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INVESTIGAÇÃO
União pode vir a pagar R$ 66,4 milhões por imóvel na serra da Bocaina em que cabana é única benfeitoria
Juiz quer anulação de desapropriação de choupana
FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz Casem Mazloum, da 1ª
Vara Criminal Federal de São
Paulo, entende que a Justiça deve
anular o processo de desapropriação em que a União pode vir a pagar R$ 66,4 milhões por uma
choupana. "Todos os processos
em que o falso engenheiro [Antonio Carlos Suplicy" fez perícia devem ser anulados", diz Mazloum.
A Folha revelou ontem que a indenização na desapropriação de
um imóvel na serra da Bocaina
-em que uma cabana é a única
benfeitoria citada no processo-
foi baseada em laudo de Suplicy.
No ano passado, Suplicy foi condenado a três anos de prisão, por
uso continuado de diploma falso.
Em seu laudo, o falso engenheiro aumentou a área da propriedade em 100% e inflou o valor da terra nua e da cobertura vegetal.
"Só pelo fato de o sujeito se intitular engenheiro e seu diploma
ser falso já é motivo para anular
todas as perícias que ele fez em
processos", diz Mazloum.
A indenização no caso da choupana foi determinada pelo juiz federal Marcelo Mesquita Saraiva,
da 15ª Vara Federal, em 1997, e
mantida, em 1998, pelo Tribunal
Regional Federal, em julgamento
do qual Mazloum participou.
Juiz convocado do TRF, Mazloum acompanhou voto do relator, desembargador Paulo Theotonio Costa, que rejeitou requerimento de nulidade do laudo pericial de Suplicy apresentado pelo
Ministério Público Federal.
"Eu não tenho intuição feminina [sexto sentido] para saber de
antemão, em 1998, que ele [Suplicy] iria ser condenado ou que
seria descoberto que ele usava diploma falso", diz Mazloum.
O acórdão da 1ª Turma do TRF
é de 3 de novembro de 1998. No
dia 24 de agosto daquele ano, o
procurador regional da República
João Francisco Rocha da Silva tinha requerido ao relator (Theotonio Costa) a nulidade do processo
e a restituição dos honorários que
Suplicy havia recebido no caso.
Em apelação, o procurador Rocha da Silva informara ao desembargador-relator que Suplicy havia sido "denunciado e está sendo
processado" perante a 4ª Vara
Criminal por uso continuado de
diploma falso de engenheiro.
"Quando eu acompanhei o voto, não sabia que o perito usava
documento falso", disse Mazloum, ontem, em telefonema à
Folha. "Se ele foi denunciado, eu
não tive acesso aos autos, não tinha conhecimento", disse.
"Eu não me lembro do caso.
Sinceramente, não me lembro.
Foi logo quando cheguei no tribunal, em 1998. Eu não me lembro
de detalhe nenhum" declarou.
Mazloum diz que nunca nomeou Suplicy como perito. "Eu
jamais o vi na minha vida", disse.
No caso da choupana, Suplicy foi
designado em 1989 pelo desembargador Roberto Haddad, que
atuava como juiz de primeira instância, na 15ª Vara Federal.
Os desembargadores Theotonio
Costa (afastado do TRF-SP) e
Haddad -denunciados por falsificação de documentos públicos- são investigados pelo Superior Tribunal de Justiça por suspeita de enriquecimento ilícito.
"Eu entendo que os juízes que
nomearam esse perito também
foram vítimas, porque ele [Suplicy" apresentou diploma falso",
diz o juiz da 1ª Vara Criminal.
Mazloum diz que, ao determinar que os juros compensatórios
(12% ao ano) contassem a partir
de 1972, o juiz Saraiva estava sentenciando "com base em súmula
do STJ, jurisprudência pacífica".
"A demora no pagamento é que
acaba acarretando a elevação dessas indenizações a valores absurdos", diz Mazloum.
O pagamento da indenização
no caso da choupana foi suspenso
provisoriamente pelo desembargador Fábio Prieto, do TRF-SP,
em ação rescisória movida pelo
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis).
Herdeiros
A professora aposentada Maria
Ada Cherubini, filha mais velha
de Amélia Adélia Cherubini, que
em 1985 moveu a ação de desapropriação, não sabia que o valor
corrigido da indenização já chega
a R$ 66,4 milhões (ver entrevista).
Seu ex-marido, Osvaldo Arouca, procurado pessoalmente, não
concedeu entrevista. A Folhanão
conseguiu localizar ontem o advogado da família Cherubini, Luiz
Roberto de Arruda Sampaio.
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