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Tucano não confirma valor da doação
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador
José Serra, disse ontem que o empresário Carlos Jereissati, dono
do grupo La Fonte e irmão do ex-governador cearense Tasso Jereissati, de fato contribui para sua
campanha ao Senado de 1994, inclusive emprestando um avião
modelo King Air pequeno. Mas
garantiu que as doações foram todas legais e registradas na Justiça
eleitoral.
Serra estranhou apenas os valores mencionados pelo empresário
em entrevista à Folha: cerca de R$
700 mil, sendo que R$ 600 mil na
forma de aluguel de um avião. O
tucano calcula que, para ter gastado essa quantia, nos cinco meses
de campanha, teria de ter passado
cinco horas por dia no ar, o que
seria um despropósito. "Eu não
faria campanha. Ficaria voando",
disse o senador tucano.
Sem uma cópia da prestação de
contas registrada no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São
Paulo, Serra recorreu a um livro
empoeirado, guardado em casa,
com anotações gerais sobre sua
campanha ao Senado em 1994, inclusive dados sobre contabilidade
básica. Por isso, preferiu não falar
por enquanto em números precisos ou citar especificamente a fonte das doações, o que diz que pretende fazer depois de recuperar a
declaração que está no TRE.
Folha - A revista "Veja" publicou
que o empresário Carlos Jereissati
disse ter doado R$ 2 milhões para
sua campanha ao Senado em 94,
por meio do ex-diretor do Banco do
Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira,
mas que só R$ 95 mil foram registrados no TRE. Agora, à Folha, o
empresário fala que doou R$ 700
mil à campanha ao Senado. Afinal,
qual é o número certo?
José Serra - Está muito claro, é
muito importante ressaltar, que
não houve a tal doação de R$ 2
milhões por meio do Ricardo Sérgio. É uma mentira que me deixou estarrecido, mesmo levando
em conta as baixarias previsíveis
de uma campanha eleitoral.
Folha - O empresário contribuiu
para sua campanha?
Serra - É fim de semana, o tribunal está fechado. Não tenho aqui
comigo a prestação de contas da
campanha de oito anos atrás.
Mas lembro-me perfeitamente
que as empresas do Carlos Jereissati contribuíram para a campanha e que isso foi devidamente registrado no TRE.
Folha - E o avião?
Serra - Lembro-me também que o
Carlos Jereissati emprestou um
avião King Air para a campanha.
Sei, além disso, que houve registro de doação para a campanha na
forma de horas de vôo.
Folha - Por R$ 600 mil?
Serra - Não sei quanto. Vamos
ver isso em detalhes. Mas posso
adiantar que R$ 600 mil, a preços
da época [1994], me parece excessivo, desproporcional.
Folha - Por quê?
Serra - De 80% a 90% dos vôos
que fiz como candidato foram
com Mário Covas [candidato ao
governo", em aviões da campanha dele, não da minha. Na época,
pagar R$ 600 mil por um pacote
de cinco meses de um King Air
pequeno permitiria voar cerca de
300 mil quilômetros, ou 2.000
quilômetros por dia. Ou seja, à velocidade do King Air, isso totaliza
cinco horas por dia no ar. Sem
contar os vôos com o Covas, deslocamentos terrestres, etc., eu não
faria campanha, ficaria voando.
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