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AGENDA NEGATIVA
Em nota, comandante da Aeronáutica afirma que defasagem salarial atinge militares, mas cobra disciplina
Brigadeiro vê risco de insatisfação militar
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O comando da Aeronáutica admitiu ontem que a defasagem no
salário dos militares acarreta uma
"possibilidade real de florescer insatisfação social" nas Forças Armadas. Em nota de seu comandante, o brigadeiro Luiz Carlos da
Silva Bueno, a Aeronáutica, porém, cobra "hierarquia e disciplina" aos militares da ativa.
"É notória a depreciação do poder aquisitivo dos integrantes das
Forças Armadas, em todos os níveis funcionais, decorrente de
uma prolongada estagnação dos
valores de soldo, referencial utilizado", afirmou o brigadeiro na
nota divulgada ontem à tarde.
O documento aponta a "diminuição" do poder de compra dos
militares. "Ainda que se tenha podido experimentar ares de relativa estabilidade econômica na história recente, é certo que os índices de medição utilizados pelo
próprio governo já atestam, fortemente, a diminuição do poder de
compra dos atuais salários."
Em abril de 2003, o brigadeiro já
havia feito uma cobrança direta
ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. Pediu mais recursos para a
recuperação da "capacidade operacional" da corporação. Lula respondeu que tudo seria feito de
forma "realista" e "responsável".
Ontem, o Ministério da Defesa e
os comandos do Exército e da
Marinha não quiseram se pronunciar sobre as reivindicações.
Ao cobrar "hierarquia" e "disciplina", o comando da Aeronáutica, na prática, não quer seus subordinados fazendo reivindicações públicas e insinuações de
greve, o que é vetado pelas regras
das Forças Armadas.
Foi um recado claro às cerca de
700 pessoas, entre familiares e
amigos de militares, que fizeram,
anteontem, manifestação por aumento salarial durante a cerimônia de troca da bandeira, na praça
dos Três Poderes, em Brasília.
Segundo a assessoria do ministro José Viegas (Defesa), uma comissão estuda o formato de uma
proposta de reajuste "dentro do
contexto atual da economia".
Na nota, o brigadeiro informou
que há três linhas de ação: aumento de 35,4% referente às perdas
entre 2001 e 2003; compatibilidade entre os valores pagos a servidores civis, com reajuste médio
de 31,9%; e revisão do "adicional
militar", com avanço salarial médio de 28,47%. No protesto de anteontem, os manifestantes pediram reajuste linear de 30%.
Ontem, por meio de sua assessoria, o comando da Aeronáutica
afirmou que tenta localizar um
sargento identificado como Cardoso na manifestação de anteontem em Brasília. Cardoso exibiu
um contracheque da Aeronáutica
para cobrar um reajuste. Uma
sindicância interna pode ser aberta para apurar suposta insubordinação de Cardoso. "Não acredito
que ele [Cardoso] seja punido,
mesmo porque eles criariam um
mártir entre os militares", disse o
deputado federal Jair Bolsonaro
(PTB-RJ), ex-capitão do Exército
e organizado do protesto.
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