São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO

Palocci diz ter triturado única cópia de extrato sem divulgá-la; ex-presidente da Caixa afirma ter dado documento só a ex-ministro

Defesa de Mattoso vê lacuna em depoimento

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As versões apresentadas pelos dois principais personagens indiciados pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa contêm uma inconsistência que leva à conclusão de que Antonio Palocci ou Jorge Mattoso estão mentindo.
Enquanto o ex-ministro da Fazenda alega ter destruído os extratos bancários num triturador de papéis sem mostrá-los a ninguém, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal sustenta que entregou a única via do documento extraído dos computadores da estatal ao ex-ministro.
Como ambos negam a responsabilidade pela divulgação dos dados, e eles vazaram à revista "Época" no dia seguinte à violação, um dos dois está mentindo.
Alberto Toron, advogado de defesa de Mattoso, insiste em que seu cliente entregou a única cópia do extrato impressa na Caixa pessoalmente ao então ministro na noite de 16 de março, uma quinta-feira. "Há um "gap" (lacuna, em inglês) na versão apresentada pelo ex-ministro Antonio Palocci", avaliou Toron. Em depoimento à Polícia Federal, Palocci negou ter pedido ou vazado os extratos.
Ao encaminhar a suspeita de movimentação atípica de Francenildo à Superintendência de Controles Internos da Caixa, Mattoso não detinha mais cópia do extrato, segundo informações colhidas em depoimentos à PF.
Essa superintendência é responsável, na estatal, por encaminhar comunicados de suspeita de lavagem de dinheiro ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O comunicado só foi encaminhado ao conselho subordinado ao Ministério da Fazenda um dia após Palocci ter recebido o extrato -e depois de a revista "Época" ter divulgado as informações de saques e depósitos na conta de Francenildo-, na noite de sexta, 17 de março.
Palocci insiste em que não mostrou os extratos a ninguém e que resolveu destruir os documentos quatro dias depois, quando soube que a estatal já havia encaminhado comunicado ao Coaf.
Um dos advogados do ex-ministro, José Roberto Batochio sugeriu que o vazamento pode ter ocorrido no banco. "Pelo menos uma meia dúzia de pessoas manusearam o documento na Caixa", afirmou anteontem.

Outros funcionários
Segundo as investigações da PF, três funcionários da Caixa, além de Mattoso, foram envolvidos na violação: Ricardo Schumann, assessor da presidência, Sueli Mascarenhas, superintendente de recursos humanos, e o gerente Jeter Ribeiro. O extrato impresso por Ribeiro, repassado por Sueli a Schumann e entregue a Palocci por Mattoso foi o mesmo que chegou à "Época", apuraram auditoria da Caixa e a PF.
Outro ponto do depoimento de Palocci foi desmentido por informações do banco. O ex-ministro disse que Mattoso o procurara na noite de 16 de março não para tratar dos dados do caseiro, mas para pedir apoio à abertura de escritórios da estatal no Japão.
A parceria da Caixa com o banco japonês Iwata Shinkin, selada em 26 de março, já estava negociada na ocasião. O "Diário Oficial" da União de segunda-feira, 20, publicava autorização para Mattoso se ausentar do país e assinar o convênio no Japão. Por causa da crise decorrente da violação, Mattoso mandou um substituto.
Segundo Palocci disse à PF, o tema da abertura dos escritórios no Japão e nos EUA não teria sido esgotado na reunião entre o então ministro e Mattoso na tarde daquela quinta-feira, no Planalto. Palocci afirmou que não manteve conversa reservada com Mattoso.

Auditoria
O grupo de auditores da Caixa que investiga a violação do sigilo bancário do caseiro pediu mais tempo para concluir o relatório e sugerir punições.
Instalada na segunda-feira seguinte à violação do sigilo e com prazo de 15 dias para concluir os trabalhos, a auditoria espera o retorno do consultor da presidência Ricardo Schumann de uma licença para ouvir a defesa dos funcionários. Schumann voltará ao trabalho na próxima segunda-feira.


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