São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Tucano julga ser vítima de setores políticos e empresariais e crê que ACM está por trás do caso Ricardo Sérgio

Serra vê complô contra sua candidatura

Marcio Fernandes/Folha Imagem
O senador José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, deixa sua casa em SP


RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, acha que está sendo vítima de um complô articulado por setores políticos e empresariais interessados em trocar o candidato tucano nas eleições de outubro.
A não ser por uma curta declaração na qual afirmou que era "maluca" a acusação de que recebera R$ 2 milhões para sua campanha ao Senado, em 1994, mas só registrara o recebimento de R$ 95 mil, Serra decidiu não falar mais sobre o assunto.
A Folha apurou, no entanto, que o tucano considerou a reportagem de "Veja" sobre uma suposta cobrança de propina por parte de um antigo colaborador, Ricardo Sérgio de Oliveira, como sendo "mais um investimento para trocar o candidato".
Ao estabelecer a estratégia de campanha, Serra e assessores previram que ocorreriam tentativas de desestabilização do candidato. A curto ou médio prazos. Mas esperavam que isso ocorresse em função de um desempenho fraco do pré-candidato tucano nas pesquisas de opinião.
Serra esperava chegar a 15% em abril, mas atingiu 19%. A abordagem do candidato "pé-de-chumbo" não mudou e o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), chegou a pedir formalmente a substituição do candidato ao presidente Fernando Henrique Cardoso.

Cortina de fumaça
Em abril, a equipe de Serra teve outro "sinal" do suposto complô: integrantes do PPS procuraram auxiliares do tucano para afirmar que o namoro do PFL com Ciro Gomes era articulado pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães e serviria apenas de cortina de fumaça para uma manobra cujo objetivo final era a substituição do candidato tucano.
Serra vê o dedo de ACM na denúncia segundo a qual Ricardo Sérgio, que arrecadou fundos para suas campanhas de 1990 e 1994, cobrara propina de R$ 15 milhões do empresário Benjamin Steinbruch no processo de venda da Companhia Vale do Rio Doce.

"Carlinhos"
Mas o tucano não acredita na participação intencional do empresário Carlos Jereissati, que é irmão do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, um dos tucanos mais inconformados com a indicação presidencial de Serra. Ele já pegou caronas em aviões do irmão de Tasso, a quem só chama de "Carlinhos".
Serra avalia que tem problemas na área empresarial. Em algumas áreas, os problemas existiriam por acharem que ele é durão e capaz de enfrentar interesses como fez com laboratórios, planos de saúde e indústria de cigarros. Em outras, por acharem que ele representa uma mudança em relação à atual política econômica.
A campanha tucana avaliava ontem que a denúncia de "Veja" não abalará a posição do candidato. Será um bom teste para se medir a real oposição do PFL à sua candidatura -se a sigla aderir a uma CPI, por exemplo, estará claro que Serra não tem com ele a maioria silenciosa do partido, como julga a campanha.

Contabilidade
Serra passou boa parte da tarde de sábado passado, após gravar programas eleitorais para a TV, folheando um livro empoeirado. Era as anotações sobre a campanha de 1994 para o Senado, inclusive com dados sobre a contabilidade básica.
Ao final da leitura, nem sempre facilitada pela clareza na descrição de doadores, sentiu-se seguro para dar uma declaração dizendo ser "maluca" a acusação de que alguma doação feita à campanha eleitoral de 94 não fora registrada.
Nas contas de Serra, sua campanha para o Senado em 94 custou R$ 2 milhões no total. Doações nesse valor não são comuns em campanhas de senador.
Serra não admite que Ricardo Sérgio tenha recebido os R$ 2 milhões do empresário e repassado só R$ 95 mil para a campanha. Eles não se veriam há cerca de dois anos.



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