São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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CAMPO MINADO

Atos fazem parte da "jornada de luta", que deve ir até dia 17

MST toma outras 4 áreas; invasões já chegam a 40

Carlos Casaes/Agência A Tarde
Trabalhadores rurais sem terra fazem derrubada de plantação de eucaliptos em fazenda invadida ontem em Porto Seguro, na Bahia


DA AGÊNCIA FOLHA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deu continuidade ontem à onda de invasões e protestos iniciada pelo movimento no mês passado ao entrar em mais quatro fazendas (duas na BA e duas em MT) e promover uma marcha (no RS).
Com isso, já são 40 as propriedades rurais tomadas pelo movimento desde 10 de março. No dia 27, o MST iniciou a "jornada de luta", uma série de manifestações e invasões até 17 de abril, quando serão lembradas as mortes de 19 sem-terra em confronto com a Polícia Militar em Eldorado do Carajás (PA), em 1996.
Outros grupos de sem-terra também têm feito protestos. Um deles é a Fetape (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco), que, na madrugada de ontem, montou mais dois acampamentos ao lado de fazendas em Pernambuco, totalizando 21 desde sábado. Os acampamentos são feitos fora das áreas para que elas não deixem de ser vistoriadas em razão da medida provisória antiinvasão.

Invasões
Na Bahia, cerca de 2.500 agricultores ligados ao MST concluíram na madrugada de ontem, em Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador), o que o movimento diz ser a maior invasão já registrada a uma propriedade particular na Bahia. Em outra ação do MST, cerca de 200 famílias entraram no final da manhã na fazenda Nossa Senhora do Socorro, de 3.500 ha, em Santo Amaro (71 km da capital).
Em Porto Seguro, os sem-terra demoraram menos de duas horas para destruir quatro hectares de eucaliptos plantados pela multinacional Veracel, uma das maiores empresas de celulose do país. Depois da derrubada, iniciaram o plantio de feijão, mandioca e milho. "Não dá mais para esperar. O presidente Lula só promete", disse Walmir Assunção, coordenador estadual do MST.
De acordo com o movimento, a Veracel, proprietária de 65 mil hectares no extremo sul da Bahia, impede a realização do projeto de reforma agrária na região. A Veracel anunciou ontem à tarde que vai recorrer à Justiça para recuperar a área invadida.
Em Mato Grosso, cerca de 1.500 famílias ligadas ao MST invadiram duas propriedades em Cáceres (215 km a oeste de Cuiabá) na madrugada de ontem. Uma das áreas, a fazenda Ressaca, pertence ao grupo Grendene e foi tomada por 800 famílias, de acordo com o MST. A outra foi a fazenda Santa Amália, com 700 famílias.
Segundo a assessoria jurídica do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a fazenda Ressaca tem aproximadamente 13 mil ha e atualmente está sob responsabilidade da União.
A Grendene, de acordo com o instituto, já entrou com pedido de reintegração de posse de sua fazenda. A empresa não se pronunciou a respeito do caso. A fazenda já havia sido invadida pelo MST em setembro de 2003.

Marchas
Cerca de 250 famílias também ligadas ao MST iniciaram ontem uma marcha pelo interior do Rio Grande do Sul -de Palmeira das Missões até Sarandi- em um percurso aproximado de 20 km. O objetivo do grupo, que protesta contra o latifúndio e pede dinheiro para compensar as perdas causadas pela seca no Estado, é chegar a Sarandi hoje, realizando, então, um ato público.
Em Alagoas, está programada, também para hoje, uma caminhada de membros do MST, que deve sair às 7h de Maragogi (a 142 km de Maceió) e tem previsão de chegada no dia 15 a Maceió.
O MST em Alagoas afirmou que terá uma audiência, não confirmada pela chefia de gabinete do governo do Estado, com o governador Ronaldo Lessa (PSB), no próximo dia 16. (LUIZ FRANCISCO, ADRIANA CHAVES, LÉO GERCHMANN e VICTOR RAMOS)


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