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JANIO DE FREITAS
Outro esquecimento
As ameaças à vida do médico Sérgio Côrtes, por sua
persistência na apuração de irregularidades em contratos do
Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia, repõem em questão uma atitude do governo
Lula que não serve à moralidade administrativa.
Evitar investigações de fatos
ocorridos no governo passado é
uma retribuição muito generosa às cordialidades da transição. Mas esse "esqueçam o que
fizeram", além de manter a
opacidade no lugar da transparência prometida, preserva
esquemas de assalto aos escassos recursos públicos e impunidades que nenhum bom-mocismo governamental pode justificar.
O ministro dos Transportes,
Anderson Adauto, nem teve
tempo para assumir direito,
antes que lhe caíssem em cima
ataques de todos os lados, por
iniciar sua gestão com o ato
saudável de sustar concorrências e contratações suspeitas.
Setores da própria Presidência
também se apressaram em impor-lhe silêncio. E até hoje não
se sabe como ficaram as tais
concorrências e licitações, que
seriam apenas o início da revisão em área tão desmoralizada
como a dos Transportes.
Depois foi a notícia de irregularidades financeiras enormes
no Incra. De sua investigação,
porém, nada. Outra vez o silêncio.
Não há o que examinar nas
tantas centenas de concessões
de rádio e TV feitas pelo Ministério das Comunicações nos últimos anos do governo passado? Nem nas estatais, em especial na Petrobras, quanto à distribuição e intermediação das
fortunas a título de patrocínio?
O ministro da Saúde, Humberto Costa, viajou ao Rio, ontem, para anunciar providências investigatórias em hospitais federais. O decidido diretor
do Instituto de Traumato-Ortopedia não é nomeado do
atual governo, vem do finalzinho do ano passado, e isso engrandece o que lhe é dado apoio. Mas, se as relações entre
certos fornecedores e algumas
administrações hospitalares há
o que ser investigado, duas observações são necessárias.
Primeira, essas apurações
não podem ser infladas, mencionando até administrações
respeitadas como a anterior no
Instituto do Câncer, para criar
aparências de ação moralizadora do governo. O ministro da
Saúde não precisaria ter viajado para o comunicado que fez,
dando-lhe um sentido mais
propagandístico do que efetivo.
Além disso, sejam quais forem as constatações no setor da
Saúde, e por certo há muitas
disponíveis fora dos hospitais,
a cordialidade despropositada
em outros setores continuará
confundindo-se com proteção
à opacidade e impunidade.
Previsão
O ministro Guido Mantega,
do Planejamento, deseja ressaltar que a previsão do dólar a
R$ 3,59 no final de 2004, por ele
transmitida a jornalistas e
aqui referida, não é uma estimativa pessoal sua. Figura, e a
nota o mencionou, na Lei de
Diretrizes Orçamentárias, entre outras estimativas de futuro.
Cá entre nós, estimativas que
nunca se confirmam. No caso
da tabela sobre o dólar, aliás,
sua autoria é do Banco Central.
Mensagem
Em razão do registro crítico,
feito aqui no domingo, do uso
não autorizado de uma de minhas colunas, o senador Antonio Carlos Magalhães mandou
um pedido de desculpas, acompanhado da explicação de que
pediu a um intermediário (referido na mensagem) para providenciar a autorização. Como não obtivesse a resposta, supôs
o texto liberado.
A consulta não chegou a ser
feita, nem haveria motivo para
liberação, por não ser texto referente a Antonio Carlos Magalhães e, em definitivo, porque seu uso fugiria à finalidade
estritamente jornalística desta
coluna.
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