São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997.

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Maioria dos produtores vem do Rio Grande do Sul e do Paraná

do enviado especial a Sapezal (MT)

A Chapada dos Parecis é, de várias formas, um divisor de águas no Mato Grosso.
Em primeiro lugar, literalmente: é lá que começam a correr as primeiras águas que vão desaguar, milhares de quilômetros depois, no rio Amazonas. Ao sul do chapadão, as terras mais baixas do Estado pertencem à Bacia do Prata.
Do ponto de vista migratório, a região também marca uma linha divisória no Estado: nos municípios da Chapada dos Parecis predominam gaúchos e paranaenses, enquanto nas cidades mais próximas ao Pantanal há uma prevalência de paulistas e mineiros.
Invariavelmente, a elite do chapadão tem sobrenomes italianos ou alemães. Famílias como Schneider, Dal'Maso, Maggi, Webler, Simonetti, Mufatto, Sachetti formam até 80% do total de produtores de Sapezal.
Eles começaram a chegar à região no início dos anos 80. Na época, não havia estrada e a viagem desde Tangará da Serra, a 230 km, no sopé da chapada, podia levar até uma semana se fosse no período de chuvas (setembro a abril).
Os pioneiros ``limparam'' os campos do cerrado e plantaram soja. No começo, a produtividade era baixa, porque o solo do chapadão precisa ser preparado para se tornar fértil.
``Primeiro a gente queima. Depois põe 5 toneladas de calcário por hectare, de 300 kg a 500 kg de fósforo/ha, mais meia tonelada de adubo/ha. Daí é só plantar de 50 kg a 90 kg de semente de soja'', receita Sérgio Sachetti, 39.
Nascido em Santa Catarina, ele e oito irmãos plantam 8 mil hectares de soja e algodão em Sapezal. A família começou na agricultura em 1973, no Paraná. Dez anos depois, mudou para Itiquira (MT). Em 94, expandiu a produção para Sapezal.
A história dos Sachetti é a regra entre os maiores produtores na Chapada dos Parecis. Eles vêm do sul do país, têm tradição agrícola e investem em tecnologia -o que significa tratores, colheitadeiras, defensivos e fertilizantes.

Produtividade
Pesquisador da Embrapa e diretor-técnico da Fundação Mato Grosso, Dario Harimoto é um dos maiores especialistas em soja do país. Ele diz que uma boa produtividade na chapada está em torno de 3,6 toneladas por hectare.
A média dos EUA, maior produtor mundial de soja, não ultrapassa as 3 toneladas por hectare.
Segundo Harimoto, a vantagem da Chapada dos Parecis é o clima, pois ``chove como um relógio'', e a topografia extremamente plana. É possível sobrevoar a região por centenas de quilômetros sem avistar nenhuma elevação no terreno.
Alia-se a isso o melhoramento genético das sementes e o desenvolvimento da técnica adequada de manejo do solo. Esse avanço tecnológico foi viabilizado pelo investimento anual de R$ 400 mil dos produtores nas pesquisas da Fundação Mato Grosso.
A ambição e a assimilação das novas tecnologias agrícolas são duas características dos imigrantes dos Estados do sul que, segundo eles próprios, os ajudaram a se estabelecer na região.
É raro encontrar um grande produtor nascido no Mato Grosso. Os nativos formam, em boa parte, a mão-de-obra que trabalha nas plantações. (JRT)

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