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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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JANIO DE FREITAS

Outro esquecimento

As ameaças à vida do médico Sérgio Côrtes, por sua persistência na apuração de irregularidades em contratos do Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia, repõem em questão uma atitude do governo Lula que não serve à moralidade administrativa.
Evitar investigações de fatos ocorridos no governo passado é uma retribuição muito generosa às cordialidades da transição. Mas esse "esqueçam o que fizeram", além de manter a opacidade no lugar da transparência prometida, preserva esquemas de assalto aos escassos recursos públicos e impunidades que nenhum bom-mocismo governamental pode justificar.
O ministro dos Transportes, Anderson Adauto, nem teve tempo para assumir direito, antes que lhe caíssem em cima ataques de todos os lados, por iniciar sua gestão com o ato saudável de sustar concorrências e contratações suspeitas. Setores da própria Presidência também se apressaram em impor-lhe silêncio. E até hoje não se sabe como ficaram as tais concorrências e licitações, que seriam apenas o início da revisão em área tão desmoralizada como a dos Transportes.
Depois foi a notícia de irregularidades financeiras enormes no Incra. De sua investigação, porém, nada. Outra vez o silêncio.
Não há o que examinar nas tantas centenas de concessões de rádio e TV feitas pelo Ministério das Comunicações nos últimos anos do governo passado? Nem nas estatais, em especial na Petrobras, quanto à distribuição e intermediação das fortunas a título de patrocínio?
O ministro da Saúde, Humberto Costa, viajou ao Rio, ontem, para anunciar providências investigatórias em hospitais federais. O decidido diretor do Instituto de Traumato-Ortopedia não é nomeado do atual governo, vem do finalzinho do ano passado, e isso engrandece o que lhe é dado apoio. Mas, se as relações entre certos fornecedores e algumas administrações hospitalares há o que ser investigado, duas observações são necessárias.
Primeira, essas apurações não podem ser infladas, mencionando até administrações respeitadas como a anterior no Instituto do Câncer, para criar aparências de ação moralizadora do governo. O ministro da Saúde não precisaria ter viajado para o comunicado que fez, dando-lhe um sentido mais propagandístico do que efetivo.
Além disso, sejam quais forem as constatações no setor da Saúde, e por certo há muitas disponíveis fora dos hospitais, a cordialidade despropositada em outros setores continuará confundindo-se com proteção à opacidade e impunidade.

Previsão
O ministro Guido Mantega, do Planejamento, deseja ressaltar que a previsão do dólar a R$ 3,59 no final de 2004, por ele transmitida a jornalistas e aqui referida, não é uma estimativa pessoal sua. Figura, e a nota o mencionou, na Lei de Diretrizes Orçamentárias, entre outras estimativas de futuro.
Cá entre nós, estimativas que nunca se confirmam. No caso da tabela sobre o dólar, aliás, sua autoria é do Banco Central.

Mensagem
Em razão do registro crítico, feito aqui no domingo, do uso não autorizado de uma de minhas colunas, o senador Antonio Carlos Magalhães mandou um pedido de desculpas, acompanhado da explicação de que pediu a um intermediário (referido na mensagem) para providenciar a autorização. Como não obtivesse a resposta, supôs o texto liberado.
A consulta não chegou a ser feita, nem haveria motivo para liberação, por não ser texto referente a Antonio Carlos Magalhães e, em definitivo, porque seu uso fugiria à finalidade estritamente jornalística desta coluna.


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