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TRABALHO INFANTIL
Participantes de debate na Folha divergem sobre eficácia de cerco na OIT aos países suspeitos
Boicote comercial divide especialistas
da Reportagem Local
O estabelecimento de sanções comerciais
a países, setores
econômicos ou
empresas que
utilizam
mão-de-obra
infantil tornou-se a grande polêmica na luta contra essa prática
em todo o mundo.
Como já tem ocorrido em diversas reuniões internacionais, a
questão dividiu os participantes
do debate "Trabalho Infantil nas
Relações Internacionais de Comércio", realizado na última terça-feira, no auditório da Folha.
"A pressão econômica tem um
poder extraordinário para mudar
a situação", disse o presidente da
Fundação Abrinq, Oded Grajew,
favorável às sanções, depois de esgotadas outras possibilidades.
Com mediação do jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho
Editorial da Folha, o evento discutiu o problema do trabalho infantil
no Brasil e no mundo.
OIT e OMC
Atualmente, as questões ligadas
às condições de trabalho, incluindo o emprego de crianças, são tratadas no âmbito da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Para que pudesse haver punições
contra os que utilizam a
mão-de-obra infantil, o assunto
deveria ser levado para a OMC
(Organização Mundial do Comércio), proposta rejeitada por muitos países, entre eles o Brasil.
Na tentativa de quebrar o impasse, a Fundação Abrinq elaborou
uma proposta que atenua, mas
mantém a perspectiva de sanções.
A idéia, apresentada no debate
por Grajew, seria criar uma comissão sob coordenação da OIT e
do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), composta
por representantes de governos,
empresários, trabalhadores e organizações não-governamentais.
No caso de uma denúncia, a comissão examinaria o caso durante
três meses. Se confirmada, haveria
um prazo de um ano para resolver
o problema. Depois, a empresa ou
o setor, mas não o país envolvido,
seria punido no âmbito da OMC.
Dificuldades
Para Bruno de Risios Bath, chefe
da Divisão de Temas Sociais do
Ministério das Relações Exteriores, haveria muitos obstáculos para a obtenção de apoio e de um
consenso que levasse à formação
da comissão. "Eu, pessoalmente,
acho difícil conseguir", disse.
Bath também criticou a ênfase
dada às punições. "É preocupante
que a discussão seja sequestrada
pela questão comercial."
Francisco Cannabrava, secretário da Divisão de Política Comercial do Itamaraty, afirmou que
uma proposta prevendo sanções é
hoje inviável, pois a transferência
do tema para a OMC foi descartada em encontros internacionais.
A idéia de uma cláusula social na
Organização Mundial do Comércio foi defendida no debate pelo
secretário de relações internacionais da CUT (Central Única dos
Trabalhadores), Kjeld Jakobsen.
Questão de poderes
"A OIT não tem poder de sanção
e isso tem sido insuficiente para
tratar do problema", afirmou Jakobsen. "Têm que ser colocadas
regras mínimas, que todos os países devem respeitar."
Jakobsen e Oded Grajew disseram que, com a falta de punições a
empresas ou setores que usam
crianças na produção, o Brasil ficará a reboque de governos e
ONGs, que podem, unilateralmente, impor suas restrições.
O representante do Unicef no
Brasil, Agop Kayayan, mostrou-se
cauteloso em relação à alternativa
da Fundação Abrinq.
"A questão da sanção é muito
mais complexa do que imaginamos", disse. Para Kayayan, a proposta é "positiva", mas ele teme
que sanções levem a cortes de gastos nas áreas sociais.
O diretor da OIT no Brasil, Armand Pereira, elogiou a atuação
do governo brasileiro no combate
ao problema. Afirmou também
que a questão econômica não deveria ser o centro do debate. "Não
é um problema de sanção, é um
problema de dignidade humana,
de saúde, de segurança."
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