São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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AGENDA NEGATIVA

Em nota, comandante da Aeronáutica afirma que defasagem salarial atinge militares, mas cobra disciplina

Brigadeiro vê risco de insatisfação militar

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comando da Aeronáutica admitiu ontem que a defasagem no salário dos militares acarreta uma "possibilidade real de florescer insatisfação social" nas Forças Armadas. Em nota de seu comandante, o brigadeiro Luiz Carlos da Silva Bueno, a Aeronáutica, porém, cobra "hierarquia e disciplina" aos militares da ativa.
"É notória a depreciação do poder aquisitivo dos integrantes das Forças Armadas, em todos os níveis funcionais, decorrente de uma prolongada estagnação dos valores de soldo, referencial utilizado", afirmou o brigadeiro na nota divulgada ontem à tarde.
O documento aponta a "diminuição" do poder de compra dos militares. "Ainda que se tenha podido experimentar ares de relativa estabilidade econômica na história recente, é certo que os índices de medição utilizados pelo próprio governo já atestam, fortemente, a diminuição do poder de compra dos atuais salários."
Em abril de 2003, o brigadeiro já havia feito uma cobrança direta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pediu mais recursos para a recuperação da "capacidade operacional" da corporação. Lula respondeu que tudo seria feito de forma "realista" e "responsável".
Ontem, o Ministério da Defesa e os comandos do Exército e da Marinha não quiseram se pronunciar sobre as reivindicações.
Ao cobrar "hierarquia" e "disciplina", o comando da Aeronáutica, na prática, não quer seus subordinados fazendo reivindicações públicas e insinuações de greve, o que é vetado pelas regras das Forças Armadas.
Foi um recado claro às cerca de 700 pessoas, entre familiares e amigos de militares, que fizeram, anteontem, manifestação por aumento salarial durante a cerimônia de troca da bandeira, na praça dos Três Poderes, em Brasília.
Segundo a assessoria do ministro José Viegas (Defesa), uma comissão estuda o formato de uma proposta de reajuste "dentro do contexto atual da economia".
Na nota, o brigadeiro informou que há três linhas de ação: aumento de 35,4% referente às perdas entre 2001 e 2003; compatibilidade entre os valores pagos a servidores civis, com reajuste médio de 31,9%; e revisão do "adicional militar", com avanço salarial médio de 28,47%. No protesto de anteontem, os manifestantes pediram reajuste linear de 30%.
Ontem, por meio de sua assessoria, o comando da Aeronáutica afirmou que tenta localizar um sargento identificado como Cardoso na manifestação de anteontem em Brasília. Cardoso exibiu um contracheque da Aeronáutica para cobrar um reajuste. Uma sindicância interna pode ser aberta para apurar suposta insubordinação de Cardoso. "Não acredito que ele [Cardoso] seja punido, mesmo porque eles criariam um mártir entre os militares", disse o deputado federal Jair Bolsonaro (PTB-RJ), ex-capitão do Exército e organizado do protesto.


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