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ENTREVISTA DA 2ª
Tucano só declarou R$ 95 mil ao TRE-SP; restante do dinheiro teria sido para aluguel de avião
Jereissati diz que doou R$ 700 mil a Serra
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O empresário Carlos Jereissati,
55, presidente da La Fonte Participações, disse ontem à Folha que
sua contribuição para a campanha ao Senado de José Serra, em
94, foi de "cerca de R$ 700 mil".
Desse total, R$ 95 mil foram doados, por intermédio do economista Ricardo Sérgio de Oliveira,
em dinheiro e estão declarados à
Justiça Eleitoral.
Outros cerca de R$ 600 mil foram pagos diretamente pelo empresário pelo aluguel de um avião
King Air, usado por Serra em sua
campanha.
Embora Jereissati diga não ter
cometido ele próprio uma ilegalidade, Serra deveria ter necessariamente declarado a doação recebida na forma do aluguel do avião
-segundo especialistas ouvidos
pela Folha.
Jereissati diz não saber se tem os
recibos que comprovam o pagamento do serviço. "Dificilmente
terei documentos tão antigos, de
94. Mas não acho que seja necessário. Era uma despesa pessoal
minha", declarou.
Trata-se de um detalhe importante: só os R$ 95 mil declarados à
Justiça teriam saído do cofre do
grupo La Fonte e passado pela
mão de Ricardo Sérgio. Os outros
cerca de R$ 600 mil teriam sido
doados pelo empresário como
pessoa física.
Ao dizer que não entregou a Ricardo Sérgio dinheiro em espécie,
Jereissati protege o economista
que foi caixa de campanha de Serra. Mas esse tipo de proteção não
se estende ao tucano.
Carlos Jereissati é irmão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), adversário de
Serra dentro do tucanato.
O grupo La Fonte é dono de vários shoppings centers (entre eles
o shopping Iguatemi, de São Paulo) e de 11,25% na Telemar (empresa que explora a telefonia fixa
em 16 Estados).
A revista "Veja" do fim de semana publicou que Jereissati teria
doado o equivalente a R$ 2 milhões a Serra em 94. "Foram quatro ou cinco prestações, não me
lembro exatamente", declarou o
empresário. Seria a confissão de
que houve caixa dois na campanha do tucano, hoje candidato
oficial do Palácio do Planalto à
Presidência da República.
À Folha, Jereissati não negou a
informação dada à "Veja", mas
disse ter havido um "mal-entendido". O valor doado teria sido de
"cerca de R$ 700 mil". Como um
real valia aproximadamente um
dólar em 94, "a revista pode ter
feito uma atualização aproximada do que foi doado".
Ao TRE (Tribunal Regional
Eleitoral) de São Paulo, Serra informou gasto total de R$ 1,894 milhão na campanha. Registrados
em nome de empresas do grupo
La Fonte haviam três doações: R$
15 mil (11/ 07/94), R$ 30 mil (9/8/
94) e R$ 50 mil (27/9/94). Não há
registro de doações em nome de
Carlos Jereissati.
Entre os gastos informados e
que poderiam conter os realizados com aluguel de avião estão
despesas de viagem (R$ 138 mil),
locação de bens móveis (R$ 23
mil) e despesas com veículos (R$
17 mil). Somados, esses valores ficam abaixo dos R$ 600 mil informados por Jereissati.
Ele respondeu ao pedido da Folha por uma entrevista ontem de
manhã. Telefonou para o celular
do repórter. Como o empresário
inicialmente queria falar apenas
de forma reservada (em "off", como se diz no jargão jornalístico),
pois temia ser mal interpretado, a
Folha fez uma proposta: transcreveria apenas as frases referentes
ao episódio da campanha de 94 e
leria as declarações para ele. Um
novo telefonema foi então realizado na parte da tarde, e ele aprovou
o teor de suas declarações, publicadas abaixo:
Folha - O sr. deu R$ 2 milhões para a campanha de José Serra a senador em 1994?
Carlos Jereissati - Não. Houve
um mal-entendido a respeito da
minha declaração à "Veja". Eu
posso ter dito que doei US$ 700
mil porque, à época, um dólar valia um real. Mas o valor correto
são cerca de R$ 700 mil. A revista
pode ter feito uma atualização
aproximada do que foi doado, o
que não está errado, mas fica um
pouco impreciso. No fundo, houve apenas, realmente, um mal entendido.
Folha - Ainda assim, mesmo que
tenham sido apenas R$ 700 mil, o
valor declarado pelo candidato José Serra em 94 foi de apenas R$ 95
mil no que se refere a doações do
grupo La Fonte. Há uma discrepância. Como o sr. explica isso?
Jereissati - De novo, um mal entendido. De fato nós doamos pelo
grupo La Fonte um valor de aproximadamente R$ 100 mil, em dinheiro, para a campanha de José
Serra. Essa doação foi tratada com
Ricardo Sérgio.
Essa parte é que foi dada em
umas quatro ou cinco prestações,
como afirmei à "Veja". O restante,
cerca de R$ 600 mil, foi na forma
de pagamento de um serviço. No
caso, aluguei um avião que foi
usado por Serra na campanha,
durante uns cinco meses, em algumas ocasiões.
Folha - Quem alugou o avião? O
sr. ou o grupo La Fonte?
Jereissati - Eu próprio, com recursos pessoais.
Folha - O sr. se recorda de como
foi feito o aluguel?
Jereissati - Claro. Foi por intermédio do Rolim [Amaro", da
TAM, que me indicou um avião e
um piloto que poderiam fazer o
serviço. O serviço não foi pago à
TAM, mas foi o Rolim quem me
indicou o avião. Recordo-me que
foi um King Air.
Folha - O sr. tem como provar, por
meio de recibos de pagamento,
que foi realmente feito esse aluguel?
Jereissati - Dificilmente terei documentos tão antigos, de 94. Mas
não acho que seja necessário. Era
uma despesa pessoal minha.
Folha - O sr. se lembra do nome
da empresa dona do avião ou do piloto contratado?
Jereissati - Não.
Folha - Quem intermediou o negócio do aluguel do avião foi Ricardo Sérgio?
Jereissati - Não. Ele apenas tratou da doação em dinheiro, que
foi declarada pela campanha.
Folha - Ocorre que foi cometida aí
uma irregularidade. Ao que se sabe, José Serra não declarou à Justiça Eleitoral que esse avião havia sido pago com o dinheiro de Carlos
Jereissati...
Jereissati - Quanto ao candidato, eu não sei. Eu não tenho de declarar os meus gastos. Aluguei um
avião e paguei. Nos últimos dez
anos, tem sido muito comum as
ajudas financeiras a campanhas
políticas serem na forma de pagamento de serviços. Quase ninguém dá dinheiro em espécie.
Além disso, não me consta existir
na legislação eleitoral anterior a
96 alguma norma restritiva ao uso
de recursos de terceiros no pagamento de serviços de uma campanha -tendo em vista o lastro legal na renda da pessoa física que
fez o pagamento.
Folha - Sim, mas há controvérsia
a respeito. Há quem entenda que o
candidato devesse ter declarado.
Nesse caso o sr. pode ter participado, ainda que indiretamente, de
uma operação irregular...
Jereissati - Eu não fiz nada de ilegal. Apenas aluguei um avião para
uma pessoa usar. Se essa pessoa
precisava declarar -o que eu não
sei, acho que não precisava-, é
um assunto sobre o qual não tenho influência.
Folha - O sr. contribuiu em 94 para a campanha ao Senado de José
Serra. Dois anos depois, em 96, ele
se candidatou à Prefeitura de São
Paulo. O sr. também contribuiu na
campanha de 96?
Jereissati - Prefiro não falar sobre esse assunto.
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