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Depoimento de Palocci consolidou
suspeita da PF contra ex-ministro
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro Antonio Palocci é
o principal suspeito, para a Polícia
Federal, de ter dado em 16 de
março a ordem para quebrar o sigilo da conta que o caseiro Francenildo dos Santos Costa mantém
na Caixa Econômica Federal.
A suspeita se apóia principalmente em duas revelações feitas
por Palocci ao depor à PF anteontem: a de que tomou conhecimento por meio da jornalista Helena Chagas, do jornal "O Globo",
de que o caseiro recebeu dinheiro;
e a de que destruiu os extratos somente quatro dias depois de recebê-los, quando soube que o caseiro seria investigado pelo Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda.
Em seu depoimento, Palocci
confirmou ter recebido os dados
bancários na noite de 16 de março, em sua casa. Os documentos
foram entregues a ele pelo então
presidente da Caixa, Jorge Mattoso. Palocci, porém, nega ter dado
a ordem para a violação do sigilo.
Ouvido anteriormente, Mattoso
disse que "pensou em pesquisar
se o caseiro" tinha conta na Caixa,
diante do fato de que "havia sido
levantada a questão de existência
de movimentação atípica". Legalmente, não há diferença entre ser
mandante ou participante de crimes de violação de sigilo funcional e quebra de sigilo bancário,
pelos quais Palocci e Mattoso foram indiciados. As penas chegam
a seis anos de prisão.
Para a PF, não é plausível que
uma operação ilegal tão arriscada
tenha sido feita sem ordem superior. Trabalha-se com a possibilidade de que as versões de Palocci
e Mattoso tenham sido combinadas para encobrir motivação de
Palocci de atingir o caseiro. Reforça essa convicção, baseada em relato de Palocci, o fato de que ele
soube pela jornalista sobre quantias recebidas pelo caseiro.
O relato de Chagas ao ex-ministro teria sido baseado em informações que ela recebera de seu
jardineiro. A jornalista mora em
uma casa vizinha da que seria freqüentada por ex-assessores de
Palocci e também por ele, no bairro do Lago Sul, em Brasília. A casa
alugada por ex-assessores do ex-ministro ficou conhecida como a
"casa do lobby". O caseiro afirmou à CPI dos Bingos que no local havia festas e distribuição de
dinheiro de origem suspeita.
A jornalista deve ser ouvida pela
PF. A sucursal de "O Globo", em
Brasília, da qual Helena Chagas é
diretora, distribuiu nota dizendo
que ela "foi procurada pelo ministro Palocci, que buscava obter informações sobre uma possível
movimentação financeira estranha do caseiro. A jornalista disse
ao ministro que o jornal tomou
conhecimento dessa versão, que
circulava em Brasília, mas que
não ela não foi confirmada. Por isso, o jornal nada publicou".
Outro elemento que reforça as
suspeitas da PF sobre Palocci é o
fato de, durante todo o interrogatório, ele tentar apresentar como
parte de suas atribuições de ministro da Fazenda acompanhar e
fiscalizar movimentações bancárias atípicas, como a do caseiro, a
fim de evitar problemas de imagem para a Caixa Econômica.
Palocci deixou claro que acompanhou os trâmites relativos ao
caseiro pessoalmente e só destruiu os extratos ilegais quatro
dias depois que os recebeu, quando teve a certeza de que a Caixa já
encaminhara ao Coaf uma relatório apontando atipicidade na movimentação bancária.
Ainda no depoimento, Palocci
afirmou não ter mostrado ou repassado os extratos a ninguém.
Conta que seu então assessor de
imprensa, Marcelo Netto, estava
indignado com as acusações de
que ele teria participação no vazamento dos dados bancários do caseiro para a revista "Época". Por
fim, Palocci disse que, ao convocar o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, para uma
reunião em 19 de março, quando
foi quebrado o sigilo do caseiro,
não teve intenção de sugerir que a
PF investigasse Francenildo.
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