más relações com o governo fluminense.
Fatores que justificam, suponho, uma breve notícia das surpresas no Rio.
Ninguém tinha motivo para
esperar que Anthony Garotinho, com o gesto audacioso de
assumir a Secretaria de Segurança sob descontrole total da
violência, quisesse mais do que
um cargo para se manter à tona.
Comparados com o governo do
seu antecessor Marcello Alencar, seus anos de governador foram bem razoáveis, consideradas a penúria e a quantidade
dos demais problemas que encontrou. Mas daí a um crédito
de esperança no seu desempenho a distância era grande. A
tarefa era muito maior do que o
Garotinho conhecido.
As peculiaridades do Rio, com
uma grande favela em cada
bairro, o luxo e a pobreza desempregada confrontando-se
em todos os espaços urbanos, facilitam à marginalidade o assédio violento e o refúgio. O problema daí decorrente é imenso,
por sua própria extensão geográfica e demográfica, como pela dimensão absurda das dificuldades de modos e recursos
para prevenção/repressão. Daí
que a perda de controle tenha se
instalado com tanta rapidez, na
veloz medida em que a pedagogia da criminalidade difundiu o
ensinamento de que havia uma
solução, na arma ou no tráfico,
para a vida jovem fora do trabalho - por desemprego ou por
opção.
Mesmo com a colaboração do
governo federal, que foi o grande criador das condições para a
desenvoltura da criminalidade
urbana, o retrocesso da insegurança generalizada seria difícil;
sem a colaboração, que jamais
existiu, não passava de hipótese
fantasiosa nas boas intenções de
uns quantos teóricos. Mas existe
hoje uma situação surpreendente.
À parte as estatísticas policiais, que não são confiáveis em
lugar algum por culpa tanto das
polícias como das vítimas acomodadas ou temerosas, há uma
distensão visível, palpável quase, no Rio. O carioca não está
mais sujeito a um assalto do que
em qualquer outra cidade
maior do país. E isso se deve a
um esforço gigantesco de policiamento, em quantidade e em
intensidade das operações. Com
uma preocupação adicional há
muito esperada: a limpeza nas
polícias civil e militar é diária, e
em proporção que impressiona
pelo alcance da contaminação
policial por todos os tipos de criminalidade.
Nada pode impedir novos assaltos, novos assassinatos, mais
ações dos bandos que se acoitam nas favelas e, em resposta à
repressão eficiente, dão o salto
para um novo estágio da violência: passam eles a iniciativas de
ataque à polícia. Má novidade
que é um bom sinal. Entre os
bons sinais que se vêem nas calçadas, nas ruas, nos rostos menos tensos. Sinais que não aparecem na mídia. O que se explica, em parte, porque o governo
fluminense tem o defeito, para
os padrões atuais, de não recorrer aos Dudas, Nizans e publicidades multimilionárias.
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